São Brás de Alportel sempre foi conhecido pela cortiça de qualidade usada para produtos de luxo, mas a crise do virar do século ligou o produto à inovação e à moda, dando novo impulso àquele concelho do interior algarvio.
“Na realidade foi numa altura menos boa que nós tivemos na passagem do século, em que ficámos com cortiça, matéria-prima de qualidade, em casa e tivemos de criar uma oportunidade para a aplicar”, explica Sandra Correia, empresária do sector.
Nascida no meio corticeiro, a empresária, directora da empresa Pelcor e responsável pela criação de pele de cortiça, sempre teve o sonho de dar um cunho mais feminino ao sector, o que se concretizou quando, em 2003, lançou um guarda-chuva em pele de cortiça e, mais tarde, uma linha de acessórios de moda que estão hoje à venda em várias partes do mundo.
Dez anos mais tarde, a empresa criou uma peça exclusiva para a colecção de Verão do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), nos Estados Unidos da América. Barack Obama, Hillary Clinton, Angela Merkel, as cantoras Madonna e Pink e a modelo Maria Borges, da Victoria’s Secret, estão entre as personalidades que têm peças personalizadas da Pelcor.
“Veio reinventar a utilização deste produto nobre que esteve na base do crescimento de São Brás de Alportel e que foi um grande incremento à economia do nosso concelho”, comenta o presidente da câmara local, Vítor Guerreiro.
Concelho tenta atrair turistas que queiram conhecer todo o ciclo da cortiça
Este responsável diz que esta inovação deu novo fôlego aos pequenos artesãos e à criação de outros produtos em cortiça na área do ‘design’, motivando a criação de rotas turísticas temáticas, criando emprego e dinamizando também os sectores do alojamento e da restauração.
Na era do turismo de experiências, o concelho tenta agora atrair turistas que queiram conhecer todo o ciclo da cortiça, a cultura que lhe está associada e a relação entre os homens, os sobreirais e a natureza.
“À volta do sobreiral desenvolveu-se toda uma cultura, uma etnografia muito interessante daquela sabedoria das pessoas que vivem a um ritmo completamente diferente do que nós temos nas cidades”, conta à Lusa Artur Gregório, da Associação In-Loco, que tem estado envolvido na criação de estratégias para o turismo temático em torno da cortiça.
Do turismo ambiental ao turismo industrial, são várias as hipóteses de produtos que podem fazer a ligação da cortiça a este concelho do interior algarvio e às suas gentes, e Artur Gregório diz existir uma filosofia de vida que importa partilhar sobre a forma como o homem se relaciona com o sobreiral e o encara como um investimento a longo prazo.
“A cortiça é o produto identitário do concelho de São Brás de Alportel. É o seu elemento de referência”, observou, apontando que durante décadas o concelho esteve dedicado quase em exclusivo à produção da cortiça e ao seu tratamento pré-transformação, gerando pouco emprego e um retorno menor do que o desejado.
Apontando Sandra Correia como a percursora que “rasgou” um novo rumo para a cortiça de São Brás de Alportel e abriu caminho a diversos operadores que têm criado uma oferta diversificada, Artur Gregório diz-se convicto de que ainda há muito potencial para explorar neste domínio.
Ainda não é possível perceber o impacto total desta inovação, mas quem conhece o concelho diz não ter dúvidas de que foi um passo decisivo na sua promoção económica e turística.
“Acaba por ser um embaixador de São Brás de Alportel no mundo”, conclui o autarca Vítor Guerreiro.
(Agência Lusa)