Neste final de época alta, o turismo britânico começa a dar sinais de retoma no Algarve, onde se abrem boas perspetivas para outubro e até meados de novembro para hotéis da região e sobretudo os campos de golfe, que estão em plena temporada.
“Estamos no caminho da recuperação. Depois destes 18 meses de desastre, começamos a ver os primeiros sinais positivos e o início de alguma retoma sentido em todos os campos de golfe do Algarve, e menos nos da região de Lisboa, embora não ainda aos níveis de 2019″, adianta Luís Correia da Silva, presidente da Confederação Nacional da Indústria de Golfe (CNIG).
“Os dados de reservas parecem apontar para uma retoma clara, temos bons indicadores para outubro e novembro, mas estamos num ciclo de entrada na época baixa”, nota João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), que refere ainda: “temos a expectativa de retomar o mais rápido possível o nível de procura que tínhamos na época baixa”.
A 4 de outubro, o Reino Unido irá avançar com um aliviar de regras de viagens e acabar com muitas das restrições que vigoravam com a covid-19, e que são determinantes para o regresso dos britânicos a Portugal.
O aumento de britânicos já se fez sentir de forma substancial no Algarve desde meados de setembro, quando arrancou a época de golfe, – um dos principais negócios turísticos do Algarve – e caiu no Reino Unido a obrigatoriedade de se fazerem quarentenas no regresso ao país.
A 4 de outubro, o Reino Unido irá avançar com um aliviar de regras de viagens e acabar com muitas das restrições que vigoravam desde a pandemia de covid-19, libertando os ingleses da obrigatoriedade de fazerem tantos testes nas viagens a Portugal.
GOLFE NO ALGARVE COM NÍVEIS DE PROCURA PRÓXIMOS DE UM ‘ANO NORMAL’
Desde a segunda quinzena de setembro, os 40 campos de golfe no Algarve têm tido ocupações altas do lado dos britânicos, coincidindo com a altura em que deixaram de ficar obrigados a quarentenas ao regressar.
“Agora, vemos novamente um número substancial de pessoas a querer jogar golfe no Algarve”, refere o presidente da confederação de golfe, referindo que “50% dos passageiros desembarcados no aeroporto de Faro na segunda quinzena de setembro vinham com a motivação de jogar golfe“.
“Em outubro, estamos a ter reservas praticamente todos os dias nos campos do Algarve e nos hotéis que estão nas suas proximidades”, destaca Luís Correia da Silva, também CEO da Dom Pedro Golfes.
Em setembro, outubro e até meados de novembro “há a perspetiva de ficarmos 20% a 30% abaixo de 2019, que foi um ano excecional para o golfe no Algarve, e também 20% a 30% acima do que conseguimos em 2020″, resume Correia da Silva.
“E não são só os ingleses que querem voltar, são também os irlandeses e jogadores de outros países europeus, como França, Holanda ou Alemanha”, frisa ainda o presidente da confederação, lembrando ser determinante aqui o peso dos britânicos, que representam mais de 70% das voltas realizadas nos campos do Algarve.
Além de britânicos, turistas de várias nacionalidades começam a acorrer ao Algarve em maior volume, à medida que diminuem as restrições. Foto D.R. Cypr24/Unsplash
“Há uma efetiva perspetiva de retoma nos campos do Algarve, e também sentimos retoma de procura e de reservas para março abril e maio, a próxima época de golfe, o que nos dá um sentimento positivo em relação ao que pode acontecer em 2022″, adianta Luís Correia da Silva. E frisa: não é “uma situação confirmada, não se sabe o que irá acontecer com a pandemia e as restrições de viagens, mas dá-nos expectativas bastante mais positivas do que tínhamos há meses atrás.
AUMENTO DE TURISTAS NÃO SE SENTE EM TODOS OS HOTÉIS E MUITOS PERMANECEM ENCERRADOS
Nos hotéis da região, o crescimento desde a segunda quinzena de outubro é notório. “Estamos no início da época de golfe, que é um período importante para o turismo do Algarve, e está a correr bem. Há muita procura além de britânicos, como também de alemães, holandeses ou finlandeses“, avança Elidérico Viegas, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).
Para outubro, “as reservas por enquanto estão a correr bem, mas podem não se concretizar na totalidade, as reservas hoje são diferentes do que costumavam ser no passado, e vivemos um pouco no fio da navalha”, ressalva o responsável.
“O golfe é importante, mas não é suficiente para garantir taxas de ocupação em todos os hotéis do Algarve, e há muitas unidades encerradas”, sublinha o presidente da associação hoteleira, lembrando: “vamos entrar na época baixa, que antes da pandemia já era deficitária”.
Hotéis associados ao golfe estão com as reservas em alta em outubro. Foto D.R.
“Vamos ter uma época baixa inferior ao que era antes da pandemia, mas melhor que no ano passado, em que não houve praticamente procura”, resume Elidérico Viegas.
TRANSPORTE AÉREO A RETOMAR NO AEROPORTO DE FARO
Para este aumento de que se verifica desde meados de setembro nos campos de golfe do Algarve, um fator crítico tem sido o retomar de rotas no aeroporto de Faro. “O que está a determinar o regresso dos golfistas é haver voos disponíveis”, salienta o presidente da confederação de golfe.
“Verificamos uma consolidação na ocupação das rotas aéreas, o que é muito importante neste fenómeno de procura britânica”, constata o presidente da Região de Turismo do Algarve, referindo haver nesta fase “um nível interessante de procura também de turistas de mercados francófonos, como França, Bélgica, Luxemburgo e Suíça, embora ainda longe do normal”.
“Em julho, agosto e setembro a taxa de ocupação dos aviões começou a ser mais próxima do que é sustentável para manter as rotas”, refere João Fernandes, frisando que a maior procura de britânicos desde 15 de setembro, a época alta do golfe “é um sinal duplamente importante, sendo também uma oportunidade para que as rotas se mantenham no aeroporto de Faro”.
As rotas no aeroporto de Faro têm vindo a consolidar as ocupações de forma crescente, segundo a Região de Turismo do Algarve. Foto D.R. Luís Forra
Dois eventos promissores no Algarve ajudam agora a antecipar perspetivas de procura alta: o Grande Prémio Moto GP, na primeira semana de novembro (este ano com público), e o torneio de golfe Portugal Masters que decorre em Vilamoura de 4 a 7 de novembro. “O Portugal Masters vai ser transmitido em direto nos canais da Sky, e muita gente vai querer jogar nos campos de Vilamoura”, avança o presidente da CNIG.
CERTIFICADO DE VACINA BRITÂNICO PASSARÁ A SER RECONHECIDO EM PORTUGAL
As regras emanadas pelo Reino Unido têm sido determinantes para o turismo externo no Algarve. Na próxima segunda-feira, o Governo britânico irá anunciar o fim oficial do sistema de semáforos que até aqui vigorava para decidir corredores aéreos (em que Portugal estava na lista âmbar), passando a ter apenas uma lista vermelha, de países para onde não é recomendado viajar.
Para poderem fazer viagens a Portugal, os ingleses têm estado sujeitos a três testes PCR, às suas próprias custas: um ‘pre-departure test’ antes de embarcarem para o destino, e um outro teste covid ‘pre-departure’ ao embarcarem no regresso ao Reino Unido, onde terão de fazer mais um teste dois dias após a chegada. Estas regras aplicam-se até a turistas vacinados, não sendo o certificado britânico até à data reconhecido em viagens no espaço União Europeia.
Com as alterações que se preparam a 4 de outubro, os ingleses deixarão de estar sujeitos a testes antes de embarcar, em Portugal ou no Reino Unido, tendo de fazer apenas um teste dois dias após o regresso ao país – mas também este deixará de ser PCR e passará a teste rápido, de antigénio, segundo indicações que o ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps, tem avançado em posts no Twitter.
“Passa-se de três testes apenas a um, o que é uma redução significativa para os turistas britânicos do ponto de vista burocrático e dos custos”, nota o presidente da Região de Turismo do Algarve, frisando ser também uma boa notícia (ainda não confirmada) que os ingleses possam substituir o PCR a fazer no segundo dia de chegada ao Reino Unido (que custa cerca de 100 libras, €117) por um teste rápido.
A principal chave é o certificado de vacinação britânico passar a ser reconhecido, o que já foi acautelado pelo Governo português – que emitiu um despacho a 30 de setembro, a última quinta-feira, determinando esta situação havendo condições de reciprocidade, ou seja, com o Reino Unido também reconhecer a validade dos certificados nacionais.
As restrições emitidas pelo Reino Unido têm sido determinantes para o fluxo de turistas estrangeiros no Algarve. Foto D.R. Luís Forra
Os turistas britânicos vacinados poderão deslocar-se mais livremente a Portugal a partir de 4 de outubro, “caso o Reino Unido reconheça a validade dos nossos processos de vacinação, como se espera”, resume João Fernandes, lembrando que países como Espanha, Turquia ou Croácia já removeram a obrigatoriedade de testes para os turistas britânicos vacinados.
ALGARVE PREVÊ RETOMA NA PÁSCOA DE 2022
“Até meados de novembro, a nossa perspetiva é caminhar no sentido de consolidar a retoma de procura no Algarve face ao que tínhamos no pré-pandemia”, destaca o presidente da Região de Turismo do Algarve.
“Em abril de 2022, com a Páscoa, esperamos já estar bem mais próximos de um ano normal, com as reservas a correr a bom ritmo na hotelaria. E se tudo correr bem, em 2023 atingiremos os níveis de 2019”, antecipa ainda João Fernandes, lembrando que o regresso dos turistas irá depender “da maior confiança das pessoas em viajar e na redução das restrições ao nível de viagens e de atividade nos destinos”.
O presidente da AHETA lembra que os turistas britânicos no Algarve estão este ano com quebras acumuladas de 82% face a 2019, e que houve uma descida de 70% nos passageiros desembarcados no aeroporto de Faro de janeiro a agosto, em relação ao ano pré-covid-19.
“Estamos satisfeitos com o aumento de procura neste período, mas é preciso ter consciência da realidade, e não ‘dourar a pílula'”, sustenta Elidérico Viegas. “Assistimos este ano a um aumento exponencial de procura interna em julho e agosto, ao contrário dos mercados externos, com a tendência das pessoas para fazerem férias nos seus países.”
“Estamos numa inversão de tendência, e numa situação em que o início da recuperação poderá ocorrer a partir da Páscoa do próximo ano, mas temos de estar conscientes que será gradual, e encarar que houve coisas que se alteraram com a pandemia”, acrescenta.
O presidente da AHETA lembra que “segundo estudos de mercado, apenas 40% dos ingleses que viajavam antes da pandemia têm tendência a viajar para o exterior, e os fluxos turísticos vão demorar três a quatro anos a recuperar os níveis de 2019”.
“Os canais de comercialização vão sofrer uma reestruturação profunda, porque muitos operadores estão falidos. No Algarve, 60% do negócio era feito por operadores turísticos tradicionais, e agora este peso é de apenas 15%”, sublinha.
“Toda a máquina do negócio turístico está em mudanças, vai haver reajustes ao nível dos canais de distribuição (teremos novas realidades, como plataformas digitais) e também muita oferta a sair do mercado”, explicita Elidérico Viegas.
Um dos desafios imediatos neste início de retoma é a falta de mão-de-obra qualificada. “A dificuldade agora é contratar pessoas para trabalhar nos campos de golfe, pois houve muita gente que se ausentou do Algarve”, salienta Luís Correia da Silva.
“A nossa principal preocupação é que se houver uma retoma consolidada não temos pessoas em volume para trabalhar e prestar os serviços que consideramos necessários”, conclui o presidente da CNIG, frisando que a disponibilidade de mão-de-obra é essencial para voltarem “a receber um número grande de turistas nos hotéis e nos campos de golfe do Algarve”.
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso