“Eu não nasci com isto, o meu cordão umbilical vinha sem isto. Não estava preparada para esta nova realidade, que é a utilização das tecnologias digitais para o ensino à distância”, confidenciou à agência Lusa a professora de matemática Ana João Rodrigues, no final de mais uma aula por videoconferência para os alunos do 7.ºA, do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, de Vila Nova de Gaia.
Após o encerramento das escolas, Ana João Rodrigues que tem a ajuda do filho para gerir os equipamentos informáticos, encontrou na plataforma digital Zoom, o sistema para poder realizar as aulas por videoconferência e “manter um pouco da rotina escolar perdida nos últimos dias”.
“Não sei como seria se não fosse o meu filho, porque o ligar a câmara, o som, é muito complicado para mim. Para eles [alunos], não. A partir daí é facílimo, não há constrangimento nenhum”, sublinhou.
As aulas são ministradas por videoconferência, duas vezes por semana, às segundas e sextas-feiras, pelas 10:00, mas vão ser interrompidas para o período de férias da Páscoa.
Para a docente, embora as disciplinas sejam importantes, “o contacto com os alunos, a troca de afetos, o carinho e o convívio, são muito mais importantes, para manter a rotina que todos perderam e que faz muita falta”.
“O contacto pessoal é tudo e para uma professora que gosta de o ser, ó meu Deus, só vemos a ‘canalha’ à frente”, referiu visivelmente emocionada.
Segundo Ana João Rodrigues, “infelizmente há alunos que têm dificuldades em ligar-se, uns por falta de computadores, outros por constrangimentos nas ligações”.
“Está a ser feito um esforço e um trabalho extraordinário pelos diretores de turma, no sentido de conseguirem ajudar os alunos que têm maiores dificuldades em ligarem-se às aulas à distância”, destacou.
A dificuldade em gerir as novas tecnologias nas aulas à distância, é também partilhada pela professora de português Graça Silvestre, “arrastada para este desafio” pela colega Ana José Rodrigues.
“Sou muito tradicional e para mim é um desafio completamente novo. Só aceitei porque veio da professora Ana, porque, senão, nunca teria aceitado”, disse à Lusa a docente de português, acrescentando que gosta muito do que faz, “mas apenas dentro da sala de aula”.
Para Graça Silvestre, a alternativa encontrada para ultrapassar a suspensão das atividades didáticas presenciais, “é apenas feita por amor à camisola”.
“Não fazia a mínima ideia de semelhante aplicação [informática] e tudo isto é novo para mim. No entanto é bom lembrar que os professores que estão em casa continuam a trabalhar, pois fazem o planeamento de avaliações, fichas e testes”, sublinhou.
Para os alunos, as aulas à distância são uma experiência nova, uma forma completamente diferente do que estão habituados.
“Dá para matar saudades das professoras e ao mesmo tempo continuarmos a aprender como se fosse uma sala de aula normal, não é o ambiente habitual, mas é quase a mesma coisa”, referiu Francisca Ferreira, uma das alunas.
O confinamento obrigatório em casa devido à pandemia da covid-19, é para alunos e professores, um processo “difícil, mas compreensível, que provoca saudades da escola”.
“Nunca pensei em dizer isto, mas estou com saudades da escola. Queria mil vezes estar na escola do que aqui em casa”, concluiu a jovem aluna.
De acordo com ambas as docentes, apesar do fecho das escolas, as avaliações não estão comprometidas, assegurando que “as mesmas são feitas de forma contínua”.
(João Pedro Correia)