Não é a primeira vez que acontece com medicamentos de dispensa hospitalar (aqueles que os utentes têm de levantar directamente nas farmácias dos hospitais) e desta vez a indisponibilidade afectou um medicamento comercialmente denominado Humira, uma substância química de nome dalimumabe, usada para patologias como a psoríase, doença de Crohn, espondilite anquilosante e do foro reumatológico.
Desde terça-feira da passada semana que o medicamento em causa era dado pela farmácia do Hospital de Faro como indisponível a uma doente que está sujeita a um tratamento prolongado com a substancia activa dalimumabe sob a forma injectável.
A doente em causa, cujo nome se omite por questões de privacidade, contactou por diversas vezes a farmácia do Hospital de Faro, tendo-lhe sido dito que o medicamento estava indisponível “por se encontrar em processo administrativo a sua aquisição”. Ao POSTAL a doente afirmou mesmo que “nem a minha médica que contactei a reportar a situação conseguia ultrapassar a situação”.
Assim para “Maria” – chamemos-lhe assim – a injecção que deveria ter tomado na passada quarta-feira pura e simplesmente não existia. Assustada com a interrupção de um tratamento que tem dado efectivos resultados numa doença crónica que a ‘persegue’ há cerca de 20 anos, Maria não conseguia resposta para a situação em que se encontrava.
POSTAL ajuda a ultrapassar o problema
O POSTAL contactou ontem os serviços doCentro Hospitalar do Algarve (CHA) no sentido de apurar os contornos da situação e às várias questões colocadas, nomeadamente desde quando o dalimumabe estava indisponível, porquê e até quando, os serviços do hospital responderam que “neste momento o Centro Hospitalar do Algarve dispõe do referido medicamento em stock nas unidades de Portimão e Lagos, sendo possível efetuar a requisição do mesmo para a unidade de Faro”.
“Efectivamente registou-se um constrangimento pontual na dispensa momentânea em Faro, a qual está resolvida. A este respeito da aquisição de medicamentos o Centro Hospitalar do Algarve cumpre o estipulado no Despacho nº1571-B72016, o qual estabelece que os medicamentos são adquiridos centralmente através da SPMS, estando os procedimentos de aquisição em curso”, acrescentava a instituição.
Quanto à pergunta sobre quais os efeitos da falta de medicamento nos doentes a ele sujeitos, colocada pelo POSTAL, nem uma linha, e a despeito de casos concretos em que dificilmente seriam mensuráveis os efeitos adversos da interrupção do tratamento, a resposta é fácil: a ausência de seguimento continuado de uma terapêutica de longa duração tem sempre efeitos adversos.
CHA tem o medicamento, mas não é capaz de o fazer chegar a quem dele precisa
Certo é que o medicamento – alegadamente existente e stock no conjunto dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde na região – não estava disponível para quem e onde era necessário.
Uma realidade que se repetiu hoje quando Maria, depois de informada da resposta do CHA ao POSTAL,tentou levantar o medicamento novamente na farmácia do Hospital de Faro, continuava “indisponível”.
Após novo contacto do POSTAL, hoje, a unidade hospitalar prontamente contactou a farmácia e debloqueou a situação, arranjando forma de trazer o medicamento em falta há uma semana para Faro.
“Falha de comunicação entre a Administração e a farmácia” foi a justificação dada ao POSTAL, para a manutenção da situação de indisponibilidade, mesmo após o alerta de ontem do POSTAL.
Maria recebeu então há minutos um contacto do Hospital de Faro a comunicar-lhe que a sua medicação estará disponível pelas 17 horas.
Oito dias depois do que deveria, oito dias depois do hospital saber que fazia falta a um doente em Faro e ter, alegamente, o medicamente em stock em Portimão e Lagos, um dia depois de alertada a instituição hospitalar para a situação pelo POSTAL e só depois de dois contactos do nosso jornal em dias seguidos.
As questões são óbvias: é preciso mais do que a simples necessidade de um doente para que se agilizem todos os meios para a disponibilização de um medicamento? Ainda mais quando, alegadamente, existe em stock no Centro Hospitalar do Algarve? Admitem-se falhas de comunicação e de requisição de medicamentos dentro do mesmo serviço hospitalar, na mesma região, que justifiquem atrasos de oito dias na disponibilização de medicamentos que, uma vez mais alegadamente, existem na região?
E a resposta é igualmente óbvia: não se admite!
O Centro Hospitalar do Algarve (CHA) acrescentou ainda ao POSTAL que “a encomenda de grande volume desta substância deverá chegar ao Algarve em breve” e que o CHA tem o mesmo em stock na região para que possa ser requisitado e utilizado pelos doentes.
São várias e repetidas ao longo de anos as situações de falta de medicamentos nos hospitais regionais para dispensa em exclusivo em ambiente hospitalar aos doentes. Acontecem repetidamente nas áreas de oncologia, tratamento do HIV e noutras patologias como neste caso e ao fim de anos continua a questão: qual é o problema de comunicação?! Seja ele regional – dentro do próprio CHA – o que só o torna mais grave -, seja nacional ou mesmo de solicitação junto de países estrangeiros, nomeadamente dentro da União Europeia.
Razões e justificações não faltarão, elas são simplesmente ininteligíveis quando é de saúde que se trata e só poderão ser compreensíveis quando não exista de todo o medicamento seja onde for ,ou quando não sejam os funcionários envolvidos no processo de resolução destes problemas aqueles a quem o medicamento em causa faz falta.