Um livro da Quetzal em formato de bolso, capa dura, tão fácil de transportar e manusear que pode levar consigo numa das suas caminhadas.
Erling Kagge é um editor norueguês, explorador, montanhista, advogado, coleccionador de arte e pai de três filhas adolescentes. Foi o primeiro ser humano a chegar ao Pólo Norte, ao Pólo Sul e ao pico do Evereste. É ainda autor de livros sobre exploração, filosofia e coleccionismo de arte.
Depois de Silêncio na Era do Ruído, Erling Kagge disserta agora sobre a arte de caminhar, realçando aliás que quando paramos de caminhar paramos de viver, pois caminhar é a base de tudo aquilo que somos e fazemo-lo ainda antes de saber falar: «O Homo Sapiens andou sempre a pé. Desde o tempo em que veio da África Oriental, há mais de setenta mil anos, que a história da nossa espécie tem sido definida pelo bipedismo.» (p. 19)
Neste texto híbrido que reúne ensaio com memórias ou autoficção, e invoca inclusivamente obras e autores que também versam de alguma forma o tema, como o Ulisses de James Joyce, um exemplo de uma obra literária que originou itinerários que se podem percorrer a pé como uma forma de “ler” a história.
Curiosamente o narrador-autor não se debruça sobre a peregrinação como percurso espiritual que o homem percorre a pé para chegar a um lugar sagrado e na viagem encontrar alguma espécie de remissão ou iluminação. Talvez porque para este caminhante há a percepção de que quando se caminha por gosto, sem pressa, ou simplesmente porque tem de chegar a algum sítio, o tempo desacelera, ao contrário do que seria de esperar, e uma viagem de oito horas que podia ser feita em duas torna-se muito mais enriquecedora, como se esse acto de avançar passo a passo ampliasse a realidade: «a vida prolonga-se quando andamos a pé. Caminhar expande o tempo» (p. 31).
Se no livro anterior se procurava mostrar como viver em serenidade e silêncio interior, mesmo imerso no ruído e caos, aqui explana-se a arte de viver sem pressa na era da velocidade, pois caminhar não só traz os usuais benefícios físicos defendidos pelos médicos, mas também permite chegar a um estado próximo da meditação, posto que a caminhada permite a contemplação e colocar o mundo, e os problemas que lhe são inerentes, em perspectiva.