A escritora algarvia Lídia Jorge abriu o ciclo “Obra Aberta”: um encontro de pensamento e fazer artístico que atraiu dezenas de admiradores. O universo de leitores da biblioteca com o seu nome é de cerca de 13 mil.
Lídia Jorge manifestou no final do encontro estar contra a exploração petrolífera ao longo da costa algarvia, aceitando o repto do presidente da Câmara Carlos Eduardo da Silva e Sousa, afirmou estar ao lado do interesse da população, considerando que “o Governo tem que olhar para a vontade de uma região inteira”.
A autora de “O Amor em Lobito Bay” mostrou-se disposta a “incorporar qualquer movimento” que a região resolva encetar: “quando há dez anos se falou disto, pensei tratar-se de uma brincadeira. Com alguns amigos publicámos um manifesto, mas creio que ninguém leu. Isto é um contraciclo, uma inquietação muito grande”.
Outras questões políticas, como as que se referem a Angola e Moçambique foram debatidas: “o que se passa em Angola, parece-me, está à beira de rebentar”, salientou, ressalvando que Portugal tem tido um papel muito equilibrado nesta situação.
Sobre Arte e Literatura, disse a autora que este seu mais recente livro de contos, trata da “imperfeição o amor”. Tomando os presentes como um “clã místico”, disse que “os serões literários deveriam ser assim, entre amigos, para nos entendermos, para falarmos uns com os outros”. À pergunta sobre o amor dos portugueses à sua cultura, Lídia Jorge foi peremptória: “Não nos conhecemos nem estimamos e um povo assim está apto a ser colonizado. Estamos sempre a pensar que aquilo que vem de fora tem mais valor e que alguém só presta se for reconhecido além-fronteiras”, sublinhou, acrescentando haver “uma espécie de hiato entre aquele que cria cultura e aquele que consome cultura, temos que ser realistas. A facilidade da expansão da comunicação hoje é imensa, mas oferece também o seu contraditório e a escola e a cultura promovida pelas autarquias desempenham um papel fundamental no caminho que estamos todos a percorrer”.
Próximo encontro será com a escritora Teresa Rita Lopes
As diversas reflexões intelectuais dos convidados de “Obra Aberta”, serão publicadas no final do ciclo. Este primeiro encontro juntou também o encenador Paulo Moreira, a escritora Josefa Lima, o especialista em política internacional Cristiano Cabrita, o fotógrafo Filipe da Palma e ainda o videoartista Luís Nunes Alberto. Nesta sessão, a directora regional da Cultura, Alexandra Gonçalves, enviou uma mensagem a Lídia Jorge, enaltecendo o valor da sua literatura no contexto estrangeiro e a vereadora da Cultura do Município de Albufeira, Marlene Silva, ofereceu à convidada uma brochura com a história da Biblioteca que ostenta o seu nome, destacando que a mesma tem um acervo, no que toca a livros, de cerca de 42 mil volumes e que actualmente possui 12.186 leitores, tendo sido frequentada no ano passado por 16.990 pessoas.
O próximo encontro está marcado para 29 de Julho, às 21 horas e será com a poetisa, dramaturga, contista e, investigadora de Fernando Pessoa e do Modernismo, Teresa Rita Lopes.