Manuel Costa, Adélia Fernandes e Maria Odete Fernandes. Os três únicos habitantes “efectivos” da Fornalha, no interior da Serra do Caldeirão, foram surpreendidos este sábado, dia 9 de Julho, com a primeira festa que a localidade recebeu desde que se lembram e pela qual passaram cerca de 600 pessoas para “contrariar a desertificação”.
“Nunca pensei que fizessem uma festa na Fornalha. Há 81 anos que vivo aqui e nunca tinha visto uma festa”, confessa Manuel Costa que, apesar de ter sido emigrante em França durante oito anos, voltou à terra e nunca mais de lá saiu. “Esta é a minha terra e aqui é que me sinto bem. Em mais lado nenhum me sinto melhor do que aqui”, conclui.
Adélia Fernandes tem 81 anos e vive há 54 na Fornalha. Habituada à rotina diária, com os extensos montes verdes que rodeiam o pequeno aglomerado de casas pintadas de branco como única paisagem, diz que “faz falta um bocadinho de animação” e mostrou-se “muito contente” com a companhia que teve durante aquele dia.
“Sinto-me muito sozinha e tenho muito medo de ficar aqui de noite mas não gosto de estar na cidade, gosto mais de estar aqui”, diz Maria Odete Fernandes, irmã de Adélia Fernandes e cunhada de Manuel Costa.
A cerca de 30 quilómetros do centro de Salir, freguesia do concelho de Loulé à qual pertence, a Fornalha recebeu uma festa popular com animação do acordeonista Gonçalo Tardão e do Grupo Etnográfico da Serra do Caldeirão – Cortelha, havendo ainda tempo para um passeio pedestre, para além de comes e bebes, como porco no espeto, grelhados ou açorda serrana.
O objectivo da festa passou por demonstrar que apesar da localidade estar em plena desertificação, “a tendência pode ser contrariada com espírito de iniciativa”. O “sonho antigo” era de David Pereira, que comentou com o cunhado, Márcio Rodrigues, e ambos tomaram a iniciativa totalmente em prol dos habitantes da localidade isolada, cujos dois acessos se fazem por longos caminhos de terra batida. “Quando souberam ficaram hilariantes”, diz David Pereira.
Nascido e criado a três quilómetros da Fornalha, que outrora “chegou a ter 90 habitantes”, David Pereira confessou ter ficado “bastante triste quando soube que as três pessoas não têm um contentor do lixo, e que o mais próximo fica a quatro quilómetros, por exemplo”.
David Pereira admitiu não estar à espera que a festa tomasse tamanha dimensão e deixou em aberto a possibilidade de voltar a promover mais festas em localidades isoladas na zona de Salir.
(Com Ricardo Claro)