As tropas russas nomearam um novo autarca da cidade ocupada de Melitopol um dia após as autoridades ucranianas terem denunciado o rapto do autarca eleito, Ivan Fedorov, por um grupo militar da Rússia.
“Em Melitopol, os ocupantes nomearam o seu ‘presidente da câmara’. É uma deputada da oposição do conselho municipal, Galina Danilchenko”, informou hoje a administração regional de Zaporizhzhia, à qual a cidade pertence.
Na televisão local, controlada pelas tropas russas, Danilchenko disse que a sua “tarefa principal” era devolver a cidade à “normalidade”.
Kiev já disse à autarca para se lembrar do destino de Nelly Shtepa, que em 2014 foi nomeada presidente da câmara da cidade de Slovyansk na autoproclamada República de Donetsk e mais tarde detida pelas autoridades ucranianas.
Enquanto o paradeiro do Presidente da Câmara Ivan Fedorov permanece desconhecido, aproximadamente 2.000 residentes da cidade foram às ruas no sábado para pedir a sua libertação.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou também aos líderes de França e Alemanha, Emmanuel Macron e Olaf Scholz, para pressionarem o Presidente russo, Vladimir Putin, a libertar o presidente da Câmara “imediatamente”.
Melitopol encontra-se atualmente sob ocupação pelas forças russas. Fedorov, segundo a agência de notícias ucraniana UNIAN, tinha-se recusado a cooperar com os russos, mantendo a bandeira ucraniana na Câmara Municipal da cidade.
O caso do autarca raptado
Artigo de Germano Almeida, comentador SIC
Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós:
1 – RUSSOS RAPTAM AUTARCA EM MELITOPOL E COLOCAM OUTRO
Um novo presidente da Câmara foi instalado em Melitopol, que está sob controle militar russo, depois do autarca eleito ter sido raptado na sexta-feira. O autarca de Melitopol, Ivan Fedorov, foi visto em vídeo a ser levado para longe de um prédio do governo na cidade por homens armados.
Pouco tempo depois, o promotor regional de Luhansk, apoiado pela Rússia, alegou que Fedorov havia cometido crimes de terrorismo e estava sob investigação. Fedorov está a ser acusado de ajudar e financiar atividades terroristas e fazer parte de uma comunidade criminosa.
A detenção de Fedorov é o primeiro caso conhecido de um oficial político ucraniano sendo detido por forças russas, ou apoiadas pela Rússia, desde o início da invasão. Zelensky exigiu sua libertação imediata, dizendo que era “crime contra a democracia” e a Rússia “mudou para um novo estágio de terror” em sua invasão ao “tentar eliminar fisicamente representantes das autoridades ucranianas locais legítimas”.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia chamou a detenção de Fedorov de “sequestro” e “crime de guerra”.
2 — INTENSIFICA-SE O CERCO A KIEV
Somam-se os sinais de que as tropas russas, cada vez mais concentradas nos arredores da cidade, estejam a preparar um ataque de larga escala à capital ucraniana. A Rússia estará a apostar tudo em cercar Kiev para conseguir dessa forma penetrar na cidade, como fez noutras cidades estratégicas já tomadas.
A sul de Kiev, em Vasylkiv, uma base aérea militar ucraniana foi atingida esta manhã por 8 mísseis russos: um depósito de combustível foi totalmente destruído e um depósito de munições ficou em chamas. Em Chernihiv, a norte, os bombardeamentos também têm sido sucessivos. A cidade está sem abastecimento de água e não há eletricidade em vários locais.
A sul, o porto de Mykolaiv, entre Kherson e Odessa, foi também alvo de bombardeamentos e foi atingido um hospital oncológico. Os relatórios iniciais indiciam que o edifício não foi seriamente danificado. Dnipro, no Leste, foi bombardeada pela primeira vez. O ataque destruiu uma fábrica e áreas residenciais. revela uma viragem na ofensiva militar russa, que começa a expandir-se cada vez mais.
Em Kharkiv, que apesar da intensidade dos ataques se mantém sob domínio das forças ucranianas, a maior parte da população que permaneceu na cidade está a viver em abrigos sobrelotados. As autoridades ucranianas acusam Moscovo de atingir civis de forma deliberada.
3 – NATO FAZ ENORME EXERCÍCIO PERTO DA FRONTEIRA RUSSA
A NATO anunciou que vai enviar tropas para a Noruega na segunda-feira, dia 14 de março, naquele que será o maior exercício militar da organização este ano. Jens Stoltenberg deu a indicação para que cerca de 30.000 soldados, 200 aeronaves e 50 embarcações de 27 nações participem no exercício Cold Response 2022.
Segundo a NATO, as manobras vão permitir que as nações ocidentais desenvolvam as suas habilidades de combate no clima frio da Noruega, inclusive no Ártico, em terra, no mar e nos céus. O exercício será realizado a algumas centenas de quilómetros da fronteira russa e, ainda que estivesse previsto acontecer antes da invasão da Ucrânia por Moscovo, ganha hoje novo significado.
4 – MAIS UM GENERAL RUSSO MORTO
Um terceiro major-general russo foi morto nos combates na Ucrânia, disseram autoridades ocidentais. As forças armadas da Ucrânia avançaram que se trata do general Andriy Kolesnikov. Kolesnikov era o comandante do 29º Exército de Armas Combinadas da Rússia.
A inteligência ocidental estima que cerca de 20 grandes generais terão já sido capturados ou mortos na invasão da Ucrânia, o que implica uma taxa de baixas relativamente alta durante a invasão de duas semanas.
O que é que isto significa? Pode querer dizer que as tropas russas na linha de frente são incapazes de tomar decisões por conta própria, não têm consciência da situação ou estão com medo de avançar.
5 – PUTIN VS META
Se a Guerra do Vietname foi a primeira em que imagens televisivas foram relevantes para o desfecho; se a Primeira Guerra do Golfo (1991) a primeira guerra em direto, com Peter Arnett “live from Bagdad”; e se a Segunda Guerra do Golfo (2003) foi a primeira com repórteres “embedded”, integrados em pelotões americanos e britânicos, esta invasão russa da Ucrânia está a ser a primeira guerra das redes sociais, do 5G e do líder do país invadido, Zelensky, a reagir em “livestream”.
A Rússia de Putin tem a maior máquina de propaganda e contra-informação da História, maior que a de Hitler. Putin colocou, nos últimos anos, Trump na Casa Branca, instigou os britânicos a saírem da UE, não sabendo bem o que estavam a votar, para colocar Marine Le Pen, na segunda volta das presidenciais francesas.
É neste contexto que devemos olhar para os últimos desenvolvimentos da “guerra” entre a Meta e Putin. Putin sabe que uma guerra aos “big tech” e às grandes plataformas social media isola ainda mais a opinião pública russa do que se passa no Ocidente, mas também sabe que esta agressividade tem ganhos em nichos desses países, juntos dos negacionistas, dos extremistas e dos contestatários.
Sabe que isso colhe e tem efeitos – vejamos comportamentos como o dos “coletes amarelos” em França, os “antivaxx” da pandemia ou o ataque ao Capitólio nos EUA. A Rússia consegue influenciar setores das opiniões públicas dos países ocidentais, mesmo nesta escalada de isolamento.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL