A Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária (ANSR) vai desenvolver nos próximos dois anos um sistema de previsão de risco e alertas de acidentes para os diferentes troços das estradas portuguesas. O projeto dá pelo nome de Sistema de Vigilância das Alterações da Sinistralidade Rodoviária (SiVig) e pretende atuar como uma das principais ferramentas desenvolvidas pelo futuro Observatório da Segurança Rodoviária, que poderá ser estreada depois do Verão, enquanto plataforma baseada na Internet que disponibiliza informação a quem circula nas estradas.
“Temos como objetivo desenvolver o SiVig em dois anos, mas é algo ainda dependente dos diferentes trâmites burocráticos e da cooperação com várias entidades”, informa Ana Tomaz, vice-presidente da ANSR, à margem da conferência Previsão e Alerta da Sinistralidade: O contributo da Inteligência Artificial. que se realizou esta quinta-feira.
Além do SiVig, a ANSR já levou a cabo vários projetos no âmbito da implementação do futuro Observatório da Sinistralidade Rodoviária. Todas estas iniciativas tiveram como propósito melhorar a recolha de dados nas estradas – em especial dos locais que registam acidentes, ou “quase acidentes”, que podem ser aparatosos, mas não chega a produzir danos.
Nos últimos dois anos, os técnicos da ANSR têm vindo a trabalhar com a GNR e entidades concessionárias ou gestoras das autoestradas em vários projetos piloto que levaram à recolha de dados de incidentes por drone, desenvolvimento de apps que facilitam o tratamento de dados e o desenvolvimento de ferramentas que permitem apurar o estado em que se encontram as diferentes vias.
Toda esta informação poderá ser melhorada futuramente: um estudo encomendado pela ANSR à Pahl Consulting admite que é possível garantir maior detalhe e precisão na análise e nas previsões de incidentes se se passar a integrar a informação proveniente de hospitais, bombeiros, INEM, ou previsões meteorológicas que ajudam a perceber a gravidade dos incidentes gerados em diferentes locais.
Durante a Conferência não faltou quem lembrasse que a existência de dados é um fator crítico para qualquer sistema de previsões por inteligência artificial. Segundo os especialistas, cerca de 25% dos dados recolhidos pelas diferentes entidades que supervisionam ou intervêm nas estradas não têm a qualidade suficiente para serem introduzidos num modelo de previsões de sinistralidade.
“A partilha dos dados e a cooperação são as chaves de sucesso do SiVig. É um projeto essencial para ajudar a reduzir a sinistralidade, as mortes e os custos que estão associados a estes incidentes”, sublinha Ana Tomaz, em jeito de repto para marcas de automóveis, seguradoras, concessionárias e municípios.
O desenvolvimento do SiVig poderá exigir um investimento de cerca de 600 mil euros comparticipados a 56% pelos fundos comunitários do Programa Compete. Ana Tomaz acredita que o investimento é bastante compensador, uma vez que os acidentes rodoviários custam a cada ano que passa 6,4 mil milhões de euros à economia nacional – o correspondente a 3% do PIB.
Os dados oficiais revelam ainda outro tipo de custos que não podem ser contabilizados em dinheiro: por ano, morrem, em média, 600 pessoas em acidentes de viação. A média anual revela ainda que estes incidentes chegam a causar cerca de 2000 feridos graves anuais.
“Este não é um projeto da ANSR; é um projeto do país, das pessoas e para as pessoas”, acrescenta Ana Tomaz.
A ANSR pretende juntar em torno do SiVig os contributos de concessionárias de autoestradas, polícias, câmaras municipais e marcas de automóveis ou até plataformas de navegação para exponenciar a recolha de dados que ajudam a descrever a realidade de diferentes acidentes e troços. Depois de recolhidos os dados, torna-se possível aplicar os algoritmos que apresentam previsões de risco ou alertas de acidente e apurar alertas ou previsões às diferentes entidades participantes e também à população em geral.
Além do desenvolvimento tecnológico é necessário tempo para que os modelos de previsão e alerta ganhem a robustez necessária à medida que vãp “aprendendo” tendências e padrões e reduzem taxas de erro. “Qualquer sistema preditivo exige três a cinco anos de (tratamento de) dados”, recordou Carlos Lopes, Diretor da Unidade de Prevenção e Segurança Rodoviária na ANSR, durante a Conferência.
Tanto no futuro Observatório como no SiVig, o sucesso está dependente da cedência de dados de entidades externas, que também podem funcionar como beneficiárias diretas da nova ferramenta – mas sem violação da lei em vigor. “Queremos que a informação seja disponibilizada em vários níveis de acesso tendo em conta as regras da privacidade”, conclui Ana Tomaz.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL