Os pescadores do Algarve mostraram-se esta quinta-feira preocupados com as condições de segurança de entrada das suas embarcações nos portos da região, aguardando com ansiedade o início das dragagens prometidas, que já deviam ter começado em 2023.
A agência Lusa falou com representantes de várias associações de pescadores ao longo da costa algarvia e todos manifestaram a sua preocupação, queixando-se da falta de dragagem na entrada para os portos que, em alguns casos, obriga os seus associados a ter de esperar pela maré-alta.
“As dragagens ainda não foram iniciadas, e ao longo da costa as condições de segurança agravam-se, sendo os casos mais graves a situação nas barras de Tavira e da Fuseta”, disse à Lusa o presidente da Organização de Produtores de Pesca do Algarve (Olhão Pesca), Alberto Miguel Cardoso.
O Governo aprovou em agosto de 2023 uma verba de 6,9 milhões de euros para a dragagem e manutenção de portos do Algarve, a executar entre 2023 e 2026, autorizando a Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) a realizar essa despesa.
O dirigente da Olhão Pesca, que agrupa armadores de 184 embarcações, mostrou-se preocupado com os “problemas de navegabilidade e segurança”, recordando que, até há cerca de 30 anos, o antigo Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos tinha uma draga a trabalhar permanentemente, todo o ano, no desassoreamento dos canais de navegação do Algarve.
Financiamento para dragagens insuficiente
“A manutenção era constante e isso acabou. Devíamos regressar aos métodos do passado e a administração que faz a gestão das barras ter a capacidade de dragar quando bem entendesse”, disse, considerando que os 6,9 milhões de euros aprovados pelo Governo “não chegam nem para dragar duas barras”.
A resolução aprovada em Conselho de Ministros em agosto passado indica os portos de pesca e de náutica de recreio da região que devem merecer atenção: Baleeira (Vila do Bispo), Lagos, Alvor (Portimão), o porto de pesca, estaleiros e área de Ferragudo (Lagoa), Albufeira, Vilamoura e Quarteira (Loulé), Faro – com exceção da área do porto comercial e canal de acesso -, Olhão, Fuseta (Olhão), Tavira e os canais de Santa Luzia e Cabanas (Tavira).
Sónia Olim, da Associação de Armadores de Pesca da Fuseta concorda que “devia haver uma draga a trabalhar continuamente”, recordando-se também da máquina que “fazia todos os canais” e que agora está parada em Vila Real de Santo António.
“Não adianta nada haver uma dragagem pontual, porque passados alguns anos voltamos a ter o mesmo problema”, disse aquela responsável, acrescentando que “quando a maré está baixa, os barcos não podem entrar nem sair [da barra da Fuseta] e ficam mesmo em seco no canal” em que se abrigam.
A Associação de Armadores de Pesca da Fuseta, vila piscatória do concelho de Olhão, no distrito de Faro, tem cerca de 90 armadores de pesca artesanal com embarcações entre seis e 14 metros de comprimento.
O sistema lagunar da Ria Formosa, que se estende entre os concelhos de Loulé e Vila Real de Santo, no sotavento (leste) algarvio, com areias em permanente movimentação, coloca problemas particulares.
Já no barlavento (oeste) as costas são mais rochosas, mas a extensa Meia Praia, mesmo ao lado de Lagos, é responsável pelo assoreamento da barra desta cidade.
“As alterações climáticas e com o aumento do vento de sueste [vindo do norte de África], passado quatro ou cinco meses, a areia da Meia Praia volta a dar problemas na barra, impedindo muitos barcos de ir descarregar na lota a qualquer hora”, relatou Fábio Mateus, da Cooperativa dos Armadores de Pesca do Barlavento (Barlapescas).
Este armador assegurou que a dragagem “não resolve o problema” e que, neste caso, seria melhor “estender o comprimento dos molhos de entrada em Lagos”.
O Conselho de Ministros estabeleceu que eram atribuídas verbas de aproximadamente 60 mil euros para 2023, de 2 milhões de euros para 2024, de 2,5 milhões para 2025 e de 2,3 milhões para 2026.
Segundo o Governo, a realização de dragagens de manutenção que assegurem a navegabilidade nos portos de pesca e de náutica de recreio é “da maior relevância” para garantir as condições de acesso a esses portos e a segurança das embarcações e dos tripulantes.
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