A tartaruga-de-couro, de nome Quinas, resgatada no passado dia 20 de junho, na Meia Praia em Lagos, está a ser reabilitada no Porto D’Abrigo – Centro de Reabilitação do Zoomarine e apresenta melhorias significativas.
A tartaruga já se alimenta regularmente e vai ser devolvida ao mar nos próximos dias.
Segundo Élio Vicente, biólogo do Zoomarine, “foi lançada há alguns dias uma plataforma online que não é gerida pelo Zoomarine, mas sim por três pessoas que vivem em Lisboa, para fazer uma recolha de fundos para patrocinar a oferta ao Zoomarine, ao Quinas, de um aparelho de satélite para fazer o acompanhamento dele quando voltar ao mar”.
“O grupo destas três pessoas estava cá no Algarve precisamente dois dias depois do Quinas ter chegado, viram o animal, ficaram sensibilizados e fizeram essa proposta ao Zoomarine, que obviamente colaborou com eles”, explica.
O responsável recorda que “em 2009 já fizemos um projeto do género com três tartarugas que mandámos ao mar, que se chamava “Operação Regresso Adiado”.
As pessoas vão poder acompanhar o percurso do animal
Através desta tecnologia, “as pessoas podem acompanhar online o percurso do animal, pois são criados mapas interativos em tempo real”, sendo que “sabemos exatamente onde é que o animal está, a que velocidade nadou, a que profundidade mergulhou, se está a nadar a favor ou contra a corrente, a temperatura à superfície e dos sítios onde ele mergulha, etc”, explica o biólogo.
A campanha chama-se “Mãos ao Mar, vamos acompanhar o Quinas na viagem da sua vida”.
Élio Vicente explica ainda que neste momento “estamos a negociar um navio que possa fazer o transporte da tartaruga de volta para o mar, pois existe a necessidade de uma grua”.
O responsável sublinha que “se tudo correr bem, o Quinas será devolvido ao mar dentro de poucos dias”.
O biólogo do Zoomarine disse ainda ao POSTAL que “a situação com a tartaruga poderia ter sido dramática. Ela estava presa, a afogar-se e felizmente não faleceu”.
A tartaruga-de-couro ficou presa em cabos, o que lhe provocou alguns ferimentos na zona do pescoço, barbatanas, entre outros locais. “Esses ferimentos poderiam mesmo infetar e levar ao desenvolvimento de algumas infeções graves e até mesmo à septicemia, que pode matar”, acrescenta o biólogo.
“Estes animais não têm carapaças como é o tradicional das tartarugas que conhecemos, que têm aquelas escamas, aquelas placas térmicas, que funcionam como uma carapaça que os protege”, explica.
A tartaruga-de-couro é a maior espécie de tartaruga que existe e os tratadores e cuidadores do Zoomarine fizeram os possíveis para salvá-la.
O animal foi desinfetado diariamen- te e acompanhado por profissionais durante cerca de quatro semanas no Zoomarine. Uma das preocupações iniciais era o facto de o Quinas não se alimentar. Os biólogos e técnicos do Porto d’Abrigo pediram ajuda aos pescadores para encontrarem medusas vivas, uma vez que o animal estava a recusar alimento congelado.
“Os animais selvagens desta espécie comem alimento vivo e no caso da tartaruga-de-couro mais de 90% do seu alimento são medusas vivas”.
Após vários esforços e muita dedicação, o objetivo do Zoomarine foi alcançado: a tartaruga Quinas já se alimenta regularmente, apresenta melhorias gerais no estado de saúde e vai ser devolvida ao mar já nos próximos dias.
O que faz o Porto d’Abrigo do Zoomarine?
O Porto d’Abrigo do Zoomarine foi inaugurado em 2002 e é o primeiro Centro de Reabilitação de Espécies Marinhas em Portugal.
Élio Vicente diz que “nenhum animal que tenha entrado nas nossas instalações para reabilitação fica connosco”.
O responsável salienta que há três situações distintas. “Existem casos em que o animal vem para o Centro de Reabilitação e não sobrevive”.
Depois, “existem outras situações em que o animal é resgatado, é salvo e é reabilitado no Porto d’Abrigo do Zoomarine e volta para o meio selvagem quando já está pronto”.
No final do processo, o Zoomarine vai levá-los. “Já levámos animais a países como a Inglaterra, Escócia, Holanda e Estados Unidos”.
Por fim, existem situações em que não é possível devolver o animal ao habitat natural, porque, por exemplo, ficou paralisado, ficou cego ou porque veio muito bebé e não tem uma mãe ou pai para o integrar num grupo social novamente. Nesses casos o Estado português não autoriza o seu regresso ao selvagem.
Quando isso acontece “é o Estado português que define o destino a dar a esse animal que nunca passa pelo Zoomarine”.
O responsável salienta ainda que “quem ajuda o Zoomarine a manter o Centro de Reabilitação e todas as despesas que são inerentes são os visitantes”, pois “quem compra um bilhete para entrar no Zoomarine está a contribuir diretamente para os esforços de conservação da natureza, nomeadamente o Centro de Reabilitação”.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)