O projeto TASA nasceu em 2010 fruto de uma iniciativa da CCDR Algarve e pretende introduzir inovação nas artes tradicionais no Algarve.
“O projeto foi criado através de uma intervenção que foi feita ao abrigo de um trabalho de consultoria de uma equipa de designers contratualizados com a CCDR para criar uma linha de produtos e um conjunto de ações que tivessem já esta missão de introduzir inovação nas artes tradicionais, de maneira a que pudessem ser mais sustentáveis”, afirmou Graça Palma, responsável pelo projeto, em entrevista ao POSTAL.
“O artesanato não era devidamente valorizado e não tinha o estatuto que merecia e deveria ter. Foi com esta preocupação que nasceu o projeto e foi daí que surgiu a coleção dos primeiros cerca de 20 produtos”, explica.
Graça Palma afirma que “também foram realizadas algumas iniciativas com escolas, tendo sido criado um site e um livro sobre esta intervenção e o projeto. Tudo isto foi feito no espaço de um ano (entre 2010 e 2011)”.
“Depois do projeto terminado, das ações desenvolvidas e dos resultados apresentados ficou uma questão por resolver: agora que já existe esta coleção de produtos, que já houve terreno desbravado e que teve uma boa aceitação, repercussão e impacto, o que vai acontecer depois disto?”, recorda.
Depois de tentadas outras soluções, a CCDR resolveu fazer o convite a algumas empresas relacionadas com a área, para que se aportasse a necessária dinâmica ao projeto no sentido de colocar os produtos no mercado e manter a rede de artesãos a funcionar”, explica a coordenadora do projeto TASA.
Proactivetur faz a gestão da marca Projeto TASA desde 2013
A Proactivetur, uma pequena empresa na área do turismo responsável, assumiu esta missão. “A empresa já desenvolvia trabalho no interior do Algarve, nomeadamente, na área do ecoturismo, com uma intervenção na lógica de desenvolvimento local, de trabalho muito próximo com as comunidades, de grande valorização do património natural e cultural e, portanto, a empresa considerou que o Projeto TASA fazia sentido, apesar de ser um produto diferente”.
Responsável fala sobre a abrangência do projeto
O projeto TASA é bastante abrangente. “Nós temos o nosso catálogo de produtos que está sempre a crescer de ano para ano. Começámos com cerca de 20 produtos e neste momento já temos 50. Temos os produtos em catálogo, na loja online, nesta loja sediada no coração de Loulé e nos nossos parceiros revendedores”.
“Para além disso, desenvolvemos experiências criativas, como workshops que são destinados a turistas. Em uma hora e meia ou duas podem ter uma experiência de conviver com um artesão e aprender a fazer uma peça. Eles próprios realizam as peças e podem levá-las como recordação da viagem”, afirma.
Graça Palma explicou ainda ao POSTAL que “muitas vezes levamos os artesãos a hotéis e resorts para proporcionar experiências criativas aos seus clientes ou funcionários, por exemplo. Estas atividades estão sempre incluídas numa lógica de turismo cultural”.
“Fazemos ainda trabalhos com os municípios ou outras entidades que pretendam vir a desenvolver intervenções com o objetivo de valorizar as artes e ofícios dos seus territórios”, conta.
Projeto TASA produz objetos utilitários com base no artesanato milenar
Graça Palma disse ao POSTAL que “o catálogo de produtos que apresentamos destina-se à utilização por parte das pessoas. Nós só trabalhamos utilitários porque o artesanato surge exatamente da preocupação do ser humano em poder produzir artefactos para as suas necessidades quotidianas”.
“Nós queremos manter esse princípio. Algum tipo de artesanato tradicional que os nossos avós e bisavós utilizavam recorrentemente no dia a dia porque precisavam dele, atualmente já não faz sentido porque as necessidades mudaram”, explica.
“Nos dias atuais podemos produzir outros artefactos que são úteis para a nossa vida nos moldes em que ela se apresenta. Já não precisamos tanto das gorpelhas ou das bilhas que utilizavam antigamente nas lides do campo, por exemplo”, afirma.
Graça Palma salienta que “com as mesmas técnicas e com os mesmos materiais podemos fazer, por exemplo, malas mais urbanas, pois todas as pessoas necessitam de guardar os seus pertences, ou jarros de água funcionais para levar à mesa. É indubitável que as pessoas continuam a precisar de objetos”.
A lógica do projeto é essa: TASA – Técnicas Ancestrais, Soluções Atuais”.
No início do projeto verificou-se que “os artesãos das artes tradicionais no Algarve estavam a diminuir e a sua idade a avançar. Isto era algo que teria tendência para agravar-se e até levar à extinção de alguns ofícios”.
Projeto TASA pretende tornar a atividade artesanal numa profissão do futuro
Graça Palma avançou ao POSTAL que “a missão do projeto TASA é tornar a atividade artesanal numa profissão do futuro. Esta iniciativa já nasce com o propósito de criar fatores de atratibilidade, de forma a que as novas gerações de artesãos possam ver nestas atividades profissões prósperas e que sejam passíveis de fazer essa escolha profissional e investimento”.
“Conseguimos fazê-lo introduzindo inovação nos objetos através das mais variadas técnicas e havia a necessidade de dar um novo input ao artesanato algarvio”, considera.
O projeto TASA é constituído por uma rede de cerca de 50 artesãos.
“Concorremos sempre que é oportuno a financiamentos. A “Arte do Latoeiro” foi um desses exemplos. Permitiu formar cinco novos latoeiros, numa ação que tinha como base a transmissão de saberes mestre-aprendiz, em relação a um ofício que estava em perigo de desaparecer”, explica.
Programa Artesãos Século XXI teve início em 2017
Graça Palma afirma que “em 2017 foi efetuada outra ação de formação denominada ‘artesãos século XXI’, com a preocupação de revitalizar a arte com os entrelaçados em materiais vegetais, como as técnicas de empreita, empalhamento de cadeiras com tabua e cestaria em cana”.
“Era nestas áreas e nestes ofícios que a média de idades se apresentava mais preocupante, porque mais elevada”, explica.
O projeto envolveu seis aprendizes e seis mestres e incluiu um prémio de inovação em design para estudantes dessa área.
Graça Palma referiu ao POSTAL que “na altura foram contratadas duas artesãs aprendizes para trabalhar a tempo inteiro neste ofício”.
Vanessa Flórido é artesã há ano e meio
Vanessa Flórido tem 35 anos, é natural de Tavira e é artesã há cerca de ano e meio.
“Eu sempre gostei de manualidades e sempre tive algum jeito. Fazia algumas coisas como origami e até um programa de cestaria em contexto urbano, mas apenas como hobbie”, começa por explicar ao POSTAL.
Vanessa Flórido disse que a sua área de formação é engenharia civil, mas não chegou a terminar o curso. “Estive a trabalhar na área durante um período, mas demiti-me e estava à procura de trabalho e foi aí que surgiu a oportunidade de integrar a formação que o projeto TASA estava a fazer. Achei bastante interessante, candidatei-me e fui uma das seis selecionadas”, explica.
Vanessa Flórido confessou ainda que “informaram-nos no início que as duas pessoas mais talentosas iriam ser integradas na equipa da Practivetur”.
A formação foi dada por dois mestres de empalhamento de cadeiras, um de cestaria em cana e quatro mestres da palma. “Tivemos, inclusivamente, um mestre de Andaluzia que nos ensinou algumas coisas inovadoras que aqui não se fazem e que acabam por distinguir as peças em termos de acabamentos e qualidade final”, explicou.
“Tudo o que é cestaria em palma sou eu que faço. Estou muito feliz por ter sido selecionada, pois identifico-me com os valores do projeto. Já tinha pensado em trabalhar no artesanato, mas nunca a nível profissional”, confessa.
Para trabalhar neste ofício, “tem de se gostar muito porque o trabalho pode ser muito repetitivo e muito frustrante, por vezes. Nós trabalhamos com designers e às vezes eles querem um desenho específico, mas a técnica tem limitações”.
“Há que saber lidar com a frustração, otimizar os tempos e se somos jovens e queremos fazer isto de forma profissional, temos de associar-nos a projetos que valorizem as artes e os ofícios, como é o caso do projeto TASA. Não podemos competir com o artesanato tradicional. Temos de fazer diferente e melhor”, defende.
“Não tenho dúvidas de que o meu futuro passa por fazer coisas com as mãos. Sei que é esse o meu talento”, conclui.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)