A exposição de fotografia “Algarve – Desvelando Vívidas Imagens de uma Plasmada Região na Monocultura do Turismo”, da autoria de Filipe da Palma, foi inaugurada na passada sexta-feira em conjunto com a apresentação do livro “Algarve em 3D”, de Jacinto Palma Dias. Um público interessado acolheu este evento, com a presença dos criadores e da vice-presidente da Câmara de Castro Marim, Filomena Sintra.
Os trabalhos dos dois autores encontram-se na arquitectura popular do Algarve, nos pormenores das platibandas, chaminés, terraços, portas coloridas, janelas simples e exuberantes, numa associação de linguagens que quer resgatar a identidade da região, ofuscada pelo turismo de massas de sol e praia que se associa agora à história do sul.
Dentro de expositores de vidro, cobertos por areia da praia, as fotografias revelaram aos visitantes um património arquitectónico esquecido, cuja memória nos é também trazida pelas palavras de Jacinto Palma Dias na apresentação do seu livro “Algarve em 3D”. “Entre 1900 e 1930 a arquitectura algarvia manifestou-se num movimento de alegria e entusiasmo, proveniente do desenvolvimento económico trazido pela criação do caminho-de-ferro para o Algarve [1906]”, relata o escritor, acrescentando que a região sofreu uma “revolução” hortofrutícola que fornecia Lisboa com quase um mês de antecedência em relação a outros produtores. Com a I Guerra Mundial (1914-1918), a indústria conserveira algarvia cresce a olhos vistos e a riqueza trazida pela exportação de conservas espelha-se na construção das casas algarvias, extrovertidas e ricas em detalhes arquitectónicos. Mas este “boom” económico trazia no entanto uma contrapartida, a dependência dos ciclos económicos mundiais e com a Grande Depressão, em 1929, a prosperidade algarvia foi ao fundo. E foi assim, “vazio, morto”, nas palavras de Jacinto Palma Dias, que o turismo encontrou a região na década de 60. “Não tenho nada contra o turismo de sol e praia, só acho que é preciso abrir outras janelas”, refere também o escritor. Sobre o mesmo, Filipe da Palma salienta “este turismo de massas está a apagar o pouco que ainda resiste, estas imagens da exposição estão a desaparecer dia a dia”.
Filipe da Palma estudou fotografia no AR.CO (Centro de Arte & Comunicação Visual) e trabalha actualmente como fotógrafo na Câmara de Portimão. O seu trabalho de recolha fotográfica do património no Algarve nos últimos vinte anos é um registo valioso da diversidade e riqueza cultural da região.
Jacinto Palma Dias, natural de Castro Marim, é licenciado em História pela Universidade de Paris VIII, mas conhecido como pioneiro da agricultura biológica no Algarve e produtor de flor de sal.
A exposição “Algarve – Desvelando Vívidas Imagens de uma Plasmada Região na Monocultura do Turismo”, por Filipe da Palma, estará patente na Casa do Sal até ao final deste mês, de terça-feira a sábado, das 10 às 13 e das 14 às 18 horas.