A Barragem de Odelouca e a Mata Nacional da Herdade da Parra são o centro de um projecto de desenvolvimento integrado e sustentável que várias entidades públicas e o grupo hoteleiro Pestana querem desenvolver no interior do Algarve, abrangendo os concelhos de Silves e Monchique, mas pensado para criar um verdadeiro pólo de atracção regional.
O Nova Serra, assim se chama o projecto, pretende criar sinergias entre o sector privado, as autarquias de Silves e Monchique, o Instituto da Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF), a Águas do Algarve e a Agência de Desenvolvimento do Barlavento – que agrega os seis municípios do Oeste algarvio – para valorizar o território do interior do Algarve numa vasta área que compreende ao todo cerca de 50 quilómetros quadrados.
Assinado o protocolo que criou o consórcio de entidades, o projecto que tem um horizonte de implementação de cinco anos dá já os primeiros passos com os autarcas de Silves e Monchique, Rosa Palma e Rui André, a avançarem com estratégias de desenvolvimento dos objectivos do projecto e o grupo Pestana a afinar a estratégia para criar no local uma mais-valia na área da oferta de turismo de natureza naquela área do Algarve.
Estratégia do Grupo Pestana aposta na diversificação da oferta turística e reforço das políticas de responsabilidade social e ambiental da empresa, sem excluir a criação de uma unidade de eco-turismo no futuro
Ao POSTAL Pedro Lopes, administrador do grupo Pestana para a área do Algarve, esclareceu a estratégia do gigante hoteleiro nacional neste projecto que, “no curto e médio prazo, passa por valorizar os activos patrimoniais do grupo naquela zona do Algarve, uma herdade encostada à Mata Nacional da Herdade da Parra (propriedade do Estado gerida pelo ICNF) com cerca de 600 hectares, ao mesmo tempo que se promove a política de responsabilidade social da empresa no quadro da defesa do património natural”.
“À semelhança do projecto que estamos a desenvolver há anos na Madeira, onde também temos unidades hoteleiras, e que passa pelo aproveitamento das levadas e dos percursos de montanha da ilha para criarmos produtos alternativos e complementares à nossa oferta hoteleira base, no Algarve a ideia é a de criação de mais-valias nesta propriedade que temos, nomeadamente na área dos percursos pedestres e da náutica de recreio não motorizada”, refere o responsável.
“Ao mesmo tempo esta intervenção se for criada de forma integrada , articulada e sustentável, permitirá reduzir o perigo de incêndios na área de intervenção e valorizar o território e a economia e cultura locais, respondendo assim à estratégia do grupo no que respeita às políticas de responsabilidade social”, complementa Pedro Lopes.
“Temos parte dos nossos terrenos vedados com criação de javalis, raposas e outras espécies e temos uma frente de linha de água com a barragem que podemos aproveitar para complementar a nossa oferta aos clientes dos hotéis do grupo situados no litoral”, esclarece, sem deixar de admitir que “não afastamos no futuro e com a consolidação do projecto a existência de potencial para a criação de uma unidade de eco-turismo nos nossos terrenos”.
Rosa Palma quer dar novo dinamismo à serra assente no potencial local
“Um dos primeiros passos do projecto passa pela criação de percursos pedestres com início na sede da Quinta Pedagógica de Silves – que funcionará como centro interpretativo – que abranjam a Herdade da Parra e os terrenos do grupo Pestana [incluindo assim território de Silves e Monchique], permitindo aos visitantes conhecer a fauna e flora autóctones e ver de perto animais em estado selvagem como sejam os javalis, as raposas e os coelhos bravos”, refere a autarca de Silves Rosa Palma.
“Além disso queremos criar formas de permitir às pessoas conhecer a gastronomia e produtos locais, bem como a cultura do interior do Algarve, numa oferta que diversifica a oferta de sol & mar típica da região e da qual o concelho de Silves é um exemplo, estendendo-se desde a serra até à costa”, reforça a autarca.
“Estamos também a avançar com a criação em Silves, na Quinta do Camacho, de um Centro Interpretativo do Lince ibérico, onde pretendemos dar a conhecer a espécie e o projecto de reprodução desta espécie em cativeiro no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI)”, salienta a autarca, que avança que “ali vamos disponibilizar ao visitante ampla informação sobre o lince e imagens recolhidas no CNRLI que permitirão às pessoas um conhecimento aprofundado do trabalho de conservação da natureza que se desenvolve no concelho nesta área”.
Para Rosa Palma a aposta passa por dar uma nova dinâmica à serra, permitindo às pessoas usufruir das potencialidades da zona ao mesmo tempo que se combate a desertificação e se fomenta a economia local”.
Fundos europeus na mira do projecto de valorização da serra, segundo Rui André
“A candidatura a fundos europeus no quadro do Portugal 2020 / CRESC Algarve 2020 é um dos meios para dar corpo ao projecto Nova Serra”, disse ao POSTAL Rui André, o autarca de Monchique que em muito tem sabido tirar partido do financiamento europeu e nacional para projectos de desenvolvimento local do seu concelho.
O autarca quer criar um quadro de oferta diferenciada de produtos de turismo de natureza e de turismo cultural que abranja os concelhos de Silves e Monchique e valorize toda a área envolvente da Barragem de Odelouca.
“Temos feito uma aposta de valorização dos produtos e actividades tradicionais de Monchique e da serra que já está a dar frutos e que deve ser consolidada na área de influência da barragem de forma a criar mais-valias para a freguesia de Alferce”, refere o presidente da Câmara.
Por outro lado, diz Rui André, “só com o avanço de projectos desta natureza, sustentáveis e viáveis, integrando diversos parceiros será possível ao concelho ver na realidade concretizadas a totalidade das medidas de compensação previstas no quadro da construção da barragem de Odelouca para o concelho”.
Entre estas medidas está a criação de um projecto conjunto entre a Águas do Algarve, o município de Monchique e o Zoomarine de criação de espécies de peixes endógenas da zona de ribeiras associada à Barragem de Odelouca.
“Já iniciámos o trabalho para dar corpo a esta medida de compensação com um projecto tripartido com o Zoomarine e a Águas do Algarve, que acreditamos levará a médio prazo à reposição da fauna piscícola típica das ribeiras do concelho, algo que queremos que se torne uma realidade”, afirma Rui André.
Mas para o autarca, “a elevada perda de rendimento que os proprietários da zona da barragem sofreram com a sua construção não será por esta via compensada, pelo que terão de haver outras medidas de compensação mais eficazes do ponto de vista da recuperação da geração de riqueza para as populações da zona”.
“A estratégia que estamos a querer adoptar em todas estas frentes e salvaguardando o ambiente e a qualidade da água da barragem vai nesse sentido, tirando o máximo proveito da barragem, de forma a torná-la um pólo de interesse e uma mais-valia económica para Monchique”, remata o autarca.