Na região do Algarve, além das praias e do sol radiante, emerge uma narrativa literária que revela um Algarve menos conhecido, mas igualmente fascinante. A Rota Literária do Algarve, lançada em 2022, conduz os visitantes por itinerários que entrelaçam a paisagem com as palavras, desvendando histórias e memórias que muitas vezes escapam ao olhar apressado do turista. Este artigo partilha a informação disponibilizada pela reportagem exclusiva da autoria do Público.
Caldas de Monchique: Um Refúgio Literário nas Montanhas
O Público teve a oportunidade de explorar o itinerário dedicado a Caldas de Monchique, uma pequena joia nas montanhas algarvias. Helena Martiniano, vereadora do Turismo em Monchique, partilhou as suas memórias de infância enquanto caminhava pelas ruelas desta “Cintra do Algarve”, como foi apelidada por Ramalho Ortigão. A Fonte dos Amores, ponto de encontro da comunidade, tornou-se palco para a poesia de Paulo Rosa, advogado e poeta local, que descreve os dias de piqueniques e folguedos que animavam o local.
A narrativa guiou pela Praça Central, pela antiga hospedaria datada de 1692 e pelo exuberante antigo casino, hoje transformado num restaurante, que oferece uma vista deslumbrante da Serra de Monchique. A cada passo, poemas e escritos ecoavam nas paredes, revelando uma ligação profunda entre a comunidade e a sua história.
Do Ameixial a Alte: O Nascer da Rota Literária
A Rota Literária do Algarve não começou em Caldas de Monchique, mas sim em Alte, no concelho de Loulé. A professora Sílvia Quinteiro, juntamente com Rita Baleiro, teve a visão de destacar o património literário da região. A inspiração veio durante um passeio em Alte, quando perceberam que os turistas, embora intrigados pelos poemas de Cândido Guerreiro nos azulejos locais, muitas vezes não entendiam completamente o seu significado. Essa observação desencadeou o nascimento da rota literária.
O projeto ganhou força em 2018, quando se tornou um dos vencedores do Orçamento Participativo Portugal, e desde então, expandiu-se para abranger 16 itinerários em toda a região algarvia. A Rota Literária do Algarve não é apenas um convite à descoberta dos destinos menos explorados, mas também uma iniciativa para revelar e valorizar o rico património literário algarvio.
Conectando a Literatura à Identidade Regional
Fica claro que a intenção vai além de simplesmente atrair turistas. Em conversa com a fonte citada, Sílvia Quinteiro e Rita Baleiro desejam mostrar que o Algarve é muito mais do que praias ensolaradas. Através dos olhos de autores locais como Cândido Guerreiro, Emiliano da Costa e outros menos conhecidos, a rota revela um Algarve de tradições, identidade e paisagens que vão além da imagem estereotipada.
O Algarve Literário oferece uma experiência única, destacando-se num mundo cada vez mais globalizado e uniforme. É uma oportunidade para os residentes redescobrirem a sua própria região e para os visitantes se conectarem de forma autêntica com as tradições e histórias locais.
Um Convite à Descoberta Autêntica
Ao percorrer as Caldas de Monchique, “sente-se a singularidade do projeto”, como nos conta a mesma fonte. O Algarve, através da lente literária, transforma-se numa narrativa rica e multifacetada. Cada itinerário é cuidadosamente elaborado, fundindo direções práticas com a magia das palavras escritas. Os escritores locais, muitas vezes esquecidos, ganham vida novamente, proporcionando uma visão mais profunda e autêntica da região.
A Rota Literária do Algarve é, sem dúvida, um convite à descoberta autêntica, uma jornada que transcende as fronteiras do turismo convencional. Em cada curva da estrada, em cada praça antiga, as palavras dos poetas locais sussurram segredos e revelam uma perspetiva única do Algarve, uma que vai além do que os olhos veem à primeira vista.
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