O segundo dia do Albufeira 21 Summit iniciou-se com as palavras do presidente do Município, José Carlos Rolo, que disse ter sido “extremamente útil o dia de ontem para aquilo que é o objetivo deste encontro, e que é o futuro. Interessa pouco falar de passado, o essencial é mesmo ouvir os contributos dos que lidam diretamente com as devidas matérias, no sentido de elaborarmos as melhores estratégias no âmbito do próximo Quadro Comunitário e do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência”.
O painel de arranque foi sobre Turismo, com João Fernandes, presidente da RTA a apresentar diversos dados sobre o setor: registou em 2019, 20,9 milhões de dormidas (29,8% do total em Portugal), representa 35,6% do número de camas em Portugal (empreendimentos turísticos), com uma estada média de 4 a 6 noites e os proveitos totais do ano antes da pandemia foi de 909,6 M€.
Na economia regional, o turismo significa 61%. João Fernandes apontou como orientações estratégicas três caminhos: controlar a pandemia (criar planos de contingência nas empresas em articulação com ARS – Algarve), ajudar as empresas e trabalhadores (o Algarve regista a taxa de desemprego mais elevado do país) e retomar as ligações aéreas e promover o destino.
No que se refere à retoma das ligações aéreas disse haver a necessidade de antecipar já este ano a contratualização com as principais companhias aéreas para o Algarve, estabelecer uma nova base da Easyjet e negociar com a Administração da TAP e Ministério da Administração Interna para reforço das ligações aéreas Faro-Lisboa, bem como as ligações ponto-a-ponto, Faro e cidades europeias. Este responsável considera que a retoma, “na melhor das hipóteses, só em 2023”.
Definiu como situações favoráveis no momento, o Plano de Vacinação europeu e britânico (menor risco e mais confiança), o Certificado Verde Digital na União Europeia, Reino Unido e IATA, a abertura de fronteiras/corredores aéreos (Espanha, RU, Irlanda), as poupanças das famílias nos países europeus, a vontade de desconfinar e consequente “consumo de revolta” e o trabalho à distância. Como fatores negativos, apontou o risco de novas vagas antes do verão e risco associado a novas estirpes, bem como o desemprego e falências. Como orientações estratégicas, assinalou a necessidade de diversificação de mercados, a diversificação por produto e enriquecimento de oferta, a diferenciação pela identidade, a aposta na sustentabilidade (ambiental, social e económica) e a inovação e transição digital.
João Fernandes considera que em matéria de produto, a oferta de sol e mar, golfe e turismo residencial encontram-se consolidados, encontrando-se em desenvolvimento o turismo náutico (que já está classificado com 5 âncoras), de Natureza e de Negócios, a par das ofertas complementares da Gastronomia e Vinhos, Touring, Turismo e Saúde, bem como os segmentos de Turismo de Cruzeiro, Desportivo, Turismo Acessível e Sénior e Autocaravanismo. Contudo este desenvolvimento depende do Planeamento da região, passa por três eixos: o Plano de Eficiência Hídrica do Algarve e, frisou, que para o efeito “há a necessidade de requalificar edifícios e espaços públicos”; o Observatório do Turismo Sustentável do Algarve (reconhecido pelo World Tourism Organization – UNWTO), pois “se ganhamos prémios é porque temos trabalho”; e pelo Projeto Região Inteligente Algarve.
“Há espaço para o Turismo crescer em Albufeira e ninguém duvide de que se foi a galinha dos ovos de ouro que nos tirou de uma crise anterior, será também o que nos vai tirar desta”, salientou ainda.
De seguida, a primeira mesa redonda, moderada por Délio Pescada, Chefe de Gabinete do presidente da Câmara Municipal de Albufeira, abordou a problemática do Turismo e teve como palestrantes Ricardo Clemente, vereador da Câmara Municipal de Albufeira, Vítor Vieira, Diretor dos Apartamentos do Parque e João Guerreiro, Diretor do Hotel Rocamar.
As principais questões debatidas passaram por saber acerca das perspetivas para Albufeira daqui a dez anos, a certificação Turística e o Turismo Sustentável, se o produto sol e mar está consolidado e quais os destinos de referência comparativamente a Albufeira. “As perspetivas são positivas a partir da segunda quinzena de maio e Junho, dependendo da decisão do Reino Unido em integrar o Algarve em Zona Verde a partir de 17 de maio”, defende João Guerreiro, no entanto diz estar preocupado com a possibilidade de haver um retrocesso devido ao aligeirar das medidas. Referiu como desafios “a necessidade de controlar o excesso de oferta e a urgência de a requalificar para podermos ser competitivos em relação aos nossos concorrentes”, tendo destacado que seria fundamental criar uma Escola de Hotelaria em Albufeira. De resto todos os oradores estiveram de acordo em relação a estes pontos.
Ricardo Clemente, por sua vez afirmou que temos um excelente produto, mas que “estamos a vendê-lo mal”, temos que valorizar o produto, quer em termos de preço quer da qualidade dos serviços prestados, justificou. Há que valorizar o Mar, trabalhar melhor os eventos em época baixa, em articulação com as unidades hoteleiras, fazer a reconversão de algumas unidades de alojamento para a área da Saúde e recuperar a identidade de Albufeira como fator diferenciador, frisando, ainda que “depender exclusivamente do Turismo é um problema para a economia”, como se viu com o problema da pandemia. A Certificação e o Turismo Sustentável é uma preocupação transversal à maior parte das unidades de Alojamento, referiu João Guerreiro, tendo falado dos problemas da seca e dos custos da água, da dessalinização e da utilização da energia solar e das lâmpadas de baixo consumo, com vista à redução de custos e como medida sustentável. Vítor Vieira, por sua vez realçou a necessidade de diversificar o produto, promovendo o Turismo de Natureza, sobretudo em época média/baixa, que é muito procurado por turistas holandeses e canadianos realçando, no entanto que “é o produto sol e mar que paga as contas”, pelo que não pode ser descurado.
O planeamento da atividade num prazo mais alargado mereceu consenso por parte de todos, tendo sido sublinhada a necessidade de fazer um Planeamento ao nível do Marketing e da Publicidade, nomeadamente as feiras, roadshows, workshops “com uma antecedência de cerca de seis anos”, de acordo com a opinião de João Guerreiro.
Seguiu-se o tema Hotelaria e Restauração, tendo José Leandro, decano do Turismo de Albufeira, feito a palestra inicial. Este empresário, natural de Paderne, tratou de referir que “temos que ter uma identidade para vender o que temos”. Lembrou o que foram as dificuldades nos anos 60 e de como a resiliência, mesmo sem uso dessa palavra, já acontecia, o que propiciou o crescimento do Turismo: as ruas esburacadas, a deficiente energia elétrica, as três horas para se poder fazer uma ligação telefónica, a falta de água e demais situações, mas “no final da estada, partiam com pena e depois regressavam trazendo amigos e vizinhos”. “Aqui reside o paradoxo com o qual o turismo em Albufeira cresceu”, apontou José Leandro. Lembrou o desenvolvimento do turismo como indústria, numa altura em que não havia regras, “o que até permitiu o aceleramento desse desenvolvimento. Hoje, a convergência de opiniões é cada vez menor e há regras a mais. É preciso haver mais convergência e que este Summit não seja só retórica. Estamos numa pandemia, que relevou a fragilidade humana e a dos setores e nunca se falou tanto em resiliência. Só espero que os balões de oxigénio, cheguem enquanto estamos vivos. Para o futuro, o que falta? Entendermo-nos”.
José Leandro lembrou que antes da Covid-19 o Algarve “estava a viver uma outra pandemia, a do tudo incluído”. Esta modalidade de oferta, lembrou, nasceu por razões de segurança, nas caraíbas e era preciso colocar arame farpado nos resorts. “O Algarve não pode fazer isso, ou é o eucalipto que nasce e mata tudo o que está à volta.”
Com moderação de Rogério Neto, vereador da Câmara Municipal, Cristóvão Lopes, empresário e delegado da AHRESP, notou ser difícil olhar para o futuro quando “temos um problema com o presente, que é o de uma grande incerteza. E embora possa ser motivo de oportunidade, temos que lembra que na restauração, 30% dos negócios não vão voltar a abrir, perdendo-se um know-how valiosíssimo, o de bem receber”.
Rui Justo, diretor do Balaia Golfe Village e representante da APAL, é de opinião de que “para voltar a conquistar os mercados, a segurança e a confiança é fundamental para o que se avizinha”, referindo-se às “politicas Clean & Safe, certificado verde digital” e lançou o desafio de se olhar melhor as questões ambientais e culturais “para reconquistar os mercados”, traduzindo-se numa “oportunidade para o Turismo ganhar um novo caminho, com muita resiliência”.
Carlos Oliveira, diretor geral da Vagatur Lda, apontou a necessidade de haver em Albufeira centros de desporto de alto rendimento ao ar livre, valorizar o núcleo histórico e requalificar a avenida Sá Carneiro e notou que face ao “envelhecimento dos nossos clientes” existem condições para as suas férias e “eles não querem ficar fechados nos hotéis. As praias têm que estar abertas, temos que ter ciclovias, cultura e vida ativa. Temos que melhorar as unidades hoteleiras com Spa’s, salas de atividades e outros, e a Câmara tem que ajudar nisso, não inviabilizando os projetos para esse efeito”. Rui Justo lembrou que o setor registou “quebras de 90%” e que “muitas unidades não vão abrir. As pessoas gostam do Algarve e do turismo residencial, não só pelo clima, mas pela nossa amabilidade. Temos que continuar a apostar no turismo residencial”.
À pergunta sobre o turismo de massas, Cristóvão Lopes é de opinião que os “empresários têm que ser responsáveis por aquilo que atraem”, havendo a necessidade de “aumentar os custos-contexto, ou seja, as zonas premium têm que ser premium para lá estar”.
O POSTAL é Media Partner do Albufeira 21 Summit.