Nos anos 60, os nossos vizinhos espanhóis apelidaram carinhosamente o Renault 4 de “Quatro Latas”. Não devido à sua semelhança com uma lata, mas sim pela sua leveza e pela designação 4L. Hoje, este veículo é quase um clássico, mas muitas das latas de alumínio que vemos nas ruas e estradas partilham a mesma designação, não por serem leves, mas pela sua omnipresença.
Em Portugal, anualmente, são recolhidas toneladas de latas de refrigerantes. Este processo resulta em milhares de quilos de alumínio que são reciclados e reintroduzidos na cadeia produtiva. Infelizmente, nem sempre essa reciclagem ocorre de forma ideal. “Os contentores de reciclagem são um dos maiores resíduos da nossa natureza”, alerta um dos últimos relatórios da Naturaliza.
Apesar destes desafios, as latas de bebidas possuem uma das taxas de reciclagem mais elevadas a nível mundial. Na Europa, essa taxa é de 76,5%.
Jon Barrenetxea-Arando, diretor da Fundação Inatec, esclarece: “Muitas das latas acabam por ser utilizadas no fabrico de novos veículos.” No entanto, a sua utilização não se limita aos automóveis. Estas latas transformam-se em aros de bicicletas, formam cadeiras e até se convertem em panelas de pressão para cozinhar um bom guisado, como escreve a Marketeer.
As latas de bebidas tornaram-se um elemento comum nos lares modernos. A sua utilização é frequente, substituindo o vidro que outrora dominava o mercado das bebidas. Esta mudança não é por acaso: a sustentabilidade do alumínio tem um papel crucial.
“O alumínio é um dos metais mais caros de obter, tanto em termos económicos como energéticos, pelo que a sua reciclagem permite poupar muita energia”, explica um especialista da Ecoembes, uma organização ambiental espanhola que promove a sustentabilidade e a reciclagem. Dados da indústria revelam que a reciclagem de latas pode reduzir o consumo de água em 70% e o consumo de energia em 95%, em comparação com a produção a partir de novas matérias-primas. “O alumínio é um material que pode ser reciclado continuamente sem qualquer perda de propriedades mecânicas ou outras”, acrescenta o especialista.
Para que isso aconteça, as latas devem ser depositadas em um dos 388.747 contentores amarelos espalhados pelas cidades, recolhidas por camiões e levadas para instalações de triagem. Após um processo de separação e limpeza, as latas são compactadas em fardos, que podem pesar mais de 1.000 kg e conter mais de 65.000 unidades. Estes fardos são então levados para fornos de fusão a 700ºC. Depois de fundidas, são produzidos enormes lingotes de alumínio, que são enrolados em grandes bobinas e reintroduzidos no mercado. “Em apenas dois meses, uma lata está de novo nas prateleiras dos supermercados”, afirmam fontes da indústria.
O Segredo Está no Design e no Peso
À medida que a popularidade das latas de refrigerante crescia, o seu peso começou a diminuir. Nas últimas décadas, o peso das latas reduziu-se em 30%. “Atualmente, uma lata pesa seis vezes menos do que as que foram usadas pela primeira vez nos anos 50, sem perder força”, explica Carlota Crespo, diretora de sustentabilidade da Associação de Refrigerantes de Espanha.
Das estruturas rígidas do início dos anos 70, estes recipientes evoluíram para formatos mais leves e eficientes. “Passámos de um design de três peças (base, cilindro e tampa) para a atual forma de duas peças (corpo e tampa), o que reduziu consideravelmente o peso dos artigos. Fizemos um grande esforço de inovação e eco-design para criar embalagens mais sustentáveis e circulares”, sublinha Carlota Crespo.
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