Histórias breves, por vezes retratos exemplares da vida moderna, outras remontando a décadas prévias, como Adélia que ainda recorda «o barulho que faziam os cascos dos bois a bater no empedrado» ao puxarem os carros de fruta e legumes que abasteciam a cidade, ou o apaixonado pela encantadora de serpentes nos anos do pós-guerra.
Alguns destes contos (publicados pela Oficina do Livro), uns fugazes, outros mais novelescos, parecem constituir instantâneos captados aqui e ali, e rapidamente esboçados como rascunhos do quotidiano de personagens que se desencontram pela vida. Algumas das narrativas são inclusivamente indicadas na contra-capa do livro como resultado das vivências da autora, como é o caso de «A Mãe da Plaza de Mayo». Perpassa na grande maioria destes dezanove contos um certo desencanto perante a vida, ainda que visto com subtil ironia e humor. Humor esse quase sempre crítico como quando se fala do homem que morreu «levando a mulher alguns meses depois, não fosse ele precisar de alguma coisa e não a ter por perto» (pág. 28).
Humor inclusivamente negro, como no conto «Seguro de Vida», se bem que nunca sabemos se é um humor realmente negro, ou se é apenas a inconveniência de algumas pessoas que não sabem medir aquilo que dizem.
No primeiro conto da colectânea, «Carta a Matilde», o leitor depara-se com uma ambiência fantástica de natureza mais soturna, quando um cleptómano rouba a voz a um cantor.
«O Bígamo» é um dos contos mais bem conseguidos, livremente inspirado numa situação real em que duas mulheres muito parecidas esperavam um homem no consultório.
Instantâneos breves, ocasionalmente fugazes, de pessoas muitas vezes sozinhas e perdidas, em lugares tão díspares como Buenos Aires ou Paris.
A autora nasceu em Buenos Aires, em 28 de Fevereiro de 1948, estudou História e Belas Artes, e a sua obra que varia entre o romance, o conto e a poesia está publicada em Portugal, no Brasil, no Chile e em Espanha.