Com cerca de 23 anos de idade, M. A. Silva Nogueira, nome pelo qual ficará conhecido enquanto fotógrafo de estúdio, e o seu irmão mais novo, Joaquim da Silva Nogueira, vão iniciar-se na fotografia na Travessa dos Sete Cantos, em Santarém, e abrir ateliersnoutras cidades, tais como Nazaré, Caldas da Rainha e Faro, no Largo da Conceição, n.º 6. Estes estúdios com maior atividade nas épocas estivais, também permitem que, sobretudo no Algarve, os dois irmãos sejam fotógrafos excursionistas, deslocando-se sazonalmente por curtos períodos a Lagos, Vila Nova de Portimão, Silves, Loulé, Tavira, Olhão e Vila Real de St. António para realizar o seu trabalho fotográfico, instalando-se, com estúdios improvisados, em pequenos hotéis, quartéis e outros espaços arrendados para o efeito.
Nos vários anúncios que faz publicar nos jornais da época, destaca a utilização de máquinas que pertenceram ao famoso fotógrafo da Golegã, Carlos Relvas, e no verso dos cartões de visita, imprime a distinção de ser fotógrafo de “Suas Majestades”.
Num interessante artigo de Francisco Serra publicado na Revista O Occidente, em 1904, podemos claramente perceber o gosto que Silva Nogueira tinha pelo Algarve e a admiração que os algarvios tinham pelo seu trabalho: “Ainda hoje, apesar do seu atelierem Lisboa lhe tomar grande parte do tempo, nas suas curtas visitas áquella província, onde é sempre anciosamente esperado, se vê quanto o estimam e apreciam. E por tal forma o fazem, e tão radicado o seu nome está nesta província, que nem o Algarve o esquece, nem o habilíssimo artista esquecerá o Algarve. Assim o cremos, porque nem outra coisa é de esperar dos que, como elle sabem ser gratos”, lê-se no artigo. É igualmente conhecida a amizade existente entre ele e José Maria dos Santos, o proprietário da Tipografia Burocrática de Tavira.
Sabemos que Manuel António da Silva Nogueira e o seu irmão Joaquim António da Silva Nogueira se instalam em Faro, a partir de 1893. Em 27 de Abril desse ano, no Jornal de Anúncios (Tavira) de José Maria dos Santos, anuncia que será visita recorrente por longos anos no Algarve, incluindo a cidade de Tavira, onde abre uma sucursal do seu atelier denominado Sociedade Photographica no Quintal do Theatro (antigo Teatro Tavirense). Naquele periódico anuncia que se executam “todos os trabalhos por mais difficeis que sejam e em todos os formatos desde miniatura a natural, por preços relativamente baratos”.
Ao percorrermos os anúncios que vai publicando ao longo dos anos, percebemos a verdadeira ascensão do seu negócio fotográfico. Em 1895, M. A. Silva Nogueira, já se denominando “conhecido photographo de Santarém”, anuncia mais uma excursão artística pelo Algarve, iniciando-se por Vila Real de Santo António. “Apresentará as maiores novidades e difficuldades dest’ arte com as quaes grande parte dos seus collegas não poderão competir”.
Explica nos anúncios que “Os trabalhos com que for honrado irá concluí-los ao seu atelier de Santarém enviando-os pelo correio”.
Nos jornais destaca os “retratos a Crayon”, dizendo ser o artista que mais se tem salientado no género e garantindo a mais completa semelhança.”.Em Abril de 1900, José Maria dos Santos, o editor do Jornal de Anúncios, publica uma notícia na qual nos elucida sobre o seu auxílio a este fotógrafo, tornado entretanto seu amigo, no modo de proceder itinerante:
“As famílias que desejarem utilizar-se dos seus trabalhos photographicos, podem fazer a competente indicação no nosso estabelecimento, na Praça N° 10, afim de lhe fazermos o competente aviso da chegada e local que nos encarregamos de lhe arranjar”. Na semana seguinte, uma segunda notícia refere a grande afluência registada: “Apraz nos saber isto, porque assim a nossa elite lhe provará, que não tem tido razão, em ter operado em todas as principais terras do Algarve, menos em Tavira”.
As notícias sobre M. A. Silva Nogueira continuam na primeira semana de Maio, desta vez sobre fotografias sobre vistas da cidade: “(…) Em consequência do mau tempo, não operou numas vistas que desejava tirar de diferentes pontos da cidade, e por isso volta domingo a ver se consegue os seus desejos.” Tudo leva a crer que os postais com vistas de Tavira vendidos posteriormente na Tabacaria Santos e anunciados no próprio jornal de José Maria dos Santos, serão da sua autoria.
Uma foto de republicanos em Loulé, em 1910
No periódico O Povo Algarvio, de junho de 1910, um artigo descreve o momento que sucedeu à brilhante actuação em tribunal do prestigiado advogado Alexandre Braga (1871-1921), na defesa do seu correlegionário, Paulo Madeira, então diretor daquele jornal, acusado de se ter envolvido numa quezília com um sacerdote. Informa o artigo que: “Terminada a improvisada oração seguiu S. Ex.ª sempre acompanhado pela multidão para o atelier photographico do nosso amigo Silva Nogueira, que lhe tirou uma photographia em grupo com alguns correligionários d’aqui.”
Esta fotografia, datada de 6 de junho de 1910, para além de ilustrar a vinda do ilustre causídico a Loulé, constitui um admirável documento sobre as figuras proeminentes da causa republicana em Loulé. De notar que no cartão que suporta a fotografia surge o nome Joaquim Nogueira, o que nos leva a considerar não poder ter sido o seu irmão, Manuel António da Silva Nogueira, a fotografar.
Em 1906, venceu o 5.º Prémio com o retrato de uma “montanheira dos arredores de Loulé”, promovido pela Ilustração Portuguesa. É muito provável que Joaquim Nogueira se tenha mantido mais tempo no Algrave que o seu irmão, embora não tenha encontrado evidências consistentes.
Da união de Manuel António da Silva Nogueira com Maria da Piedade Relvas, nasceu em 1892, no dia 2 de janeiro, Joaquim da Silva Nogueira, vindo a falecer em Lisboa, no dia 25 de março de 1959. Casou primeiro com Severina Quintãs da Silva Nogueira e dois anos antes, em 1957, com Maria Helena Bastos de Jesus.
No seu longo percurso profissional de cerca de 50 anos, torna-se o fotógrafo preferido das vedetas de teatro e cinema e é proprietário desde 1920 da Fotografia Brasil, situada na rua da Escola Politécnica, número 14, em Lisboa. Este importante fotógrafo é muitas vezes confundido com o seu tio e padrinho, na medida em que tem o mesmo nome, com o seu pai, pela igualdade dos dois apelidos e, por último, pela comum atividade artística e profissional, que todos apaixonadamente desenvolveram.
Entre 1928 e 1935 foi colaborador assíduo com retratos de artistas do semanário O Notícias Ilustrado. Foi igualmente colaborador artístico da revista Teatro Magazine, Ilustração Portuguesa, ABC e De Teatro, Revista de Teatro e Música, nos anos 20 e 30.
São conhecidas os retratos que fez de Oliveira Salazar, tendo um deles lugar de culto nas salas de aulas da escolas primárias do país, bem como as célebres fotografias de estúdio que fez da fadista Amália Rodrigues e da cantora silvense Corina Freira.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de novembro)