Com uma imagem de marca que marcou indelevelmente a cena musical portuguesa contemporânea, The Legendary Tigerman aka (also known as) Paulo Furtado é hoje um nome incontornável da actualidade.
É este artista singular que se apresentou no Teatro Municipal de Portimão (TEMPO), no passado fim-de-semana, num concerto que pretendeu mostrar “True”, o seu último disco.
Não se trata de uma obra nova, antes a incursão deste disco de The Legendary Tigerman por salas maiores do país, num périplo que se segue às apresentações do músico durante os festivais de Verão e um pouco por todo o mundo.
Paulo Furtado prometeu, na entrevista que concedeu ao Cultura.Sul, e cumpriu, “um concerto de rockn’roll e uma entrega a 200%”.
Na sala maior de Portimão apresentou “um set que tem mudado um pouco todas as noites, mas que é uma espécie de viagem por todos os discos, até chegar ao “True””.
Já não temos, por ora, um puro one man band em palco, mas um The Legendary Tigerman diverso, em partilha de criação e de palco.
The Legendary Tigerman é muito mais do que uma marcante imagem camaleónica, é uma paleta de sonoridades entre os blues e o rockn’roll sempre pronta a surpreender. Desta feita apresentou-se por terras do Arade, a dar o melhor de si para o público algarvio.
Cultura.Sul (C.S) – Em “True” que ‘verdade’ é que se mostra ao público?
The Legendary Tigerman (TLT) – No início era um “statement” que tinha a ver com o meu percurso, com uma procura de verdade e amor por aquilo que faço. Mais tarde compreendi que era também um recado para mim mesmo, que tinha que estar atento para não me desviar do meu caminho.
C.S – Classificou “True” como um disco “mais negro, mas não desesperançado”. Este ‘mais negro’ a que se refere expressa-se como? Na comparação com trabalhos anteriores?
TLT – Tem a ver com alguns momentos mais pesados, quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista social, creio, que vivi… Mas talvez isso estivesse mais na minha cabeça, acho que no fundo o disco não é assim tão negro… Tem muito rockn’roll e momentos bastante bonitos.
C.S – E onde mora a esperança?
TLT – A esperança reside na obra em si, e aonde ela me leva. Consegui construir mais um disco, exactamente como queria, com arranjos tão bonitos da Rita Redshoes, do Filipe Melo e do João Cabrita, e ele chegou a tantas pessoas em todo o mundo e durante o ano passado consegui mostrá-lo em vários continentes para pessoas que sorriam muito no final dos concertos. Tenho sido muito afortunado.
C.S – Afasta-se em “True” da ideia de solitário polifónico associada ao ‘one man band’, recorrendo à participação de outros artistas em palco. A escolha assenta na abertura de novos horizontes para a música de The Legendary Tigerman ou numa escapadela ao percurso solitário para um regresso, mais tarde, ao formato que o destacou na cena musical portuguesa?
TLT – Acho que com o “True”, de certa forma esgotei, neste momento, o meu interesse no formato one man band puro. Creio que neste momento tenho espaço para explorar outros formatos, e creio que será isso que vou fazer, para já.
C.S – A parceria com outros músicos serve antes de mais a sonoridade dos temas ou uma necessidade criativa?
TLT – Creio que um pouco de tudo, no que diz respeito aos arranjos do disco e mais tarde na apresentação ao vivo… é uma liberdade incrível poder escolher se toco sozinho, se toco em trio ou em quarteto, e vestir as canções de maneiras diferentes conforme essas escolhas.
C.S – Depois de uma tournée pela Europa por outros continentes, “True” apresenta-se agora a Portugal, novamente, mas em salas de espectáculos e fora do circuito dos concertos de Verão, há diferenças nesta ‘nova vida’ dos espectáculos decorrentes do disco?
TLT – Sim, como dizia antes, os espetáculos desta tour estão a ser feitos em formato trio, o que nos permite ter uma grande liberdade de improvisação e ter um concerto diferente todas as noites. Provavelmente farei outras opções para os festivais de Verão e outros concertos ao ar livre.
C.S – Como classifica ou sente a reacção dos diferentes públicos estrangeiros a quem apresentou “True”?
TLT – Foi incrível, em todo o lado. É inacreditável o que aconteceu este ano passado, com tanta gente nos concertos, Do México a Macau, a tour no Brasil, a volta aos palcos de França e concertos esgotados em Londres. E sentir que as pessoas estão ali pela música, fundamentalmente, e saiem dos concertos a sorrir, é muito bom.
C.S – Quem já o viu em palco apercebe-se de uma espécie de ‘presença fora do tempo’ Como se estivesse num outro estado paralelo a ouvir música formidável. Há um êxtase solitário com o que se apresenta em palco?
TLT – Não sei, há realmente algo de mágico no palco e na relação que se constrói durante um concerto, algo que não é totalmente explicável, e raramente é similar. Não há nada melhor do que sentir essa união com o público, sentir que se levou as pessoas a outros sítios durante esse tempo que temos juntos.
C.S – Há um lado menos conhecido do Paulo Furtado na criação de bandas sonoras para cinema e de música para teatro. Como é que estabelece a comparação entre este trabalho e a versão mais notória e pública de The Legendary Tigerman?
TLT – É um trabalho muito interessante, ter a música ao serviço de uma coisa maior, ter essa desfoque numa coisa que normalmente é o centro das atenções. Felizmente tenho feito cada vez mais, e cada vez mais se torna interessante para mim. E há uma capacidade que a música tem de ampliar a visão e os pensamentos dos outros, é surpreendente.
C.S – Como é que antecipa o futuro próximo enquanto The Legendary Tigerman, o que se segue nesta saga quase solitária?
TLT – Para já, muitos concertos, um pouco por todo o mundo, mais uma banda sonora para cinema em co-autoria com Rita Redshoes e dois projectos para teatro no final do ano, vai ser um ano pouco solitário, curiosamente.