Raul Leal tem 25 anos e a paixão pelo mundo da moda tem sido uma constante na sua vida. O jovem designer tavirense sempre teve um especial apreço pela criação artística, algo que já era bastante evidente aos cinco anos de idade.
“Desde pequenino que sempre soube que queria ter a minha própria moda e já imaginava muitas coisas na minha cabeça como, por exemplo, vestidos”, recorda.
A mãe de Raul inseriu-o nas danças de salão aos três anos. “Com essa idade disse que não queria ir, no entanto, alguma coisa me fez querer voltar aos cinco anos e foi exatamente nessa altura que descobri que tínhamos de usar roupas diferentes e comecei a desenhar bonecos com vestidos, totós, tops e pestanas grandes”, recorda.
Jovem começou a ver a família costurar desde muito novo
Raul Leal explicou ao POSTAL que com essa idade “ia sempre para a costureira da Luz de Tavira dizer-lhe como é que queria as minhas coisas, como é que queria que o meu par se vestisse… Ia lá sempre verificar se estava tudo bem. Era um autêntico designer de cinco anos”, brinca.
O artista recorda que “desde muito novo começou a ver a avó e a tia costurar”, sendo que um dos seus hobbies “sempre foi desenhar roupas”.
“Sempre gostei de imaginar as minhas próprias peças e de dar opinião sobre as coisas. Por exemplo, a minha irmã é mais velha do que eu 11 anos e sempre me pediu opinião sobre as roupas dela. Eu ia às compras com ela e também brincava com as bonecas. Estava sempre a trocar-lhes a roupa, a rasgar e a modificá-las”, explica.
Raul Leal confidencia que “os meus pais já sabiam que eu era uma pessoa um pouco fora do vulgar, mas isso começou a ser mais evidente aos 13/14 anos quando comecei a comprar casacos de pelo, plataformas, blusas de rede… Coisas demasiado excêntricas para uma pessoa daquela idade e as pessoas começaram a notar que eu me vestia de maneira diferente”.
Danças de salão ajudaram-no a descobrir o gosto pela criação
“Depois, comecei a interessar-me um bocadinho por marcas, pois queria saber onde nasceram as grandes marcas e inteirar-me sobre este grande mundo”, avança.
Raul Leal sempre teve este gosto bastante presente na sua vida. “Nas danças de salão, à medida que vamos avançando de escalão podemos fazer fatos mais excêntricos. Dos 13 aos 19 anos já conseguia imaginar muitas roupas fora do normal e já pedia à costureira para fazer coisas cheias de plumas, muito grandes, muito giras e muito caras, por sinal”, conta.
Ao terminar o ensino secundário, Raul Leal decidiu rumar ao Porto para tirar teatro musical, um curso que tinha a duração de dois anos. “Foi giro mas senti que era mais do mesmo porque eu já sabia danças de salão e jazz, duas grandes competências do curso, e também já tinha noções de ballet. A única coisa que me acrescentava era o canto”, revela.
Em seguida, o jovem decidiu iniciar o curso de produção de eventos, no entanto, não chegou a concluí-lo. “A minha irmã sempre foi relações públicas e eu acho que me dava bem nisso porque eu e ela sempre fomos uma equipa e chegámos a organizar vários eventos juntos”, lembra.
Raul Leal recorda que conheceu muitas pessoas durante o tempo em que “trabalhava” com a irmã. “Eu sempre tive este interesse pelo mundo da moda: os desfiles, as saídas e todo o ambiente envolvente. O facto de termos de nos vestir bem sempre esteve presente e isso influenciou-me muito”, acrescenta.
O tavirense realça o facto de gostar de ter as atenções voltadas para si. “Eu visto-me diferente e se chegar à rua e as pessoas estiverem todas a olhar para mim isso não me incomoda minimamente”.
Raul Leal teve de parar um ano e meio para trabalhar a tempo inteiro. “Fiquei até aos 24 anos sem tirar curso nenhum porque estava um pouco perdido, não sabia o que queria fazer e precisava de juntar algum dinheiro”, salienta.
O jovem afirma que “aqueles dois cursos que tinha tirado não me estavam a acrescentar nada e eu não me estava a imaginar a fazer aquilo para o resto da vida”.
A família e os amigos são o seu grande apoio
Raul Leal vê na família e nos amigos o seu grande pilar. “Foram eles que me abriram os olhos e disseram: ‘Então, mas tu desde miúdo que fazes as tuas próprias roupas, queres vestir-te da tua própria forma, queres que toda a gente esteja ao teu gosto, porque é que não investes nisso?’”
E o jovem assim fez… Em 2016 rumou à capital para tirar o curso de design de moda na LSD -Lisbon School of Design, onde aprendeu várias técnicas que utiliza atualmente nas suas criações.
“O curso durou um ano e meio. No decorrer deste período, recebíamos a informação de forma muito rápida em áreas tão diversas como a costura, modelagem, história da moda, desenho… Até tínhamos inclusivamente de fazer um pouco de jornalismo porque tínhamos de estar sempre em cima das revistas e jornais a acompanhar as novas tendências”, conta.
Enquanto tirava o curso, o tavirense lançou a sua primeira coleção. “Desenhei uma coleção inspirada nos azulejos portugueses e fiz tudo sozinho. Fazia os conjuntos em casa, tirei umas fotografias com as minhas amigas e meti no instagram, no entanto, pensei que ninguém ia comprar”, confessa.
O designer recorda que acabou “por vender 42 conjuntos, no entanto, como estava a trabalhar em simultâneo no restaurante e fazia tudo sozinho, o tempo de entrega foi bastante longo”.
A segunda coleção de Raul foi um sucesso
O jovem teve a ajuda de uma antiga professora para executar a sua segunda coleção intitulada “Young Designer”.
“A minha professora tem o Design Lab, que é uma fábrica em Loures, e eu levei lá a coleção, um total de 250 peças e eles trataram do resto. Eu faço o primeiro exemplar e eles depois tratam da produção em massa”, afirma.
Raul Leal relembra que “foi aí que as minhas pernas tremeram. Eu sempre trabalhei no restaurante para investir no meu futuro e tive de investir o dinheiro que tinha juntado e não sabia se iria ter o retorno”.
O jovem referiu ao POSTAL que fotografou tudo com os amigos, que são os seus modelos até à data. “Fui eu que os penteei, maquilhei, escolhi o sítio, fui buscar os acessórios e fiz tudo com o meu telemóvel e com o refletor do meu amigo Fábio”, explica.
Raul Leal conta que “fizemos as fotografias dos vestidos brancos e florescentes, fotografámos o quimono, o conjunto preto e no mesmo dia editámos as fotografias e eu meti-as na internet. A coleção teve um boom gigante”.
“O conjunto preto foi vendido em 45 minutos e acabei por vender os outros 12 conjuntos que tinha. Depois, acordei nos quatro dias seguintes e já estava tudo vendido”, acrescenta.
Designer colabora com vários artistas
Atualmente o jovem colabora com vários artistas. “Estou a trabalhar com um artista plástico de Vila Real e estamos a fazer algo secreto relacionado com a coleção que lancei este verão. Ele é um artista plástico que faz quadros, eu faço roupa e vamos combinar as duas coisas” realça.
O jovem está ainda a trabalhar com a artista luso-espanhola Mara Gonzales. “Já lhe enviei algumas roupas e ela usa a minha marca. Estamos também em conversações para fazer o styling e fazer-lhe umas roupas para os videoclipes”, desvenda.
Um dos meus objetivos futuros é “ter uma palete de vestidos e de peças de homem e mulher bastante diferentes para que as pessoas possam alugar quando tiverem eventos especiais”, realça o jovem tavirense.
O designer afirma que “muitas vezes as pessoas compram uma peça de roupa uma vez e não a usam mais. Deste modo, este problema deixaria de ser um problema”.
Jovem faz moda para passar uma mensagem
Raul Leal confessou ao POSTAL que se considera ativista: “eu faço moda para passar uma mensagem”.
O designer está a preparar o próximo trabalho de inverno: “vou ter duas coleções para este inverno: uma é para senhoras mais responsáveis, com uma onda mais de inverno, de capas e de coisas mais descontraídas e fluídas e outra mais de street style”.
“Nas próximas sessões fotográficas e vídeos quero mostrar um pouco desta minha vertente mais ativista, pois pretendo incluir pessoas acima do peso, pessoas de todas as cores, talvez pessoas sem dentes, pessoas com limitações e quem sabe travestis e um transgénero para passar a mensagem de que fazemos moda para toda a gente”, explica.
O artista gosta de passar uma mensagem que choque as pessoas com o intuito de as fazer refletir sobre o mundo.
“A moda para mim significa seres 100% quem tu és ou queres ser. Nós temos de nos vestir em sociedade e acho que a forma mais direta de veres a personalidade de uma pessoa é a maneira como ela se está a apresentar a ti porque é ela que escolhe e isso tem um peso extremamente importante”, defende Raul Leal.
Raul Leal vai buscar inspiração à família
O tavirense realça que “a moda é tu saberes o que és e abrires as portas para as outras pessoas e dizeres: Este sou eu. Gostam ou não? E não te interessar a resposta. A moda é isso”.
“Eu acho que a moda é passar barreiras e eu adoro passar barreiras”, revela.
O jovem tavirense confessou ainda ao POSTAL que vai buscar a inspiração sempre à sua família: “eles são e serão sempre os meus fashion icons”.
Para o artista, “tudo é moda: anos 20, 30, 40, 50… Mas temos é de saber adaptá-lo. É tudo um ciclo onde vamos melhorando e adaptando a moda ao tempo presente”.
“O próximo passo é fazer um vestido de noiva. Quero ver se sou capaz e depois metê-lo no meu atelier”, avança.
Quanto às expetativas futuras, o jovem gostava bastante de abrir o seu próprio atelier.
“Gostava que toda a gente me conhecesse e que a minha marca fosse ainda maior que a Gucci, a Versace…Gostava de estar equiparado a eles ou ainda mais”, afirma.
O jovem explica que “quer sair de Portugal para fazer Portugal sair. Quero viver em Portugal e levar a minha marca ao mundo inteiro, mas fazer saber que é de Portugal”.
“O intuito é ter o atelier em Tavira porque sou um apaixonado pela terra e acho que temos de puxar mais coisas para a nossa cidade. Se isto correr bem como espero que corra, as pessoas teriam de vir a Tavira para vir ter comigo e assim ficavam a conhecer melhor a cidade”, ambiciona.
Raul Leal conclui revelando que “as perspetivas futuras é que aconteçam muitas mais coisas. Acho que estou num bom caminho, no entanto, não quero dar passos maiores do que a perna. Acho que tudo tem o seu tempo certo”.
Para ver as peças do designer pode visitar a sua página de instagram: _raulleal_ ou o facebook.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)