A intrusão salina está a comprometer a reutilização de água tratada da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Vila Real de Santo António, uma das medidas para enfrentar a seca no Algarve, disse à Lusa fonte oficial.
O Algarve está em alerta devido à seca e os planos de eficiência hídrica incluem o recurso a Água para Reutilização (ApR) proveniente da ETAR de Vila Real de Santo António para regar dois campos de golfe em Castro Marim, mas a salinidade nas águas residuais provenientes das redes dos dois municípios está a dificultar este objetivo, reconheceu fonte da Águas do Algarve.
Segundo a mesma fonte, estão a ser feitos trabalhos de diagnóstico pelas entidades gestoras das redes de abastecimento de ambos municípios do distrito de Faro e os resultados obtidos já revelaram que, “em algumas situações, existe entrada de água salgada nos sistemas de drenagem da rede em baixa”, tanto em Castro Marim como em Vila Real de Santo António.
“Face à concentração de salinidade nas águas residuais e, consequentemente, no efluente tratado e na ApR (refira-se que a salinidade não é removida nas ETAR), apenas é possível aos campos de golfe de Castro Marim reutilizarem cerca de 30% do que estava previsto”, quantificou a Águas do Algarve.
Sobre a reutilização de água, a empresa esclareceu que, no total, estava previsto que os dois campos de golfe de Castro Marim pudessem reutilizar, no mínimo, cerca de 0,6 hectómetros cúbicos (hm3) por ano, podendo ascender a cerca de 0,87 hm3 por ano em condições extremas.
As entidades gestoras das redes em baixa dos dois municípios do leste algarvio, a Câmara de Castro Marim e a empresa Águas de Vila Real de Santo António, estão a realizar trabalhos, com recurso a tecnologia e câmaras de vídeo, para identificar pontos da rede onde há intrusão salina e serem “delineadas intervenções para correção” dos problemas detetados.
“Esta situação é particularmente relevante para a ETAR de Vila Real de Santo António, dado que a presença de salinidade elevada no efluente e, consequentemente, na ApR, condiciona fortemente o seu uso para rega, neste caso dos dois campos de golfe de Castro Marim”, justificou a empresa responsável pelo fornecimento de água em alta aos 16 municípios do Algarve.
Sobre as obras e intervenções necessárias para não chegar água salgada à ETAR e os prazos para a sua realização, a empresa indicou que, “só após a execução dos diagnósticos, que se estima possam estar concluídos no primeiro semestre” deste ano, é que serão conhecidos os dados que permitam definir as intervenções e os respetivos orçamentos”.
“A resolução deste problema cabe, em primeira mão, às entidades gestoras das redes em baixa, mas a Águas do Algarve disponibiliza-se, de diversas formas, para apoiar e participar neste processo”, acrescentou, reconhecendo que o problema da intrusão salina nas redes de drenagem ocorre noutras zonas do Algarve, como Tavira, Olhão, Faro, Portimão e Lagos.
A Lusa questionou as entidades gestoras do abastecimento de água nos dois concelhos situados na margem do Rio Guadiana, mas só a de Castro Marim respondeu, através da vice-presidente da Câmara, Filomena Sintra, que disse já ter sido identificado “um conjunto de pontos, com patologias diferentes, e com intervenções que também vão ter de ser diferentes”.
“O que se segue é a elaboração de um caderno de encargos para fazer uma intervenção para criar a estanquidade necessária”, antecipou, acrescentando que a Águas do Algarve vai colaborar em termos de procedimentos de contratação pública e de elaboração do caderno de encargos.
Questionada sobre o investimento necessário, Filomena Sintra respondeu que, “à partida, estão 500.000 euros previstos” para Castro Marim intervir nesta área, ao abrigo dos mecanismos da resolução do Conselho de Ministros que decretou o alerta por seca no Algarve, mas será necessário esperar pela conclusão dos trabalhos de diagnóstico para saber se são suficientes.
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