Das cem pessoas que já se inscreveram na Câmara de Olhão para terem acesso gratuito a consultas de oftalmologia, as primeiras 16 foram atendidas no Centro de Saúde de Olhão, na passada segunda-feira, naquele que é o primeiro dia de consultas do projecto “Cuidar”, disse ao POSTAL o presidente da autarquia António Pina.
“Nesta fase estão a fazer-se as primeiras consultas e o diagnóstico diferenciado dos doentes, identificando, nomeadamente, aqueles que necessitam de intervenções cirúrgicas”, refere o autarca que pôs em marcha o projecto “Cuidar” em parceria com a Câmara de Vila Real de Santo António, a que preside o autarca Luís Gomes.
Cinquenta mil euros de cirurgias
Ao POSTAL o presidente da câmara olhanense adiantou que “contratámos um pacote de intervenções cirúrgicas que pode ir até aos 50 mil euros” e, sem rodeios, António Pina esclarece que “o hospital contratado para realizar as cirurgias é o Hospital Particular do Algarve, em Faro junto a Gambelas, por ter sido aquele que melhor preço apresentou das quatro instituições que integraram a consulta pública que fizemos sobre esta matéria”.
O Hospital Central do Algarve, acrescenta António Pina, “foi uma das instituições consultadas para dar preços neste pacote de cirurgias e nem sequer respondeu”.
A verdade é que a ausência de resposta do Centro Hospitalar do Algarve não espanta, porque se tivesse capacidade de responder às necessidades de consultas e cirurgias na área de oftalmologia, não seriam as câmaras a terem de encontrar respostas para as necessidades urgentes dos seus munícipes, que têm direito constitucional de acesso à saúde através do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, pois, a serem consultados e operados nos hospitais públicos da região.
Como referiu ao POSTAL o Administrador do CHA, Pedro Nunes, “a consulta não foi dirigida ao CHA directamente, se fosse teria respondido à mesma, mas sempre a decliná-la, uma vez que, não seria compreensível que um utente de Vila Real ou de Olhão com menos tempo de espera do que outro de outro concelho pudesse passar à frente deste último por estar abrangido por um acordo entre o CHA e a autarquia, a que acresce o facto de não ter o CHA capacidade actual para responder à sua lista quanto mais contratar cirurgias adicionais, ainda mais pagas pelo erário público ainda que oriundo dos cofres das autarquias”.
Duas Câmaras avançam na substituição do estado
O Estado é incapaz de responder às necessidades de consultas e cirurgias de oftalmologia no Algarve, este é um facto.
Em substituição daquele que é um dever do Estado, leia-se Administração Central, as autarquias de Olhão e Vila Real de Santo António assumem as rédeas da situação e respondem às necessidades das suas populações e fazem-no, sem sair do Algarve, sem sair do país e consultando e operando os doentes no Algarve.
No caso de Olhão, através de um contrato de cirurgias de 50 mil euros, consegue a autarquia aquilo que o Estado falha em conseguir, evitar a cegueira dos olhanenses afectados por patologias na área da oftalmologia.
São 50 mil euros para evitar a cegueira e isto, diz tudo.
António Pina é peremptório, “não há a mínima resposta do SNS, as pessoas que atendemos neste projecto não têm 70 ou 80 euros para ter uma primeira consulta no privado e muito menos para pagarem a cirurgia se dela tiverem falta”, pelo que lhes resta cegar lentamente na lista de espera do SNS.
Entretanto, a porta continua aberta a quem necessitar de consultas de oftalmologia, a Câmara de Olhão mantém abertas as inscrições para o projecto “Cuidar”, porque se não faz o Estado há quem ainda dê a mão a quem realmente precisa.
A situação da oftalmologia na região
Ao POSTAL o administrador do CHA, Pedro Nunes, esclareceu que neste momento “a situação da oftalmologia nos hospitais algarvios é de grande insuficiência na resposta”.
“Quando aqui cheguei a situação já era muito difícil por falta de médicos e entretanto agudizou-se”, devido a reformas e saídas de especialistas, “apesar do grande esforço feito para a captação de novos médicos para esta área”, diz.
“Temos neste momento sete médicos no total e começamos a ter oftalmologia de qualidade”, refere Pedro Nunes, que destaca “os elevados critérios actuais de selecção dos profissionais para os hospitais algarvios”.
O responsável do CHA admite que “seriam necessários pelo menos 30 especialistas de oftalmologia para responder às necessidades da região” e que o CHA “tem autorização para contratar quadros nesta especialidade”, avançando que, dentro em breve, chegarão à instituição mais dois médicos oftalmologistas a tempo inteiro, que serão reforçados por um terceiro a meio tempo”.
A possibilidade de poderem ser operados no privado através do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia, que garante aos utentes acesso ao privado a custas do Estado quando hajam esperas superiores a determinado tempo em lista de espera é entretanto a única resposta que o SNS na região consegue dar a quem espera e desespera por assistência num Algarve que não parece ser capaz de atrair oftalmologistas para trabalhar no serviço público.