As Ruínas Romanas de Milreu estão classificadas como Monumento Nacional desde 1910. Situadas no concelho de Faro e junto da vila de Estoi, têm aptidão para serem dinamizadas junto da comunidade. É que um sítio arqueológico pode envolver a aprendizagem em torno de várias disciplinas de forma criativa e dinâmica.
Esta abordagem tem vindo a ser explorada através da colaboração com várias associações e entidades regionais desde 2015, através de um pequeno e eficaz financiamento da DRC Algarve – o DiVaM.
Os principais beneficiados deste programa são os alunos da Escola de Estoi. A vontade e a vitalidade das Professoras Cidália Teixeira, Conceição Graça, Isabel Trindade e a proximidade física da Escola ao Monumento (o seu percurso é a pé, dispensando a reserva de autocarros escolares do município) foram indispensáveis a esta frutuosa colaboração.
A exploração dos provérbios, por exemplo, desenvolve a reflexão em torno de temas, como o meio ambiente, as relações entre pessoas e gerações, a justiça e a moral. Os provérbios foram o mote para contar histórias com sombras chinesas, com materiais reutilizados, com marionetas, com representações de grupo, sempre com a presença da música. Manifestações vivas da experiência das comunidades, os provérbios viajam, tendo Fernão de Magalhães conduzido os alunos numa viagem em diferentes línguas e até Tavira. Ali, participaram no Congresso Internacional de Paremiologia, conviveram com os especialistas, no simpático hotel Vila Galé, tendo como anfitriões os Doutores Rui e Marinela Soares.
Milreu recebeu também uma autêntica invasão de cientistas da Universidade do Algarve, que mostraram o quanto se pode ensinar, brincando nas ruínas arqueológicas! Desde aprender como se vivia sem frigorífico na época romana, identificar as espécies de peixes da costa algarvia, o uso das plantas na saúde, estética ou bem-estar, tomar refeições nos confortáveis triclinia, explorar a caligrafia romana, as rochas do Algarve, as técnicas de construção e medição no mundo romano, e até um marco miliário levaram para casa. Sem esquecer os simpáticos campus ludi à sombra da amendoeira, onde os mais pequenos brincavam “à romana”. Tudo foi dinamizado pela fantástica equipa do Centro de Ciência Viva do Algarve.
Os utentes da ASMAL também usufruíram deste espaço, expondo as suas experiências artísticas em pintura, tapeçaria e barro, de exploração do património cultural algarvio, acarinhados pelas vozes do grupo “Cleftomania”, ou cozinhando e saboreando receitas da Antiguidade.
O grupo de teatro da Escola Pinheiro e Rosa realçou a vocação cénica de Milreu, tendo sido recriadas interessantes peças, cujos temas cruzam a antiguidade clássica com a actualidade, através da dedicada orientação dos Professores Ana Oliveira e António Gambóias.
Em Milreu, ouviram-se maravilhosos concertos de abertura e encerramento do ano letivo (com a Academia de Música de Lagos), contaram-se belíssimas e divertidas histórias, modelaram-se peças de barro, fizeram-se os dias de Arqueologia para todos, as oficinas de cinema e leitura (com o Cineclube de Faro) e também o ciclo de conferências “Amatores in Situ” (associação Civis, com UAlg e Associação Portuguesa de Estudos Clássicos).
Muito mais há para contar sobre esta aventura de divulgar Milreu. Este artigo surgiu a propósito de uma reflexão sobre o trabalho desenvolvido, suscitando a recordação de todos os que têm acarinhado este monumento (por isso foi acrescentado “I” ao título).
Finalmente Milreu vê a sua equipa reforçada (de 4 para 6 elementos), originando um novo desafio: reforçar os laços criados com entidades e associações, acolher projetos inovadores e pôr em prática com as escolas um programa de atividades e oficinas pedagógicas. Um óptimo 2020 para todos!
Cristina Tété Garcia,
(Coordenadora das Ruínas Romanas de Milreu – DRC Algarve)
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de março)