O projecto Straw Patrol nasceu oficialmente em Janeiro de 2016 por Carla Lourenço, uma bióloga marinha que estava a terminar a sua tese de doutoramento na Universidade do Algarve. A ideia surgiu depois da estudante ter visualizado um vídeo na internet que mostrava uma tartaruga com uma palhinha presa no nariz. Desde essa data, a Straw Patrol já realizou mais de 90 palestras de sensibilização de poluição marinha e dezenas de acções de limpezas de praias.
A fundadora do projecto explica ao POSTAL como tudo acontece. “Nós actuamos segundo três pilares: educar, reduzir e proteger. Parte da educação passa por palestras que nós damos nas escolas, gratuitas. A parte do reduzir tem a ver com levar as pessoas a reduzir o consumo de plástico e à redução do plástico que está disponível nos ambientes marinhos. E o proteger está relacionado com a protecção directa dos ecossistemas aquáticos através de limpezas de praia, que tentamos sempre fazer pelo menos uma vez por mês”.
O objectivo inicial de Carla Lourenço era o de acabar com a venda de palhinhas no seu meio académico, ou seja, na Universidade do Algarve. Contudo, cedo apercebeu-se que para isso ser possível teria de criar um projecto que fosse reconhecido e que tivesse impacto na comunidade. Surge assim a Straw Patrol.
Das palestras às limpezas de praia
Carla começou por dar palestras a escolas do Algarve, consciencializando os alunos para o plástico existente nas praias e o perigo que este resulta para a fauna e flora marinha. A ela juntaram-se mais cinco pessoas, fazendo o projecto alcançar escolas e praias de Famalicão, e da margem Sul de Lisboa.
Segundo a criadora do projecto, o principal objectivo da Straw Patrol “é educar, mas é também evidentemente o de reduzir o consumo de plástico, porque só com um oceano saudável é que nós somos saudáveis. E ao estimar-se que em 2050 vai haver mais peso plástico que peso de peixe no oceano é um número assustador”.
E é com o desejo que essa previsão não ocorra que a Straw Patrol tem vindo a trabalhar. De acordo com Carla Lourenço, desde Janeiro de 2016 que o projecto já retirou das praias portuguesas mais de 40 mil artigos de lixo, sendo que 40% eram de plástico. Acções de limpeza que já envolveram mais de 1.100 voluntários. A maior parte delas realizou-se no dia 27 de Maio pelo Algarve inteiro, foi a chamada “Run Algarve Coast sem Lixo”. A ideia era fazer uma caminhada, ou corrida para os mais atléticos, pela costa algarvia, enquanto ao mesmo tempo se ia recolhendo o lixo. Esta foi uma iniciativa que esteve presente em inúmeras praias por todo o Algarve: Arrifana, Ferragudo, Faro, Quarteira, Albufeira, Cacela Velha, Santa Luzia, Monte Gordo e Altura, entre outras.
Para além das palestras e das limpezas de praias que a Straw Patrol tem vindo a organizar, o “Movimento Sem Palhinha” é outra das acções que tem vindo a dar frutos um pouco por todo o Algarve. O Movimento passa por mostrar tanto nas redes sociais, como em cartazes, que o uso de palhinhas é prejudicial ao oceano, uma vez que estes pequenos objectos de plástico estão no top 10 dos mais encontrados no mar e nas praias algarvias. Para além disso, a Straw Patrol tem ainda o cuidado de colocar cartazes em todos os estabelecimentos que eliminaram o uso das palhinhas, de maneira a informar os clientes que se trata de um espaço amigo do Ambiente.
Falando em números concretos, Carla Lourenço refere que não os conseguiu ainda obter, contudo, informa-nos de um número que ela própria estimou. “Fui a um estabelecimento na baixa de Faro perguntar quantas palhinhas já tinham sido entregues naquele dia. A rapariga disse- -me que a estimativa era entre 150 a 200 palhinhas. Isto num só dia, num só estabelecimento. Agora, basta sabermos quantos estabelecimentos há no Algarve e multiplicar por esse número. E é um número que nem sequer é certo, porque há bares de praia que dão muito mais ou estabelecimentos que estão abertos a noite toda”.
Straw Patrol conseguiu eliminar as palhinhas na UAlg
Apesar de o número ser assustador, nem tudo são más notícias. A Straw Patrol conseguiu uma grande mudança para a região, como explica a fundadora do projecto: “enquanto eu estudava na UAlg, a professora Alexandra Teodósio, investigadora que trabalhava com a questão do plástico, juntou-se a nós nas limpezas de praias.
Mais tarde, essa mesma professora tornou-se vice-reitora da academia. Foi assim que implementou diversas mudanças nos campus, nos bares e nas cantinas: tiraram as palhinhas e reduziram os descartáveis. Foi uma mudança muito importante e tanto quanto sei a UAlg é pioneira na eliminação das palhinhas. Não há mais nenhuma universidade a combater os plásticos e os descartáveis desta forma. Achei que foi um feito muito grande. Eles criaram até um grupo dentro da UAlg e todo esse trabalho teve um pouco de ligação com a Straw Patrol. Eu tinha tentado isso em 2015, e vê-lo realizado agora foi uma felicidade muito grande. A UAlg devia ser tomada como exemplo pelas outras Universidades”
O trabalho da Straw Patrol já foi inclusivamente reconhecido, quando em 2017 Carla Lourenço recebeu a Menção Especial do Prémio Terre de Femmes Portugal. Esta é uma distinção que premeia as mulheres que estão envolvidas na proteção do Ambiente.
Questionada sobre o futuro, a bióloga afirma que pretende “continuar a educar e a mudar mentalidades. Nós sabemos que, de certa forma, fazemos a diferença através da comunicação, do diálogo. Queremos fazer a ponte entre a ciência e os não cientistas e, desta maneira, contribuir para um oceano mais limpo, mais saudável”.
(Maria Simiris / Henrique Dias Freire)