Várias motosserras e muita criatividade… Estes são os ingredientes que Nelson Ramos utiliza para criar um presépio diferente. O escultor utiliza árvores mortas no seu trabalho, dando-lhes uma nova vida.
“O meu objetivo é construir um presépio de madeira com as figuras que conhecemos: José, Maria, Menino Jesus, animais e neste momento estou a construir os três Reis Magos”, começa por explicar em entrevista ao POSTAL.
O escultor disse ao nosso jornal que este é o terceiro ano que está em Monchique. “No primeiro ano fiz José, Maria e o Menino Jesus e no ano passado fiz os animais. Este ano estou a criar os Reis Magos e depois só fica a faltar o Anjo, o Pastor e o Cão, que farei em 2020, se tudo correr bem”.
Depois de acabadas as peças ficam a cargo da autarquia, que as expõe no Natal e dá a conhecer o trabalho de Nelson Ramos.
Projeto começou há cinco anos
Nelson Ramos tem 47 anos, é natural de Faro e atualmente vive em Marvão. O gosto por trabalhar a madeira já o acompanha há vários anos.
Nelson Ramos explicou ao POSTAL que “este projeto teve início há cinco anos quando o município de Castelo de Vide me fez o convite. Eu já tinha estas ideias em mente, mas precisava que alguém investisse, de modo a que surgisse ao público”.
“Esse município foi o primeiro a fazer-me a proposta e a partir daí já tenho feito noutros sítios, como é o caso de Monchique ou de Espanha, por exemplo”, confessa.
O escultor utiliza motosserras de vários tamanhos na execução do seu trabalho com a madeira. “Eu faço este trabalho com árvores mortas. Este ano os pinheiros que tenho aqui foram vítimas do grande incêndio de Monchique”, afirma.
“Estas árvores são centenárias, têm muita história e eu arranjei esta forma de lhes dar outra vida. O meu lema é usar árvores mortas, abatidas, doentes ou que, por algum motivo, caíram com as tempestades. O meu objetivo é sempre reutilizar estas árvores”, explica.
O escultor demora cerca de quatro dias a fazer cada figura.
Nelson Ramos recorda que no primeiro presépio que fez “os troncos estavam completamente apodrecidos, o que não deixa de ser um desafio ainda maior. Muitas vezes quero fazer um nariz ou uma mão e a própria madeira não deixa e é isso que é ainda mais desafiante”.
“Se eu escolhesse uma madeira tratada, uma madeira nobre, tudo seria mais fácil, mas assim é um desafio constante porque há sempre surpresas”.
Nelson Ramos já trabalha a madeira há vários anos
Antes deste projeto, o escultor já tinha uma longa carreira a trabalhar com a madeira. “Antes disto eu fazia e ainda faço trabalhos em talho e em madeira, mas com formão e goiva, em que utilizo técnicas que demoram muito mais tempo a esculpir”.
“Durante o meu percurso tive de trabalhar muito para aperfeiçoar várias técnicas. Frequentei uma formação em restauro de Arte Sacra, que também foi muito importante no meu percurso”, afirmou.
A ideia de fazer as esculturas com motosserra surgiu através da internet.
“Vi que existiam colegas estrangeiros que faziam esculturas com a madeira, de forma muito mais rápida e em tamanhos superiores e resolvi experimentar”, recorda.
Nelson Ramos afirma que “em Portugal só existiam duas ou três pessoas a fazê-lo, pelo que tive de aprender sozinho. À medida que vou fazendo a escultura vou ganhando técnica”.
“A partir daí eu já tinha esta ideia em mente e o Município de Castelo de Vide disse-me que queria construir um presépio com 11 figuras até ao
Natal e faltavam só dois meses. Eu tinha motosserras minhas, mas não eram próprias para este tipo de trabalho”, explica.
Nelson Ramos contactou uma marca que “achou o projeto muito interessante, apoiou, emprestou as motosserras e a partir daí não parei mais”.
“Todos os trabalhos deste género são um desafio, já para não falar do perigo que constituem. Descobri algo que gosto imenso de fazer e é muito interessante perceber que o público gosta de ouvir o barulho da motosserra a trabalhar”, realça.
Nelson Ramos é peremptório: “este trabalho é o meu sonho. A primeira entrevista que dei na minha vida foi para este jornal e estou muito orgulhoso por passados tantos anos (perto de 30), estar a ser novamente entrevistado pelo POSTAL”.
“As respostas que dei às perguntas que me fizeram na altura seriam as mesmas que daria hoje. As perguntas e respostas pareciam uma previsão do que estava para vir”, salienta.
Quanto ao futuro, o escultor revela que no próximo ano já tem datas previstas para fazer os presépios com recurso a motosserras em dois municípios distintos.
As minhas expetativas futuras são “continuar a fazer esculturas, pois é aquilo que realmente gosto de fazer.
Esta é a minha paixão e o meu verdadeiro sonho”, afirma.
“Tenho uma família maravilhosa que me apoia e que me acompanha na execução desta arte. Posso confessar que estou verdadeiramente feliz”, conclui.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)