Pelo menos 17 países ocidentais já voltaram a abrir as suas embaixadas em Kiev desde que a invasão russa da Ucrânia começou, e isso tem ajudado a que cada vez mais decisores políticos vejam de perto a destruição russa em solo ucraniano.
Ao mesmo tempo que as tropas invasoras foram saindo da capital ucraniana em direção ao sul, o presidente ucraniano ia intensificando os seus convites a líderes estrangeiros. O último convite foi feito a Joe Biden no último domingo: “E acho que ele é o líder dos Estados Unidos, e é por isso que ele deveria vir cá para ver [a destruição causada pela Rússia]”, disse Zelensky em entrevista à CNN.
Por razões de segurança, os Estados Unidos ainda não reabriram a sua embaixada em Kiev: os diplomatas norte-americanos continuam a trabalhar na cidade polaca de Rzeszow, junto à fronteira. Biden ainda não foi à Ucrânia e a Casa Branca diz que essa viagem não será anunciada quando acontecer. Por outro lado, Emmanuel Macron diz que só vai quando puder contribuir com algo “útil”, sendo que está na recta final de umas eleições presidenciais decisivas e isso não deve ajudar.
No entanto, vários outros líderes políticos têm aproveitado o regresso das dinâmicas diplomáticas normais para aceitar os convites de Zelensky. O último foi Pedro Sánchez, primeiro-ministro de Espanha, que chegou esta quinta-feira a Kiev dias depois de prometer a reabertura da embaixada espanhola na capital ucraniana. Ao seu lado foi mais uma líder europeia, a primeira-ministra da Dinamarca.
No total, estes são os países (e organizações) que já voltaram a estar representados na Ucrânia: Áustria, Bélgica, República Checa, União Europeia, França, Itália, Polónia, Eslovénia, Espanha, e Turquia. Praticamente todos os líderes políticos destes países visitaram Kiev nas últimas semanas: as excepções são França, Itália, Turquia (que tem feito esforços para mediar o conflito).
O Governo português anunciou também o regresso da embaixada a Kiev a 11 de abril, mas adiou a concretização para um momento em que existam “condições de segurança”. E António Costa, primeiro-ministro de Portugal, não anunciou ainda intenção de se deslocar à capital ucraniana. O embaixador permanece na Roménia, o site da própria embaixada não é atualizado desde o dia 1 de março.
Depois há o caso da Estónia, que mesmo debaixo de fogo russo nunca chegou a fechar a sua embaixada em Kiev – apesar do seu embaixador ainda não ter, por esta altura, regressado à capital ucraniana.
Além disso, há o Reino Unido: os britânicos ainda não voltaram a abrir a sua representação ucraniana, mas isso não impediu Boris Johnson de chegar a Kiev de surpresa – e com a indumentária de sempre – para ver o que restou dos massacres em Bucha na companhia de Zelensky, dois dias depois de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ter feito exatamente a mesma viagem. A embaixada britânica deverá ser aberta “assim que seja possível”, garantiu o governo de Londres, citando razões de segurança para isso ainda não ter acontecido. “A segurança do nosso staff é sempre o mais importante”, sublinhou um porta-voz de Downing Street.
Lituânia, Eslováquia e Roménia estão no mesmo barco que o Reino Unido: os líderes destes dois estados-membros já visitaram Kiev e têm-se mantido bastante próximos do governo ucraniano, mas ainda não abriram oficialmente os seus serviços diplomáticos (apesar de isso, ao que tudo indica, estar para breve).
“Para os ucranianos, é simbolicamente importante que países estrangeiros estejam com eles a apoiar os militares e a [dar] assistência humanitária, mas também a tentar continuar o trabalho das embaixadas o mais normalmente possível”, garantiu à revista Foreign Policy um diplomata sénior europeu.
No meio de toda esta aproximação a Kiev, mantém-se uma distância: na semana passada, Zelensky rejeitou o pedido do presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, para visitar Kiev. “Todos sabemos os laços próximos de Steinmeier à Rússia. Neste momento ele não é bem-vindo em Kiev. Vamos ver se isso vai mudar no futuro”, disse um diplomata ucraniano ao jornal Bild.
Fora da Europa, o Irão anunciou também que iria voltar a abrir a sua embaixada e serviços consulares na capital da Ucrânia.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL