Leonel M. acabara de levar um soco na cara. Tentou recompor-se recuando um pouco, mas sem sorte, já que três homens foram na sua direção e bateram-lhe novamente no rosto. Ao cair no chão, foi pontapeado nas costas com violência.
A seu lado, dois dos seus colegas da PSP que tinham estado com ele na festa de aniversário também tombavam no passeio. No meio da confusão, o agente da esquadra de Alfragide conseguiu perceber que um dos agressores que o esmurrara era um segurança da discoteca de onde tinham acabado de sair. “Era musculado, usava roupa escura, tinha uma gabardina e parecia conhecer os [outros] agressores”, relatou aos inspetores da PJ horas depois.
Há uma imagem dessa agressão sob investigação e é um dos episódios relatado em dois documentos a que o Expresso teve acesso: a promoção de 244 páginas do Ministério Público e o despacho de 47 páginas do juiz Carlos Alexandre sobre a noite que custou a vida ao agente Fábio Guerra.
A cumplicidade entre alguns seguranças da Mome e os fuzileiros Cláudio Coimbra, Vadym Hrynko e o civil Clóvis Abreu — o trio que na madrugada de 19 de março “feriu gravemente” quatro agentes à civil, levando à morte de Fábio Guerra na sequência das pancadas — não passou despercebida a quem assistiu à contenda, que durou apenas dois minutos.
No fim, um desses seguranças, de “roupa escura, idêntica aos demais seguranças que estavam no local, de gabardina, dirigiu-se aos três, levantou as mãos no ar, em jeito de vitória, e deu um abraço aos agressores”, conta A., que estivera também na discoteca.
A informação é corroborada por outra testemunha, que observou o mesmo segurança “a festejar a cena de pancadaria” com os suspeitos.
As câmaras de CCTV do clube noturno mostram um filme que segue o mesmo guião: antes da confusão à porta, os seguranças demonstram um “relacionamento próximo” com os fuzileiros e segundos depois não se mexeram para impedir os sucessivos pontapés na cabeça dos três militares contra o homem que socara Cláudio.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL
Advogado de fuzileiro queixa-se de “sérios e inesperados obstáculos” no caso e critica juiz
Segundo o Expresso, “advogados apresentaram o recurso à medida de prisão preventiva aplicada pelo juiz Carlos Alexandre, que ‘fez perguntas e avançou respostas em tom intimidatório’ no primeiro interrogatório judicial ao fuzileiro. Dois fuzileiros estão detidos preventivamente no caso. Um terceiro suspeito das agressões encontra-se a monte”.
A equipa de defesa de Cláudio Coimbra, um dos dois fuzileiros indiciados pelo Ministério Público pela morte do agente da PSP Fábio Guerra, garante ao Expresso que após dar entrada do recurso para a alteração da medida de coação do fuzileiro, que se encontra em prisão preventiva no presídio de Tomar, está a deparar-se com “sérios e inesperados obstáculos”, no sentido de “apresentar o que realmente sucedeu” na madrugada de 19 de março em frente à discoteca Mome, em Lisboa, acrescentando que se tratam de “factos que se encontram devidamente documentados”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL