O Sindicato Independente dos Médicos afirmou hoje que a saída de médicos do Serviço Nacional de Saúde é uma tendência que se tem acentuado nos últimos cinco anos, estando prevista a reforma 3.200 médico nos próximos três anos.
O Público avança na edição de hoje que desde o início da pandemia de covid-19 em Portugal, em março, até outubro, o Serviço Nacional de Saúde perdeu 842 médicos, entre especialistas e internos.
“São dados do Portal da Transparência do SNS que revelam a dimensão deste saldo negativo numa altura em que as necessidades de médicos dispararam por causa da pandemia. Apesar de se explicar em grande parte pelo elevado número de aposentações registado neste período, a diminuição não se justifica apenas pelas saídas por reforma”, pode ler-se no jornal.
Contactado pela Lusa, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, adiantou que nos próximos três anos está prevista a reforma de cerca de 1.500 médicos de família e cerca de 1.700 médicos hospitalares.
Por outro lado, tem-se assistido, por várias razões, nos últimos três anos, a concursos de recrutamento dos recém-especialistas em que mais de um terço das vagas disponíveis ficam abertas.
Roque da Cunha apontou ainda que os médicos portugueses são “altamente requeridos, altamente respeitados, dada a sua formação e a sua qualidade, por governos estrangeiros, nomeadamente de países nórdicos, da Alemanha, da Inglaterra, que os vêm contratar”.
Ao mesmo tempo, observou também que se assistiu nos últimos anos “ao proliferar de uma iniciativa privada que cada vez mais exige médicos em permanência e não prestadores de serviço”.
Segundo Roque da Cunha, o Ministério conhece estes fatores e “tem dados perfeitamente identificados”, mas “tem tido uma atitude meramente de espetador”.
“Não tem tido uma atitude de proatividade no sentido de mitigar esta matéria porque estamos a juntar aqui a circunstância de o poder de compra dos médicos ter diminuído cerca de 30%” e de terem direito a ter os seus filhos, a acompanhá-los, a ter as suas férias.
Além disso, “os médicos têm 40 horas no seu horário e já despenderam cerca de seis milhões de horas extraordinárias até agosto deste ano”, uma circunstância que igualou o valor de 2019.
“Todas estas circunstâncias em 2019 eram perfeitamente conhecidas e muitos dos serviços do Serviço Nacional de Saúde já estavam no limite dada a falta de investimento”, vincou.
Em 2020, aconteceram “duas coisas terríveis”, a primeira foi a pandemia e a segunda foi “uma atitude do Governo de não se preocupar, desvalorizar, dizer que estava tudo controlado em relação a esta matéria”.
“Portanto, isto não é uma situação pontual, é uma tendência que já se tem verificado nos últimos anos e também está prevista nos próximos nos próximos anos”, reiterou.
Apesar de o Ministério da Saúde dizer que “contratou milhares de médicos”, Roque da Cunha disse que “os factos têm muitíssimo mais força do que a realidade”.
“Como é evidente numa situação da pandemia, onde os médicos estão sujeitos a um trabalho ainda maior, uma pressão ainda maior, a uma necessidade de horas ainda maiores, infetam-se e ficam doentes e, portanto, as fragilidades do sistema estão muito mais evidentes”, sustentou.
Para inverter esta situação, defendeu é necessário melhorar as condições de trabalho, investindo nos equipamentos, nas instalações.
Por outro lado, o facto de não existirem concursos de progressão tem limitado ainda mais a capacidade dos serviços., disse, exemplificando que nos últimos 10 anos se reformaram dois mil médicos diferenciados e que foram repostos cerca de 400.
Segundo dados do SIM, 130 médicos aposentados foram contratados para o SNS entre março e outubro deste ano, por um período inicial de quatro meses.
A ministra da Saúde anunciou em setembro a abertura de concursos para a contratação de 950 novos médicos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).