A campanha das presidenciais entrou hoje na segunda metade com uma dramatização no voto à esquerda, contra a extrema-direita, e a “entrada” do ex-primeiro-ministro José Sócrates no debate eleitoral.
Dois candidatos, a socialista Ana Gomes e o comunista João Ferreira, fizeram os seus avisos e dramatização num dia em que todos, à exceção de Vitorino Silva, ou Tino de Rans, tiveram ações de rua.
A primeira a dramatizar foi a ex-eurodeputada do PS, em Coimbra, ao ser questionada sobre a subida do candidato de André Ventura, candidato do Chega, da extrema direita: quando a esquerda se desuniu “abriu caminho a forças prejudiciais à democracia”, avisou, apesar de dizer que confia que os portugueses, no dia das eleições, vão mostrar que os que querem regressar à ditadura “não passarão”.
Era o comentário da candidata apoiada pelo PAN, Livre e dirigentes do PS sobre a divisão à esquerda e o cenário de o país “ter a extrema-direita em segundo lugar”, risco levantando pelo seu apoiante Rui Tavares, dirigente do Livre.
“Temos de ter memória, importa ter memória, a democracia não pode ser tolerante com os intolerantes”, afirmou.
Separados por 200 quilómetros, e menos dramático do que Ana Gomes, João Ferreira, apoiado pelo PCP e Verdes, também foi questionado sobre o tema e disse que “derivas antidemocráticas” como as que estão a surgir em Portugal se combatem “indo à raiz” do problema, com políticas que ajudem a resolver a insatisfação dos cidadãos.
Questionado sobre a possibilidade de Ventura ultrapassar o número total de votos à esquerda, o eurodeputado rejeitou que tal “profecia”: “Por muito que alguns procurem, a partir de protagonismo que dão a determinadas forças, fazer das profecias que anunciam profecias que se cumprem, isso não vai acontecer.”
Marisa Matias, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda, também entrou no debate sobre a “extrema-direita”, mas centrou-se no caso dos insultos de que foi alvo pelo candidato presidencial do Chega.
A “primeira grande lição aos insultos da extrema-direita” já foi dada e a “segunda grande lição” será no dia das eleições, disse, apelando ao voto com coragem, dignidade e solidariedade, num comício virtual transmitido desde Viseu, mas também na “confiança pela igualdade, pelo Serviço Nacional de Saúde, pela gente que sofre e pela gente que luta”.
O alvo destas críticas, André Ventura, só fez campanha ao fim da tarde em Bragança, mas, na véspera, num comício de Viseu, elegeu Ana Gomes e Marcelo Rebelo de Sousa como os seus principais adversários na corrida a Belém e atacou o Governo de António Costa de ser “corrupto”.
E no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa, voltou à rua em campanha, no Barreiro (Setúbal), Ana Gomes acusou o Presidente e recandidato de ter ajudado a “minar” uma requisição civil dos privados na saúde, responsabilizando-o por nem todos os meios humanos e físicos estarem a ser aproveitados para conter a epidemia de covid-19.
E por ter dado “palco e força aos privados contra a decisão e intenções da ministra da Saúde”, disse a candidata, preocupada com os números de mortos e infetados pelo novo coronavírus que hoje atingiu recordes diários: 166 mortes e 10.947 novos casos.
Marcelo é que não respondeu a nenhuma destas críticas, optou por falar apenas sobre a pandemia e fez um apelo aos portugueses para que levem o confinamento a sério e não o encarem como leve ou facultativo, evitando sobrecarregar ainda mais os serviços de saúde.
Em campanha pelo Algarve, o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal (IL), Tiago Mayan Gonçalves, defendeu que o Governo deve recorrer a toda a capacidade de saúde, incluindo a oferta privada e social, impressionado com as filas de ambulâncias com doentes covid à porta de hospitais.
“É infelizmente o cenário que vi pré-anunciado na reunião do Infarmed e que se está a verificar. Nós estamos a entrar num cenário de guerra, efetivamente, e é lamentável que tenhamos chegado a este ponto. Os motivos para isso são, acima de tudo, de má gestão e de responsabilidade e de falta de previsão e de impreparação deste Governo”, disse.
Também foi de Ana Gomes a referência a José Sócrates, o ex-primeiro-ministro envolvido no processo Marquês.
A ex-eurodeputada considerou “elucidativo” que o antigo chefe do Governo a tenha atacado e elogiado Marcelo Rebelo de Sousa, recusando falar mais sobre quem “organizou desvio de recursos do Estado”, ao ser questionada sobre o artigo de Sócrates divulgado na sexta-feira, em que alerta para a “brutalidade” da extrema-direita e critica a “maledicência” para “agradar a pasquins” da candidata Ana Gomes.