O assentamento pré-histórico de Alcalar está situado no Município de Portimão, num território que inclui a zona lagunar do Alvor e que é delimitado a norte pela Serra de Monchique e a sul pela Baía de Lagos. Neste local desenvolveu- se, ao longo do 3.º milénio antes da nossa era, um aglomerado populacional de grandes dimensões (superior a 25 hectares) constituído por uma área habitacional e uma necrópole com vários agrupamentos de túmulos megalíticos e respetivas áreas cerimoniais.
A partir da década de 1980 teve início o Projeto Alcalar, de pesquisa arqueológica programada, visando a produção de conhecimento sobre este assentamento pré-histórico. Na década de 1990, mercê de um acordo de cooperação entre a Secretaria de Estado do Turismo e o então Instituto Português do Património Arquitetónico, foi lançado o Programa «Itinerários Arqueológicos do Alentejo e do Algarve», que constituiu um incentivo para a investigação e valorização dos monumentos megalíticos de Alcalar. A partir de 1997, a operação incidiu mais concretamente no agrupamento oriental da necrópole e incluiu o estudo e a reabilitação do Monumento 7, a construção de um centro de receção de visitantes e a musealização, com arranjo paisagístico, da área visitável, contribuindo para a compreensão deste legado e para a interpretação da paisagem cultural no 3.º milénio antes da nossa era, com uma melhor gestão dos recursos culturais, em prol de um desenvolvimento turístico sustentável.
Com a abertura ao público do Monumento 7 já reabilitado, no ano 2000, a partilha dos resultados obtidos pelo Projeto Alcalar, com palestras e visitas comentadas, edição de artigos divulgativos e científicos, de roteiros e de estudos monográficos e, mais recentemente e em colaboração com o Museu de Portimão, sintetizando o conhecimento produzido na atividade “Um Dia na Pré-História”, consolidou-se o processo de socialização do conhecimento científico.
A continuação do Projeto Alcalar, com co-financiamento de fundos comunitários, permitiu investigar também o Monumento 9, e desvendar a sofisticação da arquitetura pré-histórica dos dois edifícios funerários desse agrupamento. Ficou demonstrado o planeamento arquitetónico do espaço, num projeto que integrou os túmulos e o espaço cerimonial conexo, com uma evidente intervenção na paisagem, destinando o espaço exterior à congregação social e perpetuando a memória destes locais, frequentados ao longo de pelo menos 1500 anos. Ainda que os constrangimentos económicos na área da cultura tenham penalizado o Projeto Alcalar, foi agora possível, passados 20 anos, completar (em 2017) o processo de pesquisa e concluir a valorização do agrupamento oriental da necrópole e da intervenção para a sua requalificação e abertura ao público. Estando em preparação a edição monográfica da investigação do Monumento 9.
Este túmulo, de dimensão reduzida comparativamente ao vizinho Monumento 7 e de cronologia mais recente, é demonstrativo do protagonismo do espaço cerimonial exterior: na construção de um “adro”, uma praceta onde se conservaram restos dos momentos de reunião e de partilha comunitária. A importância do espaço cerimonial aumenta quando comparada com a reduzida dimensão do túmulo de pedra calcária, delimitado por um muro de contenção periférica construído em alvenaria de calcário e arenito amarelo.
Nestes 20 anos, a investigação científica também produziu conhecimento sobre as arquiteturas da área habitacional, a produção dos solos e a evolução na ocupação do território (faseada em cinco grandes períodos, entre o 5.º e o 2.º milénio antes da nossa era), aproximando-nos das práticas sociais. Conhecimento que, numa política de patrimonialização e proteção dos bens culturais, proporcionou os fundamentos para a salvaguarda do assentamento de Alcalar através da ampliação da sua classificação como Monumento Nacional à totalidade dos vestígios e o estabelecimento de uma zona de proteção.
No próximo dia 14 de abril, dia em que os republicanos espanhóis saúdam a República, daremos por concluída a intervenção de terreno no agrupamento oriental da necrópole megalítica de Alcalar iniciada há 20 anos, abrindo ao público o Monumento 9 reabilitado. Abre-se agora uma nova etapa na investigação deste território, procurando dar protagonismo aos recursos abióticos e às novas formas de socializar o conhecimento. Nesta data brindaremos todos com a cerveja “ALCALAR”, na sua versão comercial, resultado de um processo de transferência de conhecimento e inovação: da cooperação entre os investigadores do Projeto Alcalar, com os seus estudos de paleoetnobotânica e de produção de solos, e os artesãos da Quinta dos Avós.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Abril)