Investigadores do Centro de Investigação em Biomedicina da Universidade do Algarve (UAlg) descobriram um novo composto químico que pode ser usado para o tratamento do cancro e para combater o envelhecimento.
Segundo disse à agência Lusa Wolfgang Link, coordenador do projecto, o novo composto – cuja função é activar uma proteína que, nas células cancerígenas, está deslocada do seu local de origem – pode ser o primeiro passo para desenvolver um fármaco para tratamento de certos tipos de cancro, em alternativa à quimioterapia clássica, que é mais tóxica e pode causar mais efeitos secundários.
“Nós prevemos que este tipo de tratamento é especialmente eficaz nos cancros em que [a proteína] Foxo está fora da sua localização, como o cancro da mama ou da próstata”, explicou o investigador, sublinhando que foram testados 500 diferentes compostos até se conseguir encontrar um que tem a função de realocar a proteína no núcleo das células.
Bibiana Ferreira, que também participou no projecto, observou que o que esta investigação traz de novo ao que já se sabia “é exactamente a descoberta de um novo composto que actua como um gene supressor de tumor”, gene que, normalmente, numa célula cancerígena, está “sequestrado” no citoplasma.
“Esta droga actua especificamente neste gene e faz com que ele passe para o núcleo, onde pode ter a sua função normal”, referiu à Lusa, acrescentando que o próximo passo é “caracterizar melhor esta molécula a nível celular”, para depois testá-la em laboratório num modelo animal, ou seja, em ratos.
Uma das vantagens da utilização deste tratamento no cancro é que, apesar de também ser químico como a quimioterapia, é mais específico e localizado, actuando apenas na proteína em questão, acrescentou.
“O nosso objectivo é matar as células cancerígenas e livrarmo-nos delas, mas sem danificar as células normais”, referiu, observando que o projecto precisa agora de obter financiamento para poder avançar.
Contudo, Wolfgang Link avisa que ainda podem demorar alguns anos até se conseguir desenvolver um produto final, uma vez que é preciso testar a toxicidade do composto e perceber se não danifica as células do corpo que estão saudáveis.
“A longo prazo, é uma porta que se abre ao tratamento”, salientou à Lusa, lembrando que o projecto envolveu investigadores nacionais e internacionais, da UAlg, em colaboração com a de Milão, em Itália, e a Fundação Medina, em Granada.
Por forma a identificar os agentes capazes de activar as referidas proteínas, Wolfgang Link e a sua equipa testaram um conjunto de compostos químicos, servindo-se de tecnologia de ponta, nomeadamente, um microscópio fluorescente totalmente robotizado.
A descoberta foi divulgada num artigo científico na revista “Plos One”, prevendo-se que venha também a ser publicado, no início do ano, na revista “Nature”.
O Centro de Investigação em Biomedicina da Universidade do Algarve é uma unidade de investigação e desenvolvimento em ciências biomédicas cujos principais objectivos são a formação avançada de recursos humanos, investigação da etiologia da doença e consequente implementação de estratégias de combate à doença ao nível da prevenção, diagnóstico e terapêutica.
O centro integra 42 membros doutorados com actividade científica.