Agora que estamos em tempo de recolha e introspecção, poderá ser um bom momento para refletirmos acerca da nossa atividade fotográfica, libertos da ansiedade de ir a correr fotografar, aproveitar a oportunidade, fazer mais uma sessão, editar, editar, editar.
Claro que temos mais tempo para visualizar e editar aquelas fotos que, há meses, esperam no fundo do disco rígido pela nossa atenção. Mas a minha mensagem é mesmo de reflexão.
Analisemos o nosso trabalho. Será que o que até aqui fizemos é mesmo tudo o que gostaríamos de ter feito? Não gostaríamos de ter variado e inovado mais? De buscar novos olhares? Novas leituras? Novas áreas para fotografar? Às vezes ficamos “hipnotizados” pelos equipamentos que temos, pelos que queremos adquirir ou pelas constantes novidades. Será mesmo importante termos mais pixels nas nossas câmaras? Termos uma lente um pouco mais luminosa? Termos mais “milhentas” funções, das quais só utilizamos 10% e muitas delas nem sequer sabemos que existem? Não seremos nós o mais importante, criando, imaginando, alterando o ângulo de visão, inventando alternativa para o flash ou o spot que não temos, improvisando, utilizando a luz natural a nosso favor? Percebendo que na fotografia nós somos mais importantes que a tecnologia, a nossa visão pessoal, a nossa capacidade de inovar, criar, de construir utilizando apenas o equipamento como meio para atingir um fim?
Na fotografia, como na vida, são os momentos menos bons que nos dão o tempo para pensar mais claramente e a oportunidade para mudarmos para melhor.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de maio)