Faz hoje um mês que faleceu o autor britânico V. S. Naipaul, cuja obra em Portugal tem sido publicada pela Quetzal. Nascido em 1932, na ilha de Trindade, nas Caraíbas, Vidiadhar Surajprasad Naipul, ou mais simplesmente, V.S. Naipaul, vivia em Inglaterra desde 1950. Visitou Portugal por três vezes, a última das quais em 2016, como participante no festival Fólio, em Óbidos.
No sábado, dia 11 de Agosto, Sir Vidiadhar Surajprasad Naipaul, vencedor do Booker em 1971 e do Prémio Nobel de Literatura em 2001, faleceu aos 85 anos, de forma pacífica, acompanhado por entes queridos. Num comunicado de imprensa da Quetzal, o seu diretor editorial Francisco José Viegas deixa a sua nota de condolências: «Morreu Sir V.S. Naipaul. Um grande, grande autor. Um homem livre, de mau feitio, de grande inteligência, que gostava muito de Portugal. Ser seu editor foi uma experiência maravilhosa».
Depois de 20 anos a escrever ficção e não-ficção sobre realidades que só seriam realmente abordadas muito mais tarde, como o exílio, a diáspora, o multiculturalismo, V. S. Naipaul foi um autor polémico, ora acarinhado, ora criticado pelos seus virulentos retratos. É o caso de Mohun Biswas, a personagem central de Uma Casa para Mr. Biswas, um dos mais emblemáticos romances do autor que narra as peripécias de um homem, muitas vezes pouco simpático, que passa um romance inteiro a lutar por poder morrer na sua própria casa, ao mesmo tempo que repele a pouca ajuda que vai recebendo da família da mulher. Mr. Biswas tem algo de pícaro e anti-herói, até na forma como movido pela ânsia do sonho se precipita mais que uma vez a comprar uma casa, desbaratando o muito pouco dinheiro que guarda e tem, e endividando-se perigosamente.
Naipaul escreveu este livro com cerca de 20 anos e conseguiu a proeza de criar uma obra-prima, inspirando-se livremente na história de vida do seu próprio pai, um homem que, tal como Mr. Biswas, se rebelou contra as suas origens e se tornou um jornalista para o Guardian de Trindade. Ora cómico, ora trágico (o romance inicia com o nascimento de Mr. Biswas, uma criança com seis dedos), esta é a história de um homem que passa por sucessivas casas para voltar a ficar sem nada, quase sempre em choque com a mulher e a família desta. Mas esta é também a história de vida de um homem que se revolta com iras extremas (como que nascidas da força do mito) e se recusa a ser acorrentado ou escravizado pelas normas sociais e familiares que lhe são impostas (o eco do colonialismo e do exílio, pois lembre-se que Trindade era uma colónia britânica, e Mr. Biswas um hindu que nunca visitou a Índia).
A Quetzal antecipou entretanto a publicação do romance Uma Vida pela Metade, inicialmente agendado para fevereiro, já para novembro.