A TAP está a enfrentar, desde o dia 1 e durante dez dias, a greve dos pilotos que muita tinta tem feito correr sobre o equilíbrio entre o direito à greve dos trabalhadores e a proporcionalidade no uso deste instrumento de protesto por parte dos pilotos da companhia aérea de bandeira.
Certo é que o secretário de Estado da tutela, Sérgio Monteiro, já anunciou prejuízos directos na TAP de dez milhões de euros nos primeiros três dias de greve, estimando que os custos totais para os dez dias de protesto possam causar à companhia aérea mais de 30 milhões de euros. Isto apesar de, até ao momento, a TAP ter conseguido assegurar cerca de 70% dos voos programados para o período.
Hotelaria reduz previsão de prejuízos
Já a hotelaria, através da Associação da Hotelaria de Portugal, em declarações à imprensa, baixou o valor dos prejuízos para o sector decorrentes da greve para os 300 milhões de euros. Um valor ainda assim muito assinalável na entrada da época alta de turismo e num país onde este sector tem uma importância preponderante.
“Impacto económico residual”
No Algarve, Desidério Silva, presidente da Região de Turismo, afirmou ao POSTAL que “o impacto económico da greve da TAP é residual, uma vez que a companhia apenas voa para Faro a partir de aeroportos nacionais, sendo o turismo principalmente garantido ao nível de entradas por outras companhias aéreas”.
Certo é que este “impacto residual” directo não deve ignorar o impacto indirecto de uma greve largamente conhecida pelos operadores de viagens e turistas nos principais países de origem do turismo algarvio. A imagem do país e da região por associação como tendo dificuldades nos voos assegurados pela sua principal companhia aérea podem ter efeitos difíceis de contabilizar no que toca a reservas.
ACRAL preocupada com efeitos indirectos na região
Victor Guerreiro, presidente da associação empresarial regional ACRAL, sublinha que “a greve na TAP é no mínimo irresponsável, não só pelo prejuízo que afectará a companhia aérea, mas também em termos de imagem da empresa e do país”.
O responsável associativo diz que o protesto gerará “um prejuízo incalculável para a economia nacional, que será infinitamente superior ao prejuízo estimado para a TAP”, reforçando que “na região do Algarve, esta greve irá criar problemas à economia, às empresas e aos trabalhadores, muito para além do que seria admissível”.
“Na nossa região, onde existe a possibilidade da economia equilibrar as contas no Verão, através do turismo, é francamente preocupante, mais esta situação”, conclui.
Mangas do aeroporto paralisadas
Entretanto, mantêm-se paralisadas, pelo menos até ao próximo dia 18, as mangas telescópicas que facilitam o acesso de passageiros aos aviões no Aeroporto de Faro através de uma acostagem aos aparelhos que permite a ligação directa entre o terminal e o avião.
O recente despedimento de 12 funcionários da Portway levou à paralisação deste meio de acesso directo aos aviões, tornando os embarques e desembarques menos cómodos e mais demorados para os turistas que utilizam o Aeroporto Internacional de Faro.
Esta é uma situação que Desidério Silva vê com “preocupação”, uma vez que “fica reduzida a qualidade do serviço prestado e dá uma má imagem do aeroporto que serve a região”.
Para o responsável pelo turismo regional, “esta é uma matéria que deverá ser resolvida no mais curto espaço de tempo, respeitando os direitos dos trabalhadores eventualmente lesados, e que passa pela intervenção do Estado enquanto entidade reguladora do sector, que deve garantir a qualidade e eficiência dos serviços aeroportuários na principal região turística do país”.
O Postal apurou entretanto que os problemas na área de handling, gestão de passageiros e serviços de bagagem, do Aeroporto de Faro não se ficam só pelas mangas telescópicas, com as dificuldades dos serviços a atingirem outras áreas do handling como o serviço MyWay, responsável pela assistência a passageiros com capacidades de locomoção diminuídas, também garantido pela Portway.
A questão não é exclusiva do Aeroporto de Faro, afectando outros aeroportos nacionais com os trabalhadores a protestarem pelo excesso de trabalho e por condições contratuais e de aplicação da lei laboral deficientes.
Ao que o Postal apurou, junto de fonte ligada à questão e que preferiu o anonimato, há trabalhadores que estão a intentar acções judiciais contra a Portway e obter vencimento nos tribunais, nomeadamente em outros aeroportos do continente.