Fez, no passado dia 12 de junho, 50 anos que, pela primeira vez, foi publicado num jornal do concelho, mais precisamente o extinto jornal Povo Algarvio, um artigo a apelar à construção de uma ponte, a fim de possibilitar o fácil acesso à ilha de Cabanas. Era então a ilha de Cabanas frequentada, essencialmente, por turistas estrangeiros que se instalavam no Hotel da Quinta das Oliveiras.
Não sendo possível tal pretensão, e não sendo tão rápida a chegada à ilha quanto o desejado (os braços do Ti Manel Kinitra, e outros barqueiros de cabelos brancos, não davam para mais), trataram os senhores da Quinta das Oliveiras de açambarcar o melhor espaço do lado norte da ria (local onde hoje está montado o cais de embarque para a praia), aproveitando um excelente areal que na época ali existia. Vedam então esse espaço com um muro de canas e colocaram algumas palhotas no seu interior. Estava assim criada uma praia, de tal forma privada, que ninguém de Cabanas era autorizado a pisar aquela areia.
Não poder pisar a areia num espaço que, até então, era de todos, não era coisa que caísse no goto da malta. Era demasiado humilhante e como tal não poderia ser aceite.
Foi na sequência deste estado de coisas que, de repente, uma noite escura ficou toda iluminada. Adeus praia privada pra nunca mais.
Após longo interregno reivindicativo, nova ofensiva foi lançada (em meados da primeira década deste século) através de uma petição. Tal ofensiva surgiu depois das dragagens que retirou a possibilidade de ir a pé para a praia, aquando da maré vazia. Esta ofensiva, sendo mais consistente do que a anterior, não foi, no entanto, suficiente para abanar as estruturas políticas com poder de decisão.
Atualmente estamos a assistir à maior ofensiva de sempre para que o acesso pedonal venha a ser uma realidade. A enorme procura pela praia de Cabanas a tanto obriga.
O modelo de travessia em curso, jamais dará resposta à altura da procura. Regressar da praia em hora de ponta é um verdadeiro tormento. Como Cabanense, genuíno que sou, confesso que me incomoda ouvir várias pessoas dizerem que não mais põem os pés na nossa praia. Não estão para se sujeitarem a espera tão prolongada, ao sol, e com crianças ao colo.
Para o próximo ano, considerando a significativa construção que está em fase de conclusão, este cenário ir-se-á, seguramente, agravar. Entendo, por isso, que a alternativa terá, forçosamente, de passar pela construção de um acesso pedonal que faça a ligação do final do passadiço da marginal ao passadiço da ilha, beneficiando das cotas elevadas ali existentes, de forma a permitir a navegabilidade das embarcações sem mastro. Só assim será possível reduzir a zeros os longos tempos de espera. Sou por isso, e não só, um acérrimo defensor desta causa, e estou convicto de que nada a poderá travar. Mais tarde ou mais cedo, ela será uma realidade.