Um poeta algarvio, “transportado por um bando de cegonhas oriundas de Reguengos de Monsaraz”, com diz. Filho de pais alentejanos, Ricardo Jorge Claudino, de 35 anos, teria tudo para não ser poeta. É licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais e iniciou a atividade em 2001, estando dois anos a trabalhar como programador nos Países Baixos, em Amesterdão.
O Algarve e o Alentejo são a sua inspiração. Refere o poeta que “sou um bocado dos dois mundos”. O facto de ter estado em contacto permanente com a natureza do local onde os pais habitavam e a agitação da cidade de Faro, deu-lhe uma visão “extra” do mundo, que acaba por se transpor nas suas obras, principalmente na mais recente, “A Cor do Tempo”. Este livro do qual já falaremos – mistura paisagens dos dois locais e um amarelo torrado, que significa o amanhecer das terras do seu coração.
Numa vida recheada de números, o algarvio reconhece que “nunca fui bom a português” e o interesse pelas grandes obras, nem existia aquela altura: “Lia simplesmente o resumo, só queria passar com 10 [valor mínimo para ficar com a disciplina concluída]”. A sua vida era imaginada como programador, mas aos 15 anos, começou a escrever poesia. “Ficava guardada numa gaveta”, recorda. Nada do que era colocado no papel era mostrado ao mundo. Apenas a “tal” gaveta sabia de tudo o que Ricardo Jorge Claudino escrevia.
Foi com 33 anos que “reativei esse gosto” pela poesia e pela literatura. “Lusíadas”, de Camões, “A Mensagem”, de Fernando Pessoa, ou “Os Maias”, de Eça de Queirós” foram algumas das obras que começou por ler, “como se fosse [a leitura] de uma vida inteira”. Ricardo Jorge Claudino vinca que com a sua escrita, o objetivo é “trazer algo de novo para a língua portuguesa”.
“Ser poeta não se escolhe, sente-se”. Uma frase até poética – ironicamente – mas que é verdade. “Sempre gostei muito de passar histórias” e a paixão adormecida pela poesia começou a despertar e a dar ao algarvio uma vontade de “escrever e publicar”, deixando de lado a anterior gaveta.
O objetivo da escrita é “mostrar pensamentos, vivências e poesia”, tendo “cuidado com a língua portuguesa”. Na sua “curta” carreira, já participou na antologia “A Vida em Poesia IV” publicada pela Helvetia Éditions. Conta também com publicações nas revistas Gazeta Inédita de Poesia e NERVO. “A Cor do Tempo” é a sua primeira obra publicada.
Anteriormente, a poesia era uma paixão adormecida, mas já adulto, Ricardo Jorge Claudino sentiu vontade de mostrar o que faz. Neste momento, assume: “vejo-me como escritor e como programador”, duas áreas distintas, assim como o Algarve e o Alentejo, duas regiões diferentes, pelas quais o poeta nutre um enorme sentimento. “Descobri uma balança naquilo que gosto de fazer”.
A família e a mulher são os seus maiores apoios. Diziam os seus familiares: “O mundo da literatura não é tão rentável como o da informática, mas se gostas avança”. A sua mulher foi mais longe e participou até no livro “A Cor do Tempo”, fazendo duas ilustrações. Essa força ajuda e “isso foi um grande passo para que eu pudesse publicar este livro e os outros”.
Ricardo Jorge Claudino, com a necessidade de mostrar o seu trabalho ao mundo, criou redes sociais (Facebook e Instagram) e mostra agora pequenas frases dos seus poemas. Da sua caminhada no mundo virtual, conta que “uma professora de português no Brasil que pegou num poema meu e fez um exercício para os seus alunos”. A docente leu o poema e retirou-lhe o título. O desafio seria os alunos adivinharem e interpretarem a obra.
“A Cor do Tempo” vence Prémio Poesia
Como seria de esperar, “havia títulos tão díspares”, que tinham a ver com morte e solidão. Na realidade, o poema chama-se “Casa no Campo”. Para o poeta este exercício foi fantástico. “Quando escrevemos, sinto que o poema é meu, mas quando o público o lê, ele passa para o leitor” e dá-lhe a “interpretação que quiser”.
A obra foi publicada com a chancela da editora Cordel d’ Prata e, na gala anual de reconhecimento de grandes escritores, Ricardo Jorge Claudino foi nomeado. Na votação online, foi o preferido e acabou por arrecadar o prémio na categoria de poesia. “Não estava à espera, por ser um escritor recente”, confessa. Quando subiu ao palco para receber o prémio, falou “mais dos outros nomeados”, uma vez que reconhece a importância desta vitória, junto de escritores mais experientes.
“A Cor do Tempo” é um livro que mistura vivências do Algarve e Alentejo. Mistura o pôr-do-sol dos dois locais e, em certa parte, as vivências e paixões do autor. “Quando me perguntam qual a minha cor preferida, enrolo todas as palavras; e descrevo-a”, explica o autor na sinopse do livro.
Pode dizer-se que este livro é universal e, tal como revelou ao POSTAL Ricardo Jorge Claudino, foi escrito para que todos se identificassem. “Não sei se é daltonismo ou não, mas só distingo a cor do tempo”, conclui. Para Ricardo, a cor do seu tempo está no livro, mas quando o ler, irá encontrar outra cor. E é de cores que é feito o mundo. Mais do que nunca, procuramos o arco-íris. Coincidência ou não, é ele que aparece quando dizemos “vai ficar tudo bem” depois da pandemia.