Entre amigos mas para milhões de portugueses, António Costa admitiu erros na gestão da pandemia, mas defende que nem sempre teve a informação para fazer diferente e em que assumiu que a situação atual é de extrema gravidade. “Claramente as coisas estão a correr muito mal”, disse. Mas mais, o pior não está a passar: “Não vale a pena criarmos a ilusão. Vamos continuar com o pior momento ainda durante semanas“, disse no programa Circulatura do Quadrado, na TVI.
Foram várias as qualificações para descrever a situação atual: é o “momento pior”, é um “momento duríssimo”, de “tensão”. E como tal, a mão não sairá do travão no que às medidas para controlar a pandemia diz respeito. “Não acredito que daqui a 15 dias possamos retomar o ensino presencial. Não estaremos perto de voltar ao ensino presencial”, mas sim de “retomar o ensino online”, disse. Essa é uma medida que está prevista no novo decreto de emergência do Presidente da República.
Na conversa com Pacheco Pereira, Lobo Xavier e Ana Catarina Mendes, António Costa admitiu erros de comunicação: “Houve erros, muitas vezes como transmiti a mensagem”. E no conteúdo das medidas? À pergunta de Pacheco Pereira, Costa admitiu que o problema é que nem sempre tinha toda a informação para decidir diferente, sobretudo não havia ainda conhecimento da existência da variante inglesa. A começar pelo Natal: “Se tivéssemos conhecido a tempo a variante inglesa, as medidas no Natal tinham sido diferentes”, disse.
Ao longo da conversa, António Costa relevou o argumento baseado na nova variante. Disse que poderíamos estar a assistir à primeira vaga da doença que vai de “oeste para leste”, o que faz com que Portugal e o Reino Unido estejam agora pior do que os países mais para leste da Europa.
A nova variante veio baralhar as contas. Disse Costa que era evidente que os casos iriam subir, como disse antes da tomada das medidas, mas que a variante inglesa veio complexificar a situação. Estamos com este nível de contágio porque há uma “confluência entre variante inglesa e medidas do Natal e Ano Novo”. A nova variante “precipitou e agravou as consequências”, reforçou.
Perante as dificuldades que se avizinham, António Costa diz que não irá regatear esforços para tentar minimizar os efeitos, mas que não é certo que se consiga ajuda internacional. O primeiro-ministro revelou que Angela Merkel ofereceu ajuda a Portugal, mas que essa ajuda seria sobretudo na cedência de ventiladores, dos quais Portugal não precisa neste momento. Mas diz que continuam conversas, incluindo a presença de uma equipa alemã por cá para fazer a avaliação de necessidades. “Essa ideia de que há um estrangeiro para onde é possível enviar doentes… é preciso alguma cautela”.
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Com o cenário negro pela frente, Costa não poupa nos adjetivos: “Não está tudo bem, está tudo péssimo. Quando temos o número de mortes, de pessoas internadas, e com a crise económica e social, a questão não é saber se o país está mal”.
A “EXIGÊNCIA” DE MARCELO, AS DEFESAS DO PCP E O REMOQUE AO BLOCO
Se no que à pandemia diz respeito não há motivos para sorrir, em relação às eleições presidenciais os sorrisos e cantos de vitória foram vários. Na conversa na Circulatura do Quadrado, há três pontos a reter: o regozijo pela vitória de Marcelo e a ausência de críticas para dentro do PS; a defesa por duas vezes do PCP e o toque ao Bloco pelos resultados de Marisa Matias.
A começar pelo primeiro. Disse Costa que o momento de “pandemia e de gravíssima crise económica impõe mais exigência a todos nos” e que ao nível da exigência do Presidente da República não espera menos do que foi o anterior mandato. “Espero que o segundo mandato seja igual ao primeiro”, disse. Até porque, reforçou, houve um “voto de confiança na continuidade” de Marcelo Rebelo de Sousa que “nunca deixou de ser exigente com o Governo”.
Já quanto ao resultado de André Ventura, não tem dúvidas que se deveu à “excessiva centralidade que toda a gente tem atribuído ao dr André Ventura”. E mais não disse.
Não querendo alimentar conversas internas no PS – aliás, um dos motivos para defender que o partido não deveria ter candidato presidencial – defendeu que “os socialistas tiveram motivos para festejar”, seja os que votaram em Marcelo, os que votaram em Ana Gomes “porque sim” e os que “votaram em Ana Gomes para que André Ventura não ficasse em segundo”, também “tiveram uma boa vitória”.
Mas há outras leituras a fazer. Apesar de os partidos que apoiam o Governo não irem a votos, Costa não deixou de ler que quem apoiou João Ferreira para “fortalecer” uma candidatura de um partido que apoiou o Governo, também ficou satisfeito, uma vez que “o resultado que o candidato teve foi melhor do que há 5 anos”.
Já quanto ao Bloco de Esquerda houve “claramente uma penalização de Marisa Matias. “Se tem alguma relação com a última postura do BE? Não sei dizer”, mas diz logo de seguida: “Diria que deve ter alguma relação”. Para bom entendedor, frase inteira basta.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso