O jantar conferência organizado pela associação Faro 1540 em data de aniversário trouxe ao Algarve um dos mais conhecidos especialistas ambientais do país no passado fim-de-semana, Joanaz de Melo.
O fundador do GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, que vinha ao Algarve falar sobre a exploração de hidrocarbonetos na região, teve no entanto de alterar a temática central da sua conversa com os convidados.
“O negócio do petróleo é tudo menos claro” e “eu tenho sempre muitas dúvidas quando os negócios não são transparentes” disse o especialista, reconhecendo que não é nada fácil o acesso à informação fundamental sobre a atribuição de licenças de prospecção de hidrocarbonetos, quer se trate das áreas onshore (em terra) ou offshore (no mar). Razão pela qual grande parte da sua intervenção foi dedicada à análise das questões gerais da energia a nível nacional e mundial.
“Não conheço os números e isso impede a realização das contas para descobrir como este negócio [dos hidrocarbonetos] foi realizado e perceber no que é que assenta a sua viabilidade”, disse João Joanaz de Melo.
Às perguntas do POSTAL o especialista ambiental respondeu deixando claro que “mesmo considerando o potencial interesse das empresas petrolíferas em assegurar direitos futuros de exploração petrolífera em jazidas de segunda linha como as do Algarve, não é clara a viabilidade do investimento a realizar”. “Que tipos de apoios e subsídios estarão nos contratos de licença é uma das coisas que importava saber para compreendermos porque é que estas empresas fizeram estes investimentos”, referiu.
Incapaz de definir se a exploração de hidrocarbonetos será mais perigosa do que o atravessamento das águas costeiras ao largo do Algarve por cerca de 50 petroleiros e um número igual de navios de transportes de matérias perigosas diariamente, o académico não deixa de alertar para o acréscimo incontornável de perigosidade para uma região cujo sector económico mais forte é o turismo.
Joanaz de Melo fasta de todo e de forma liminar a necessidade do país de explorar petróleo para assegurar a sua independência energética. “Há formas mais baratas e com menos riscos de o fazer já hoje e com a tecnologia que temos”, afirma, “trata-se de uma escolha política que importava saber de forma absolutamente transparente como foi feita e com base em que pressupostos”, remata.
A iniciativa assinalou o aniversário da Faro 1540 e inscreve-se no quadro das várias conferências / debates desenvolvidos pela associação farense quanto a ‘temas quentes’ da agenda regional.