Desde jovem que me entretenho a pensar no Tempo.
Às vezes é mais sobre o tempo da meteorologia que nos afecta diariamente e nos obriga, ou não, a carregar um guarda-chuva e que este ano nos dá uma previsão de poder ser verão até ao Natal.
Outras é mais sobre a irreversibilidade do Tempo, que parecendo um lugar-comum, afinal
é uma discussão que persiste entre filósofos e físicos, desde há milénios.
Se a experiência empírica nos prova todos os dias que o tempo flui num sentido bem definido numa manifestação dramática que é o envelhecimento biológico, podemos até ousar afirmar que probabilidade de rejuvenescer anda próxima, senão igual, a zero.
Mas as teorias fundamenais da Física dos últimos 100 anos colocam o passado e o futuro numa situação simétrica. O tempo, em Física, é actualmente visto como uma sucessão de fenómenos, como num vídeo, que ocorrem tanto com o vídeo reproduzido para a frente, mas que também ocorrem com o vídeo reproduzido para trás.
É muito fácil dizer a diferença entre um vídeo reproduzido para frente ou para trás. Um vídeo pode retratar um fogo de lenha que derrete um bloco de gelo próximo. Passado ao contrário, mostraria que uma poça de água transformou uma nuvem de fumaça em madeira não queimada e congelou no processo. Surpreendentemente, em ambos os casos, a grande maioria das leis da física não é quebrada por esses processos; uma exceção notável é a Segunda Lei da Termodinâmica.
A Segunda Lei da Termodinâmica permite que a entropia – a medida de desordem de um sistema – permaneça a mesma, independentemente da direcção do tempo. Se a entropia é constante em qualquer direção do tempo, não haveria direção preferida. No entanto, a entropia só pode ser uma constante se o sistema estiver no mais alto estado de desordem possível, como um gás que sempre esteve e sempre estará distribuído uniformemente no seu contentor. A existência de uma seta termodinâmica do tempo implica que o sistema é altamente ordenado apenas numa direção de tempo, o que seria, por definição, o “passado”.
Este tema na Física que estuda a seta do tempo chama-se Tempo Entrópico.
A seta do tempo entrópico expressa o facto de que no mundo ao nosso redor o passado é distintamente diferente do futuro. Nós sempre ficamos mais velhos, nunca mais jovens. Os ovos partem-se e é difícil voltarem ao estado original. Todos esses processos que se movem numa direção no tempo são chamados de “tempo irreversível” e definem a seta do tempo. É, portanto, muito surpreendente que as leis fundamentais relevantes da natureza não façam tal distinção entre o passado e o futuro. Isso, por sua vez, leva a um grande quebra-cabeça – se as leis da natureza, que as leis da física pretendem representar, permitirem que todos os processos sejam executados de volta no tempo, por que não os observamos a fazê-lo? Por que um vídeo de “t-shirt molhada” passado ao contrário parece ridículo? Dito de outra forma: como podem os movimentos reversíveis no tempo de átomos e moléculas, os componentes microscópicos dos sistemas materiais, dar origem ao comportamento irreversível observado no tempo de nosso mundo quotidiano? É um tema apaixonante e onde ainda não há uma explicação que crie consenso entre físicos e filósofos.
Tim Blais é um comunicador de ciência do qual eu gosto particularmente, um jovem que recentemente obteve o grau de mestre em Física teórica, que hoje é youtuber com uma contribuição invulgarmente criativa e surpreendentemente dotada na divulgação de conteúdo científico de ponta. Dedicou um dos seus trabalhos à explicação do Tempo Entrópico.
O autor deu-se ao trabalho de escrever uma nova letra para uma canção conhecida de Billy Joel, e cantá-la à capela, ou seja, sem o auxílio de nenhum instrumento musical. Porque o tema era o Tempo Entrópico decidiu cantá-la de trás para a frente, filmar e depois montar o filme ao contrário. É uma verdadeira obra de arte que vos aconselho a visualizar, não só o vídeo, mas também o seu “making of”.
Também vale a pena ver o Making of deste VÍDEO.
Não podendo terminar esta crónica sem uma menção quanto ao papel do tempo na sexualidade humana, de tanto que há para dizer, hoje apetece-me só citar Howard Wolowitz, um personagem da série televisiva The Big Bang Theory, que está a repassar durante as tardes deste verão no Canal AXN White. Normalmente, nada que Howard diz no que diz respeito a relacionamentos, sexualidade ou sedução, vale a pena citar, para além de serem normalmente piadas hilariantes. A excepção que confirma a regra apareceu no episódio 21 da temporada 6.
O contexto é o seguinte: Howard solicitado por um urgente pedido de conselho do seu amigo Raj, muito atrapalhado perante a expectativa de uma primeira visita da sua nova namorada para um jantar em sua casa, responde, muito (des)propositadamente, mas cheio de pertinência: “Qualquer que seja o tempo que estejas a pensar para os preliminares, triplica-o”.
Bom conselho, Howard! 😃
“However long you think
the foreplay should be, triple it!”