José Maurício treina Karaté desde os 8 anos. O praticante esteve à conversa com o POSTAL e fez-nos viajar até às raízes da modalidade.
“Os meus pais moravam em Luanda, Angola, e o Karaté para o meu pai apareceu, primeiramente, em livros. Pouco tempo depois, o meu pai e os colegas entenderam que deviam abrir uma escola e chamar um mestre (Sensei Ramos) para ir para lá treinar com eles e ensinar-lhes exatamente aquilo que eles viam nos livros e que não conseguiam aprender, pois um livro não mostra o movimento”, começou por explicar ao nosso jornal.
José Maurício recorda que, passado pouco tempo, “abriram o Centro Angolano de Karaté (CAK). O grupo era formado pelo meu pai (José Correia), pelo Sensei Ramos, Manecas, Rui Arrobas e Raposo”.
“Depois, a partir daí o meu pai focou-se, para além da vida profissional, no Karaté e começaram a treinar e, mais tarde, a dar aulas, no entanto, quando se deu a revolução, tiveram que abandonar o país”, acrescenta.
“O meu pai é natural de Peso da Régua e a minha mãe de Tavira. Ao regressarem de África, os meus pais decidiram fixar-se no Algarve, uma vez que o clima acaba por ser muito idêntico ao de África”, recorda.
José Maurício começou a dar os primeiros passos no Karaté no Algarve
José Maurício recorda com alegria que “foi ao estabelecerem-se no Algarve que o pai lhe ensinou a si e à sua irmã aquilo que tinha aprendido. Sem sombra de dúvidas que foi ele que me meteu o bichinho no corpo para ingressar na modalidade”.
“Comecei a treinar aos 8 anos com o meu pai e rapidamente me apaixonei por esta arte marcial, que apresenta um variadíssimo leque de movimentos e técnicas”, reforça.
José Maurício explicou ao POSTAL que existem cinco máximas que caraterizam o Karaté: caráter, sinceridade, etiqueta, esforço e controlo. “Estas máximas devem estar presentes, não só nas artes marciais, mas também na vida quotidiana da pessoa, que ajuda muito na nossa vivência do dia-a-dia, tanto para nós próprios, como para os outros”, defende.
José Maurício é peremptório: “estas máximas têm muito impacto nos adultos, mas também nas crianças, pois a arte marcial permite que elas melhorem a concentração, desenvolvam a flexibilidade e coordenação motora, a postura, entre outros aspetos”.
Karaté ajuda no desenvolvimento físico e psicológico dos praticantes
“É lógico que acabam por desenvolver-se muitos aspetos motores e cognitivos como, por exemplo, a lateralidade porque acabamos por ter de nos desenvencilhar para a frente, para trás, para a direita, esquerda, trabalhando os dois lados do corpo de igual forma”, salienta.
O praticante reforça que existem outros aspetos fundamentais: “A disciplina, o próprio sentimento de companheirismo, a paciência e o condicionamento físico acaba por ser mais saudável num praticante de artes marciais ou de desporto de combate”.
O karateca explicou ao nosso jornal que existem quatro estilos de Karaté reconhecidos pela Federação Mundial de Karaté: Shotokan-ryu, Shito-ryu, Goju-ryu e Wado-ryu.
Os estilos de Karaté “nasceram na ilha de Okinawa, em três locais distintos. O sensei Funakoshi quando fundou o Karaté moderno, nomeadamente o Shotokan, era natural de Okinawa e treinava nestes três sítios”, referiu.
“Na antiguidade não se dava o nome de Karaté, mas de Okinawa-te, pois “te” significa mãos e Okynawa-te significa- va ‘a mão de Okynawa’. Mais tarde, viram-se obrigados a traduzir os caracteres chineses para japoneses e aí passou a chamar-se Karaté (“kara”-vazio e “te”-mãos) – a arte das mãos vazias.
O que distingue os quatro estilos de Karaté?
“O Goju-Ryu é um estilo mais curto e mais dedicado à força da técnica. O Wado-ryu é um estilo curto também, mas amplo nos ataques e o Shito-ryu é um misto dessas duas, mas mais para o bailado, aproveitando a força para certos movimentos”, realça.
Por sua vez, o Sensei Funakoshi quando fundou o Shotokan “decidiu tentar juntar o máximo de técnicas e posições possíveis que ele achava mais adequadas e formar um estilo próprio, que é um estilo largo, amplo, forte, ampliando o movimento das técnicas”, explicou.
O Karaté apresenta muitos benefícios para a nossa saúde. “São várias as vantagens associadas a esta arte marcial: os praticantes notam uma melhoria da concentração e do equilíbrio nervoso. Depois, existe um desenvolvimento acentuado da flexibilidade e da coordenação motora, aliado a uma melhoria da postura. Para além disso, existe um reforço na autoconfiança e no sentimento de segurança da própria pessoa, juntamente com o desenvolvimento de aspetos cognitivos e a melhoria do condicionamento físico. Existem ainda valores que são fundamentais: o companheirismo, a amizade, não só entre os praticantes, mas também na vida quotidiana”, destaca.
Ao praticar esta arte marcial, “acabamos por ter mais respeito e paciência com o próximo. O Karaté quando bem feito é uma prática para a vida e os ensinamentos não se cingem só à prática desportiva”, conclui.