As pessoas cegas vão, pela primeira vez, poder votar nas próximas eleições europeias de forma autónoma, segura e secreta. O voto será realizado através dos boletins em braille que estarão disponíveis em todas as mesas de voto, sendo este “um passo extremamente importante”, na opinião da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).
A demonstração do voto em braille, e também do voto eletrónico, foi realizado pelo Governo, esta sexta-feira. Este projeto-piloto vai ser testado nas próximas eleições no distrito de Évora e não será, ainda, alargado a todo o país.
O presidente da ACAPO, Tomé Coelho, esteve presente na demonstração e testou as duas opções. Depois de ter testado as duas opções, o presidente da ACAPO defendeu que a melhor opção seria o voto eletrónico. Tomé Coelho diz que a associação irá lutar para que este sistema de voto seja estendido a todo o país, visto que permite que qualquer cidadão, com deficiência ou não.
Voto em braille representa inovação e melhoria de condições para pessoas invisuais
Trata-se de “um passo extremamente importante. É algo que nunca aconteceu no nosso país, possibilitar pela primeira vez que as pessoas com deficiência visual possam votar autonomamente”, destacou Tomé Coelho.
Para Tomé Coelho, a existência de um boletim de voto em braille dá às pessoas cegas “condições de igualdade no exercício do seu direito e no cumprimento de dever de votar” visto que, até agora, estas pessoas dependiam de um acompanhante que votasse por si ao selecionar no boletim de voto o partido escolhido.
A secretária de Estado da Administração Interna, Isabel Oneto, esclareceu que o voto eletrónico é ainda uma experiência piloto. Nestas eleições, o voto eletrónico vai estar disponível em 50 mesas de voto distribuídas pelos 14 concelhos do distrito de Évora, juntamente com as mesas tradicionais, deixando ao critério do eleitor selecionar como quer votar.
Como funciona o voto em braille?
Relativamente ao funcionamento do voto em braille, Ana Sofia Antunes, secretária de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência explicou que, “quando a pessoa cega se dirigir à sua mesa de voto, ser-lhe-á entregue uma matriz que já tem um boletim de voto no interior, e graças à qual a pessoa consegue identificar os partidos e assinalar a cruz num quadrado recortado, sendo que cada partido corresponde a um número”.
Antes de realizar o voto, cada cidadão recebe uma folha explicativa onde é efetuada a correspondência entre o número da candidatura e o respetivo partido, permitindo a facil identificação do número que quer assinalar.
“Uma vez feito o voto, a pessoa retira o boletim do interior da matriz e dobra-o em quatro. Tem uma linha guia colocada na parte branca para saber que é aquela parte que tem de ficar para fora no momento que dobrar o voto em quatro”, explicou Ana Sofia Antunes.
(Andrea Camilo / Cristina Mendonça)