“Que se faça da cultura, da educação e da ciência os grandes pontos de apoio em que o nosso desenvolvimento deve assentar”.
Jorge Sampaio, ex-Presidente da República (1939- 2021)
Os museus são estruturas fundamentais numa correcta política cultural, nacional, regional ou municipal, que promova o desenvolvimento humano e a participação dos cidadãos, a preservação, valorização e educação para o património e dinamize as artes, tal como o são as bibliotecas, arquivos, teatros, centros de ciência, …
Porquê? Porque quando os museus funcionam de acordo com as normas da Lei Quadro dos Museus Portugueses, assegurando as funções obrigatórias inerentes à designação museu, quando têm apoios necessários e suficientes das tutelas, se são respeitados e acarinhados, os resultados aparecem nos planos educativo e económico, na participação e autoestima social.
A autonomia de gestão das instituições culturais, obviamente escrutinada e avaliada nos seus resultados, é uma necessidade. Como se pode esperar meses ou anos para comprar material corrente, ter os edifícios e espólios em risco ou ter de fechar salas ao público por falta de pessoal?
No século XIX, Sebastião Estácio da Veiga, pioneiro da arqueologia portuguesa e autor da “Carta Arqueológica do Algarve” encomendada pelo Rei, antecipou a necessidade de museologia científica e social tentando criar um Museu Regional do Algarve que pudesse mostrar e valorizar a riqueza da sua História e Património. O espólio resultante das escavações realizadas no Algarve permanece há 130 anos nas reservas do Museu Nacional de Arqueologia.
A História do Algarve é insuficientemente conhecida, apesar dos esforços de algumas Instituições, do contributo de investigadores como Viegas Guerreiro, Romero de Magalhães, António Rosa Mendes, Horta Correia, Luís Filipe Oliveira e outros, de vários gestores culturais e jovens investigadores, das acções da Rede de Museus do Algarve. A exposição “Algarve, do Reino à Região” foi um bom exemplo da cooperação e partilha entre museus.
Se não bastassem os problemas da Região, carências em infraestruturas culturais e de unidades de investigação, de produção e criação artísticas, surge-nos a informação da tentativa de fragilização ou mesmo de extinção do Museu do Traje de São Brás de Alportel, tutelado pela Santa Casa da Misericórdia de SBA, em funcionamento há três décadas.
A leitura das notícias sugere razões pouco claras e demasiado frágeis nos seus fundamentos.
O Algarve não necessita de destruição de museus, mas de criar novos e melhorar os existentes.
Avessos a fulanizações em questões de política cultural, desde sempre pugnamos por linhas de defesa e de promoção da riquíssima cultura portuguesa, do património construído, material e imaterial, por medidas de valorização do idioma comum a 300 milhões de cidadãos no mundo. Desejamos a abertura de licenciaturas em Gestão Cultural, como já acontece no País vizinho, para que os recursos culturais sejam geridos por quadros formados, com interdisciplinaridade, participação de instituições, comunidades e especialistas, programas educativos para o desenvolvimento humano, (re)conhecimento da História e Patrimónios diversos.
Emanuel Sancho, director do Museu de São Brás, deu a melhor sequência ao trabalho dos padres José e Afonso Cunha Duarte, que se dedicaram à etnografia algarvia, assegurou e dinamizou um equipamento de referência no interior algarvio. O Museu de São Brás realizou investigação, conservação de espólios, exposições, edições e actividades sociais diversas. Emanuel Sancho criou com outros colegas a Rede de Museus do Algarve, foi um dos dezoito profissionais de cultura do Algarve fundadores da AGECAL. É actualmente Vice-Presidente do MINOM Portugal – Movimento Internacional para Uma Nova Museologia.
O Museu de São Brás, o seu director e colaboradores têm trabalho dedicado, continuado e de qualidade, realizado com os meios disponíveis, merecem reconhecimento e apoio de todos.
A cultura é indissociável da defesa e aprofundamento da democracia, essencial ao desenvolvimento do País.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico