As associações de regantes do Algarve consideraram esta quinta-feira positivo o alívio das restrições ao uso da água para a agricultura na região, mas criticam o Governo por ter tomado a decisão sem falar com os regantes.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio, Macário Correia, disse que os regantes “olham para o alívio das restrições com sentido positivo, embora faltem esclarecer muitas dúvidas”.
O também porta-voz da Comissão para a Sustentabilidade Hidroagrícola do Algarve (CSHA), formada em janeiro por 120 produtores, agricultores e associações regantes regionais, lamentou que o Governo tivesse tomado a decisão “sem falar com as associações do regadio e com os municípios, os principais interessados”.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou na quarta-feira em Faro o alívio das restrições impostas, desde fevereiro, aos consumos de água, atualizando a redução, que passa de 25% para 13% na agricultura e de 15% para 10% no setor urbano e turismo, para fazer face à escassez hídrica na região, num total de 20 hectómetros cúbicos.
“O Governo veio ao Algarve com seis membros e com vários diretores gerais e voltaram. Até ao momento, ninguém falou connosco e só soubemos pela comunicação social, o que naturalmente deixa muitas dúvidas, porque não é uma informação detalhada”, realçou.
Para Macário Correia, os regantes precisam de “saber mais” do que consta de um comunicado distribuído à imprensa, nomeadamente “quando é que as restrições entram vigor e quando é que sai a resolução do Conselho de Ministros”.
“Também é essencial que o Governo explique o que é que vai ser feito em relação às novas áreas regadas, qual vai ser a compensação da água subterrânea com a de superfície, quer nos aquíferos de Querença-Silves, da Campina de Faro e outros, ou até dentro dos perímetros de rega”, apontou.
Ao mesmo tempo, adianta, “é preciso saber qual o calendário das obras que foram anunciadas de milhões, que não são novas, porque o dinheiro existe há algum tempo, só que as obras não foram executadas e o dinheiro anda por aí”.
“É preciso saber: fazer o quê, quando e como” sublinhou o também ex-presidente das câmaras de Faro e Tavira, acrescentando que “há coisas que foram anunciadas que não são credíveis, como dizer que em menos de dois anos se faz uma dessalinizadora e se faz a conduta do Pomarão para Odeleite, não é credível”.
Segundo Macário Correia, no caso da conduta adutora do Pomarão para Odeleite “nem sequer há negociações com Espanha, nem um projeto definitivo”.
“Há concursos a fazer e há uma obra de 40 quilómetros para executar. Tudo isto não se faz em menos de dois anos. Não se podem anunciar milhões para amanhã, quando não são fáceis de executar”, realçou.
O presidente dos beneficiários do plano de rega do sotavento (leste) algarvio disse que aguarda que, nos próximos dias, “alguém fale com as associações que representam os regantes e que diga como é que se vai fazer e peça colaboração”.
Por seu turno, o presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Silves, Lagoa e Portimão, no barlavento (oeste) algarvio, disse à Lusa que o alívio das restrições ao consumo de água na agricultura vai “ao encontro das reivindicações dos agricultores”.
“Embora não tivéssemos sido ouvidos para participar na decisão, consideramos que o alívio é positivo e que se justifica face à precipitação que caiu no início do ano e que aumentou as reservas de água nas bacias algarvias”, apontou João Garcia.
Segundo o responsável, a diminuição das restrições para o setor agrícola “permite que se garanta a produção aos agricultores”, o que faz com que mantenham as explorações e os rendimentos agrícolas.
“Felizmente, verificaram que os cortes que tinham sido decretados para este setor colocavam em causa a sustentabilidade desta atividade”, concluiu.
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