Estamos em dezembro, mês de Natal, quadra associada à paz entre as pessoas.
A paz deveria existir sempre, sendo um estado constante, mas infelizmente não é isso que acontece, pois verificam-se muitos conflitos todos os dias, quer entre pessoas, quer entre países. Assim sendo, é necessário haver períodos que permitam pelo menos atenuar esses conflitos, sendo esbatidas as diferenças, ou o que divide, e acentuadas as semelhanças, ou o que pode aproximar. Neste sentido, o período de Natal ajuda a despertar sentimentos mais positivos em relação aos outros, emergindo com maior frequência situações de perdão, gratidão ou elogio.
Num artigo anterior, salientámos que, não obstante ter havido sempre violência ou guerras na história da humanidade, o problema na atualidade é que os meios usados são cada vez mais mortíferos, atingindo muitos inocentes. Esta é uma questão central quando pensamos o futuro da humanidade. Tal como as questões ambientais, as questões ligadas à paz, em particular, são fundamentais para podermos pensar na vida no nosso planeta a médio/longo prazo.
Procurando aumentar a consciência de todos e de cada um para este problema, o “Conselho Português para a Paz e Cooperação” tem vindo a desenvolver várias iniciativas, nomeadamente organizando exposições, intituladas “Artistas pela Paz”, em colaboração com a “Peace and Art Society”.
Nas exposições realizadas em 2018-19 contribui com a obra “PAZ é o caminho (Homenagem a Gandhi)” (2018), mas desta vez contribui com a obra “Guerra e Paz: Tudo começa dentro de nós!”, em que procuro salientar que apaz e a guerra são em geral abordadas como algo que existe no exterior, entre países, entre raças, entre religiões ou entre pessoas. As posições de alguns líderes de potencias mundiais, como sejam Trump, nos EUA, ou Bolsonaro, no Brasil, reforçam este ponto de vista, pois apresentam posições divisionistas e promotoras de conflito social.No entanto, é fundamental tomarmos consciência de que cada um de nós é responsável pela Paz e que esta deve começar dentro de cada um de nós.Assim, esta obra procura contribuir para essa tomada de consciência, com uma frase de Gabriel “O Pensador”, quando refere que “a gente muda o mundo na mudança da mente”, da música “Até quando?”. Nós somos muitas vezes o maior obstáculo de nós mesmos, pelo que é importante tomar essa consciência e alterar pensamentos, ideias, preconceitos e crenças que só nos prejudicam a nós mesmos e na relação com os outros. Nessa música, Gabriel refere a também “e quando a mente muda, a gente anda pra frente”. É com a mudança de pensamentos que conseguimos mudar os nossos comportamentos, atitudes e mesmo emoções. Esta ideia é sintetizada por Dalai Lama na frase “Só conseguiremos obter a paz no mundo exterior quando estivermos em paz com nós mesmos (…) Felicidade significa paz de espírito”. O facto de cada um de nós dever assumir essa responsabilidade é ilustrado por essas frases estarem coladas em espelhos em que cada um pode ver a sua imagem, positiva ou negativa consoante o tipo de pensamentos que tiver. Os pensamentos negativos são simbolizados por o espelho estar martelado e pelo sentido dos lábios, enquanto os pensamentos positivos aparecem num espelho limpo, com um “smile”.
Desta forma, as artes visuais podem ajudar na criação de imagens que permitem sintetizar o essencial neste processo de consciencialização e de mudança de atitudes e comportamentos.
Noutras obras a que fiz referência em artigos anteriores também procurei contribuir para ajudar na tomada de consciência de que todos somos responsáveis pela paz, devendo esse processo começar dentro de nós. Foi o caso das obras “Grito de sangue em atentado terrorista” (2010), “Secrets for a happy life (Homage to Banksy and Einstein)”(2017)e “STOP! Este não é o caminho…” (2020).
Numa outra obra mais recente, “Mindfulness(Homenagem a Jon Kabat-Zinn)” (2020), este processo de consciencialização é aprofundado, podendo o mindfulnessajudar-nos nesse sentido. Através da atenção e consciência plena no momento presente podemos aprender a prevenir os efeitos negativos do ritmo em que vivemos na atualidade, com exigências constantes e uma elevada pressão para as realizar rapidamente. Esta situação é sintetizada através da frase de Jon Kabat-Zinn, pioneiro do mindfulness, “você pode não parar as ondas, mas pode aprender a surfar”. Realmente não conseguimos controlar e alterar muito daquilo que ocorre à nossa volta, mas podemos aprender a controlar o efeito que isso tem sobre nós, em cada inspiração consciente que fazemos, se desenvolvermos a atenção plena, focada no presente, com uma atitude de gratidão perante a vida, sentindo a nossa energia e força interior, como se fossemos uma montanha, que permanece estável, serena e resiliente, não obstante a rapidez com que tudo acontece à nossa volta. A frase de Gabriel “O Pensador” volta a fazer todo o sentido: “A gente muda o mundo na mudança da mente”.
Considero que a arte visual talvez possa ajudar a parar no tempo e a refletir, de forma a que não se repitam no futuro os erros do passado.
A arte pode inserir-se num movimento de “educação para a paz”, nesta sociedade em que é cada vez mais importante educar para princípios éticos universaise para valores humanistas, como sejam a honestidade e o respeito pelos outros. Além disso, é essencial odesenvolvimento da espiritualidade em cada um de nós, pois só em paz consigo mesmo, em equilíbrio e serenidade, é que o ser humano consegue estar em paz com os outros.
Conforme é referido pela vereadora Carla Sabino, no folheto da exposição realizada em Vila Real: “Cada vez mais acredito que a arte tem um papel preponderante no mundo, pelo poder da sua essência, de tocar aquilo que de mais profundo existe em cada um de nós: as emoções. São as emoções que geram em nós as cores necessárias para desenharmos uma Humanidade melhor. Se desejamos todos viver em paz, façamos por isso, em cada gesto e em cada palavra.”
Feliz Natal a todos, com saúde e em paz!
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de dezembro)