Para a Associação de Empresários de Animação Nocturna de Faro (ANFARO), “esta é uma necessidade que existe há muito tempo e que se tem tornado nos últimos anos um problema mais notório”. Ao POSTAL Gabriel Ventura, um dos empresários com estabelecimento na zona há vários anos, afirma que “o problema tem várias dimensões, desde logo relacionadas com a qualidade da oferta que se faz aos clientes dos estabelecimentos de diversão nocturna, sejam eles da cidade ou turistas, mas também, de forma indirecta com a capacidade de atrair investimento privado para esta zona que se consolidou ao longo dos anos como a zona de diversão nocturna por excelência da cidade”.
Gabriel Ventura realça que “repetidas vezes os empresários têm feito sentir à autarquia a necessidade de olhar para este conjunto urbano com uma visão estratégica” que permita “criar condições para valorizar os investimentos feitos pelos empresários e para novos investimentos, gerando simultaneamente uma qualidade urbanística e condições de segurança que permitam desenvolver esta área da cidade”.
A autarquia, garantiu ao POSTAL o presidente da Câmara Rogério Bacalhau, “não está desatenta” face a esta realidade. O autarca reconhece que “os privados têm reforçado o investimento nesta zona da cidade e trabalhado, em parte dos casos, no sentido de melhorar as condições em que os seus estabelecimentos prestam serviços a farenses e a turistas”.
Uma zona com problemas identificados há décadas
A conhecida zona dos bares da cidade, que abrange as ruas Conselheiro Bívar, do Prior, Capitão Mor, do Compromisso e de São Pedro, bem como as Travessas de São Pedro, dos Arcos e das Cocheiras, além do Largo da Madalena, está integrada na Área de Reabilitação Urbana (ARU) do Bairro Ribeirinho de Faro.
Desde meados da década de oitenta que esta ARU – limitada pelas ruas Filipe Alistão e Serpa Pinto (a nascente), Avenida República (a Poente), Rua Francisco Barreto (a norte) e Rua 1º de Maio (a Sul) – está sob estudo e que a sua reabilitação é desejada quer pela autarquia, quer pelos privados mas, salvo intervenções episódicas, as obras têm sido de reduzida monta.
Após a intervenção de fundo feita há anos na Rua Conselheiro Bívar (segmento inicial), que a transformou numa rua pedonal, apenas uma intervenção mais recente na Rua do Prior ao nível do nivelamento da calçada original e algumas melhorias do sistema de iluminação foram realizadas. Muito pouco trabalho para tantos anos de estudos.
Os problemas são muitos e de difícil solução, nomeadamente porque a área está inserida no casco histórico do centro da cidade e inclui ainda muitos edifícios com valor patrimonial. As obras e investimentos naquela zona necessitam de cumprir requisitos que salvaguardem o património edificado e evitem erros já cometidos em intervenções mais antigas no edificado que não tiveram os melhores efeitos.
Privados cumprem regras de urbanismo nos investimentos, mas não são acompanhados pelo investimento público
Certo é que, apesar das exigências ao nível das intervenções nos edifícios serem rígidas, os privados têm nos investimentos que fazem nos seus negócios cumprido as exigências camarárias.
Em investimentos mais ou menos recentes são vários os exemplos bem sucedidos de investimento privado na zona que salvaguardam o edificado e o seu valor, melhoram as condições de manutenção e recuperação dos edifícios e devolvem dignidade ao conjunto de edifícios da zona.
E não são apenas bares e discotecas, a zona oferece hoje um panorama de investimento privado bem mais diversificado. São hostels, comércio, restauração, e sim, bares e outros investimentos na área da diversão nocturna e mesmo de privados ao nível residencial, que têm sucessivamente e, em particular nos últimos anos, devolvido dignidade ao conjunto de edifícios desta ARU.
Quanto ao investimento público, nomeadamente camarário, a resposta adequada a estes investimento tem sido muito escassa, para não dizer praticamente inexistente.
As ruas continuam com calçadas desniveladas e intransitáveis – em particular para senhoras de salto alto -, o escoamento de águas pluviais é manifestamente deficiente durante o inverno, a iluminação é ainda uma questão problemática em muitas áreas e a intervenção da autarquia ao nível da exigência de manutenção dos edifícios em pior estado de conservação ineficaz.
Assim a oferta de diversão nocturna e de restauração e alojamento, bem como a comercial, da zona vê as condições urbanas estarem manifestamente desadequadas face ao que deveriam ser e face ao que os privados investem criando vida na cidade, gerando riqueza e postos de trabalho.
O futuro
O presidente da Câmara demonstrou-se ao POSTAL conhecedor da situação e da falta de investimento público, bem como da necessidade do mesmo ser uma realidade para se dar qualidade à cidade e a esta zona que está em franco desenvolvimento.
Mas ainda não é desta que, por exemplo, o programa municipal Faro Requalifica, que avança em breve para a sua segunda fase, vai abranger a zona. “Não estão previstas intervenções de relevo no Faro Requalifica II para aquela zona”, refere o autarca, esclarecendo que “o Faro Requaliffica teve de dar resposta àqueles que eram os problemas mais agudos da rede viária do concelho, seleccionando criteriosamente o investimento a ser realizado tendo em vista assegurar, antes de mais, a viabilidade dos eixos rodoviários fundamentais do concelho e da cidade”.
“Depois de um período em que o investimento na rede viária esteve afastado das possibilidades de acção da Câmara devido à contingência orçamental, definir prioridades foi o que fizemos”, diz Rogério Bacalhau, “estamos neste capítulo a caminho de muito melhores condições do que tínhamos e não conseguimos chegar a todas as necessidades”, lamenta.
“A autarquia está a criar condições para que exista um plano integrado de intervenção ao nível das áreas de reabilitação urbana da cidade, identificando situações de maior urgência e de maior necessidade na capacidade de resposta do investimento público para acompanhar o esforço de investimento reprodutivo dos privados”.
“Temos de acompanhar os empresários no seu esforço em prol da economia da cidade e estamos a preparar as condições para o fazer”, refere o autarca que realça que no âmbito do PARU – Plano de Acção para a Reabilitação Urbana, “a autarquia através da candidatura que apresentou ao CRESC Algarve 2020, pretende começar a dar resposta a estas necessidades”.
São cerca de 20 milhões de euros, dos quais dois milhões de investimento público, que se pretende possam ser o início de um trabalho profundo de melhoria das condições urbanas do centro da cidade.
O autarca realça por exemplo que “no que toca à Rua do Prior – com uma calçada que constitui um verdadeiro desafio para os transeuntes – o trabalho terá de passar por uma intervenção de requalificação profunda já que a base de implantação da rua e a própria calçada já não oferecem condições para a sua optimização para os níveis de qualidade urbanística que hoje são padrão”.
“Não podemos efectivamente fazer tudo ao mesmo tempo, mas não ignoramos os problemas e as questões da zona e estamos a trabalhar com afinco para conseguirmos soluções que ultrapassem estas questões, reunido fundos da autarquia e dos quadros de apoio do Estado para que se possam dar condições urbanísticas adequadas àqueles que investem na cidade”, remata o presidente da autarquia.