Os espaços verdes de utilização coletiva nas cidades
As vivências das cidades evoluem com os anos e com as mudanças próprias da sociedade e hoje ninguém questiona a utilização de veículos automóveis nas deslocações frequentes entre casa e escola ou na casa-trabalho. No tempo da minha infância, todos tínhamos de caminhar para a escola, sozinhos, e regressar, sendo que depois dos trabalhos de casa, lá tínhamos a nossa rua e o nosso bairro, para brincar livremente com outros iguais. Que nem pássaros no ar, todos interagiam na rua, sem preocupações de segurança.
Hoje, tudo está um pouco mais difícil, temos uma vivência muito maior em casa, ao computador, ao telemóvel, com comunicação via internet e redes sociais, e menos relacionada com o espaço público. No entanto, estes espaços são cruciais para as crianças, estas continuam a necessitar, agora mais do nunca, de correr, de brincar, e viver em espaços ao ar livre. O atual regime legislativo obriga, portanto, e com razão, a prever uma percentagem de terreno para cedências em loteamentos para espaços verdes de utilização coletiva. Esta área cedida em razão da sua localização deverá ser a resposta a uma necessidade social que implica manutenção, boa localização e enquadramento adequado. Estes espaços são normalmente de domínio público municipal, os quais, face à grande dinâmica de loteamentos, provocou alguma dispersão pelo território. Assim, a manutenção e a gestão é difícil e dispersa, mas será fácil de perceber que onde existirem pessoas a viver estes são necessários.
Os parques infantis e as crianças
Os parques infantis são espaços de excelência de qualquer criança. No entanto, o vandalismo e o tempo têm transformado alguns destes espaços, em áreas mais desprotegidas e desoladoras. Estas áreas de grande valor educativo e recreativo são exigentes e nem sempre as autarquias conseguem dar resposta ao número elevado de substituições de equipamentos infantis. Uma alternativa possível seria também a contratualização da sua manutenção com um grupo de moradores locais, o que está previsto na legislação, mas em Faro nunca chegou a ser praticado. Outra hipótese, é uma tentativa de racionalização e acabar com alguns dos parques existentes e concentrar os esforços em poucos de maior dimensão, estrategicamente localizados. Esta ideia de planeamento está correta do ponto vista teórico, mas não é fácil, uma vez que estes espaços foram promovidos com esta valência em loteamentos e parece uma desqualificação face às expetativas das pessoas que optaram por aqueles locais para viverem.
Apesar da problemática da gestão, os espaços públicos são evolutivos e devem continuar a servir as necessidades da população, promovendo uma qualidade de vida, que ainda é aquela que torna as nossas crianças mais felizes.
Os equipamentos de Educação e de Desporto
As escolas são também os ambientes onde as crianças passam mais horas, construindo a sua educação, mas também criando laços, numa socialização por vezes saudável, outra vezes não.
A realidade é que numa área tão populosa como a do município de Faro, ainda faltam escolas para o número de alunos que temos no concelho. As escolas sobrelotadas criam dificuldades de diversa ordem, seja de infraestruturas que não existem, como auditórios e bibliotecas em condições, como também em comportamentos pouco recomendáveis, como seja a formação de grupos de bullying. Este flagelo da nossa sociedade denota que algo está mal, sendo a origem a ausência de valores, a falta de compromisso das famílias, a desestruturação de comportamentos e os espaços desadequados. As escolas urbanas estão em grande maioria pouco vigiadas, sendo muito difícil garantir a segurança e controlo, sem meios adequados, nem pessoal especializado.
Será assim de aproveitar a revisão dos planos diretores, ou até alguns dos planos urbanísticos em curso, para refletir sobre as necessidades escolares, com um enfoque na localização adequada de novos espaços para escolas, assim como espaços desportivos. A oportunidade é ténue mas existe e visa preparar um futuro melhor para as nossas crianças.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de fevereiro)