Philip Pullman nasceu em Inglaterra em 1947, foi professor em Oxford e começou a escrever em 1985, alcançando sucesso uma década depois com a trilogia Mundos Paralelos (His Dark Materials), amplamente premiada, traduzida em mais de 40 línguas e com mais de 18 milhões de exemplares vendidos. O primeiro volume da saga foi adaptado ao cinema, com o título «A Bússola Dourada», e com Nicole Kidman num dos principais papéis.
Quinze anos depois de Os Reinos do Norte ter sido publicado em Portugal, o autor regressa ao mundo encantado de Lyra, sob a chancela da Editorial Presença que tem publicado todos os livros na colecção infanto-juvenil Via Láctea e aproveitou, aliás, este novo livro para reeditar, com novas capas, os volumes anteriores: Os Reinos do Norte, A Torre dos Anjos e O Telescópio de Âmbar.
O Livro do Pó aparenta ser um retomar da trilogia, fazendo-nos recuar no tempo, mas o autor revelou em entrevistas que a acção é paralela. A história da trilogia anterior ficou encerrada, mas ainda há muito a dizer sobre a misteriosa matéria do Pó, e faz reviver a sua jovem heroína, Lyra Belacqua, começando por contar como ela em bebé passa a viver em Oxford, para depois avançar 10 anos em relação à conclusão de Mundos Paralelos.
Numa Inglaterra entre o clássico e o fantástico, o herói da história é agora Malcolm, um jovem aplicado, trabalhador, amigo e sensível, que vive com os pais, a quem ajuda com a sua estalagem, A Truta. Extremamente inquisitivo, quase sempre na companhia dos mais velhos, e sempre mantendo as mãos ocupadas, ajudando como pode nas mais variadas tarefas, Malcolm depara-se com uma surpresa. Numa das suas visitas ao priorado, descobre que as freiras têm a seu cargo uma misteriosa criança. Lyra é apenas um bebé mas Malcolm fica rendido aos seus encantos e torna-se no seu maior protector. Mais tarde, o nosso jovem herói é avisado de que haverá uma enorme inundação que colocará a região em perigo.
A obra tem um ritmo que, apesar de pretender acelerar com os desenlaces, parece resultar mais lento. No entanto, o universo fantástico está lá: feiticeiras, demónios, engenhos entre o mecânico e o mágico, deuses do rio, e os fantásticos génios com forma de animal que acompanham os humanos e parecem formar um só com eles, como se representassem a sua alma. É neste pormenor que reside a maior originalidade deste mundo encantado imaginado pelo autor. Estes génios acompanham permanentemente os humanos, muitas vezes pousados no seu ombro, com quem formam um par, como se fossem um só, capazes de adquirir formas de animais que se revelam úteis embora tenham uma forma que é normalmente aquela que preferem adoptar e que revela um pouco da sua verdadeira natureza. Asta, o génio de Malcolm, é muitas vezes uma ave.
Não se pense que esta obra é exclusivamente destinada ao público mais jovem. Dado o rigor na recriação de um ambiente histórico, passagens onde se aludem a actos sexuais que não parecem muito adequados aos mais novos, e por vezes alguma linguagem mais gráfica, o autor revela-se muito mais entretido com o acto de contar uma história à criança em nós que queremos manter desperta e interessada.
Aparentemente o segundo volume já se encontra escrito e o terceiro em vias de ser concluído, pelo que é possível que não tenhamos de aguardar muito tempo pelo desenlace da história.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Fevereiro)