É óbvio que a arte visual ocorre em qualquer altura do ano. No entanto, há produções artísticas que requerem condições climatéricas para poderem ser realizadas.
Por exemplo, o Inverno é, nalguns países nórdicos, o período ideal para serem produzidas esculturas e estruturas com gelo, as quais permanecem construídas durante esse período do ano em que as temperaturas são muito baixas. A sua durabilidade é limitada pois com o calor a água gelada começa a derreter, mas isso representa uma solução sustentável na produção artística.
O aproveitamento das condições climatéricas para a produção artística ocorreu este Inverno nos EUA, em particular no Estado do Minesota, em que as temperaturas atingiram os 50 graus negativos. Assim, surgiram muitas “exposições” de roupa congelada na neve, tendo até sido criado um desafio designado por “frozen pants”.
Em artigos anteriores havíamos abordado o processo de democratização da cultura, através da introdução da arte no quotidiano das pessoas, nos locais ou espaços que estas frequentam. Para além da arte urbana, também a “land art” (“arte da terra” ou “arte sobre a paisagem”) tem contribuído para uma maior ligação das pessoas às produções artísticas.
Nesta perspetiva sazonal e da produção artística a partir da natureza, no Algarve, desde o Verão de 2003, ocorre o Festival Internacional de Esculturas em Areia (FIESA).
Este é considerado o maior evento do género em todo o mundo por utilizar cerca de quarenta mil toneladas de areia. Ao longo de 15 anos foram esculpidas mais de 700 obras originais, que se destacam pela técnica, pela estética e pela dimensão. As esculturas chegam a atingir os doze metros de altura e reproduzem, com grande detalhe, pessoas, objetos e cenários.
Tendo sido realizado em Armação de Pêra, no concelho de Silves, até 2018, este ano a exposição está a decorrer em Lagoa. O parque temático designa-se Sand City Algarve, ocupando um terreno de cinco hectares, em que uma equipa internacional de 54 escultores construíram, usando várias técnicas de esculpir em areia, recriações de alguns dos mais célebres monumentos do planeta, tendo em conta que o tema é uma volta ao mundo em esculturas de areia. No mesmo espaço pode ser encontrada a Torre Eiffel (Paris, França), a Estátua da Liberdade (Nova Iorque, EUA) ou a Torre de Belém (Lisboa, Portugal).
Além disso, há uma zona dedicada ao mar, procurando mostrar o impacto negativo que os plásticos têm tido no ambiente marinho.
A componente ambientalista desta exposição existe pela abordagem deste tema, mas sobretudo porque se trata da utilização de material reciclável e reutilizável, inserindo-se numa perspetiva de economia circular.
Assim, quer as produções artísticas que usam o gelo, quer as que usam a areia, são sustentáveis, pois permitem a reutilização da matéria usada, não causando danos no meio ambiente.
E é sobretudo esta perspetiva que gostaríamos de destacar neste artigo. O aproveitamento das condições climatéricas sazonais pode permitir uma produção artística mais “amiga do ambiente”, contribuindo para a sustentabilidade do planeta.
Terminamos com a sugestão para visitarem o FIESA 2019, o que poderá ser feito até 8 de novembro. Vale a pena…
(Artigo publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul)
(CM)