A pandemia de covid-19 beneficiou a citricultura algarvia com um aumento da procura e dos preços, o que faz antever o escoamento total da produção até ao verão, disse o presidente da Associação de Operadores de Citrinos do Algarve (AlgarOrange).
José Oliveira, presidente da AlgarOrange, que agrupa nove empresas e associações de produtores de citrinos de todo o Algarve, disse à Lusa que este é um dos setores que “menos sofreu com a pandemia” e que as variedades de verão de laranja estão a ser vendidas “praticamente ao dobro” do preço do ano transato.
“Neste momento, nesta última fase das variedades de verão, com o fenómeno da covid-19 a procura aumentou e – como a produção não é muita, porque foi menor este ano -, isso refletiu-se nos preços, que subiram”, afirmou aquele dirigente, quantificando “na ordem dos 70 cêntimos por quilograma” o valor que os produtores estão a conseguir por quilograma de laranja.
A mesma fonte sublinhou, no entanto, que “ainda não há uma perceção de como pode evoluir o mercado nos tempos mais próximos”, porque “há variáveis que podem influenciar” os preços pagos aos citricultores.
Se, por um lado, “há pouca produção”, os efeitos económicos “nas pessoas e nos consumidores certamente também se hão de refletir”, podendo vir a influenciar a procura e a rever os preços em baixa.
“Mas, até agora, a campanha de verão tem sido boa para o setor”, disse José Oliveira, acrescentando que os cerca de 70 cêntimos por quilograma pagos na atualidade dobram “os 30 e 35 cêntimos que eram pagos o ano passado”.
Por isso, antevê “que não haja dificuldade em escoar a fruta e que o preço se possa manter” até terminar de vender toda a produção da AlgarOrange, que supera um total de 100.000 toneladas anuais, 25% das quais destinadas à exportação, permitindo dar trabalho direto a 500 colaboradores.
José Oliveira acredita que o escoamento poderá ser feito “até ao verão” e lembrou o que aconteceu no ano passado com a variedade ‘valência late’, que “ainda estava nas árvores de alguns produtores em finais novembro”, o que “este ano não vai acontecer”.
“Dentro das contingências e das dificuldades criadas com a pandemia de covid-19, o setor é uma exceção e podemo-nos considerar satisfeitos”, concluiu a mesma fonte.
O diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Pedro Monteiro, também disse à Lusa que “a realidade da pandemia ajudou” a citricultura algarvia, mas mais os grandes produtores, porque os pequenos “vendem essencialmente para o canal Horeca [sigla para hotelaria, restauração e cafés] e em mercados de rua”, que “estiveram encerrados” durante a pandemia, criando “dificuldades” para escoar a sua produção.
Para evitar quebras mais acentuadas, as autoridades incentivaram “a emergência de novos canais de escoamento” e “apelaram a um consumo de proximidade, às cadeias curtas e ao contacto direto entre produtores e consumidores”, mas esta solução “não resolve os problemas todos”, considerou.
Segundo Pedro Monteiro, só com a reabertura dos mercados locais e da hotelaria e restauração, agora iniciada, se conseguirá devolver a normalidade aos pequenos produtores.
“Agora, os grandes produtores estão a vender bem, a campanha correu bem e este ano antecipamos que, se calhar, por volta de agosto, já não haja laranja nas árvores, porque está tudo a ser escoado e os preços praticamente duplicaram relativamente ao ano anterior”, referiu.
A mesma fonte acrescentou ainda que os grandes produtores estão a “funcionar melhor, tanto ao nível do escoamento para as grandes superfícies, como a nível da exportação”, indicador que “no ano passado andou à volta de 15% e, como se está a exportar mais, pode chegar aos 20% este ano”.